Como a TV pode fazer a diferença no Ensino

Eu não gosto de televisão. Nada contra, eu só não aprecio o que é apresentado em maioria. No máximo, eu curto filmes e documentários. Eu ADORO documentários. Vejo de tudo, nem que seja para falar mal depois, frente ao monte de besteiras que são apresentadas (estou olhando para você, Zeitgeist!) Nunca pensei em computadores como ferramentas para aprendizado, apenas. Eu, particularmente, acho que eles mais atrapalham do que ajudam, e isso é devido à mentalidade de alunos e de alguns professores. Como toda ferramenta, o PC pode ter dois