Mais perto das carnes sintéticas. Problema da fome resolvido?

O problema com o mundo é… nenhum. Nenhunzinho sequer; ou, segundo as sábias palavras do profeta George Carlin, o planeta vai muito bem, obrigado. As pessoas é que estão ferradas. Caminhando pro próximo bilhão de habitantes, arrumar comida para esse pessoal todo é um desafio. E não é só isso! Temos o problema de transporte, já que o artista pode ir até onde o público está, mas comida não tem essa autonomia.

O desafio hoje é ter comida próximo ao local onde será consumida e daqui a alguns anos sairá muito caro produzir este alimento. Carnes, principalmente. Sendo assim, a saída é estudar algum método que se obtenha carne por métodos sintéticos.

A pesquisa para a obtenção de carnes sintéticas data de muito tempo. E quando eu falo muito tempo, eu quero dizer desde cerca de 1995, o que em Ciência é uma enormidade de tempo, mas pouco em termos de pesquisa e desenvolvimento. Este ano em específico foi a data em que o FDA (Food and Drug Administration, a ANVISA dos EUA) aprovou a produção de carne sintética, ou carne in vitro. Maiores detalhes em sua wikipédia favorita.

Eu sempre digo que mesmo um relógio quebrado está certo duas vezes ao dia. Até mesmo a religião Vegan tem estes dias, e eles estão certos ao mencionarem o alto custo de se manter rebanhos e o impacto que eles têm no clima. Só "esquecem" que a invenção da agricultura teve tanto impacto que causou mudanças no clima; não no planeta, óbvio, já que havia cerca de milhares de hominídeos há cerca de 11 mil anos. Ainda assim, este impacto ambiental gerou seleções artificiais de plantas e, posteriormente, de animais. Com mais comida disponível, a população humana aumentou, tendo a necessidade de produzir mais alimentos, até que catástrofes ambientais forçaram essas populações a migrar e caçar (literalmente e metaforicamente) outras formas de alimentos. Descobrimos as maravilhas da carne e o resto é história.

Ainda hoje estamos numa corrida para produzir mais e mais alimentos. Já falei aqui e não preciso repetir que seres humanos são onívoros, a despeito do que o pessoal do PETA tente lhe dizer. Não temos um corpo adaptado para extrair vitaminas e proteínas que só se encontram em animais em outros lugares a não ser em animais e na farmácia da esquina, o tipo de coisa que é recente. Por outro lado, emissões de metano na atmosfera graças à flatulência do gado (não, não estou inventando [1] e [2]) afetam o clima e este é um dos argumentos dos defensores dos animais. Só que isso não significa que a agricultura não acarrete tal impacto também, posto que precisamos de tratores, semeadeiras, colheitadeiras etc, e nenhum desses equipamentos funciona chutando o saco de unicórnios para que eles chorem e possamos usar as lágrimas coo combustível. Trator com motor elétrico é algo tão absurdo que não seremos idiotas em cogitar. Alguém já foi.

Então precisamos alimentar as pessoas e temos pouca carne disponível. Ou não, como é o caso na Índia, mas lá ()assim como nos bailes funk)  vacas são só para reverência e só se você for o tal para meter a mão em uma. Fora isso, nada feito. Vaca é animal sagrado e você que passe fome, seu shudra verruguento. Carne de soja é… na boa, carne de soja é uma bosta. Vocês podem achar que aquilo é lindamente delicioso, mas não é. Bife de soja só parece bife no nome, e é interessante como pessoas que odeiam carne e as acham nojentas comerem coisas que lembram carne. Não conheço um único churrasqueiro que faça bife imitando uma berinjela.

Aliado a isso, temos que por mais que tentemos nos enganar comendo bife de soja e imaginando que é contra-filé mal-passado, pouco adianta, mediante as nossas necessidades nutricionais. Ok, lá vamos para as trezentas pílulas de suplemento alimentar. Não seria mais fácil, então, desenvolver um modo de sintetizar algo semelhante que a carne, que pareça carne, tenha gosto de carne e tenha as características nutricionais de uma carne? Pois é exatamente isso que é a carne in vitro.

Eu já tinha trazido a notícia da pesquisa do dr. Mark Post. Ele é um dos vários cientistas que pesquisam por uma alternativa à nossa maravilhosa picanha. Outro cientista que está pesquisando isso é o dr. Patrick Brown, do Departamento de Bioquímica da Universidade de Stanford. Ele reitera que sua pesquisa não tem nada a ver com PETA, vegans e outras criaturas esquisitas. Sua meta é potencializar a oferta de carne para pessoas que queiram ou necessitem do alimento. Muito de nossa produção (seja ela qual for) é exagerada por causa das perdas no transporte. A chamada "agricultura orgânica" é ineficiente e cara. O pequeno produtor não consegue competir com os grandes produtores, que dispõem de maquinária, adubos, pesticidas etc. Aquele tomatinho vermelhinho do mercado, que vem com etiqueta "orgânico" e custa mais caro, pode não ser tão orgânico assim, já que quem teve horta sabe como aquela porcaria atrai inseto antes mesmo de amadurecer.

Em 2010, o Brasil produziu cerca de 7 milhões de toneladas de carne de gado (dados da FAO). Claro, a maioria foi exportada, e isso quer dizer pouco quando nós aqui importamos feijão preto da China e etanol dos EUA, O problema é do excesso de produção? Não, é o desperdício, ou você acha que Chester é um animal sem pata, sem cabeça e sem órgãos internos?

A carne sintética visa corrigir isso, mas penso que não será suficiente. Primeiro, ainda não a desenvolvemos, pois "carne" não existe em termos biológicos. O que chamamos "carne" é um conjunto de tecidos, seja ele muscular, nervoso etc. Rins não são formados por músculos, assim como o famoso miolo ou os testículos do boi. Como os pesquisadores visam solucionar isso? Não sei. Eles teriam que chegar a um meio termo, mas duvido que tenha a textura e sabor da carne. Talvez seja coisa pros nossos filhos ou mesmo netos, mas nenhuma pesquisa dá frutos de uma hora pra outra, e isso é uma mudança que acarretará impacto na sociedade. Um bacon sintético seria considerado kosher? Se um embrião congelado é ser vivo, um naco de carne sintética também seria? Sendo formada por células, em última análise sim. Vegans implicariam com isso? Talvez não, mas sempre haverá um chato chamando isso de aberração ou que isso nos fará zumbis ou algo maluco nesse sentido. A solução mais imediata seria ineficaz em sua execução: reduzir a população mundial. Ah, mas métodos contraceptivos são proibidos por quase todas as religiões. Assim fica difícil. Como ficará o problema da fome? Ficará por isso mesmo, pois se ter a comida garantisse algo, a África já tinha saído do miserê com as toneladas que a ONU manda pra lá, mas que líderes tribais impedem que chegue até as pessoas. Como foi dito: as pessoas estão ferradas.

Eu até pensaria numa alternativa, mas creio que isso não seria muito bem visto. Pelo contrário! Seria tão mal visto que nem falo abertamente, só dou uma pista:

O mundo não parece que estará muito diferente.


Fonte: The Guardian

12 comentários em “Mais perto das carnes sintéticas. Problema da fome resolvido?

  1. Quando eu vi a notificação deste novo artigo, a primeira coisa que me passou pela cabeça foi Soylent Green, mas você foi mais rápido!!! :mrgreen:

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  2. A referência a Soylent Green foi perfeita.
    Então em breve teremos carne sintética, logo depois virá a comida reciclada, em seguida o Soylent Green…….. :|

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  3. Vi o filme, com o Charlton Heston, a long long time ago.

    E as cenas das ruas cheias de pessoas sendo removidas com algo parecido com um bulldozer e a descoberta que as algas estavam morrendo e da finalidade dos asilos marcaram esse filme na minha infância.
    Ótimo artigo e ótimo filme.

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  4. Lembrei-me agora de um “boom” que o consumo da carne de soja teve no final dos anos 70 aqui no Brasil.

    Basicamente, ela era “carne moída”. Minha mãe precisava acrescentar… carne moída de verdade (segundo as instruções do pacote) para preparar a bagaça e ela tivesse um mínimo gosto de carne.

    Acho que a novidade não durou um mês em nossa casa.

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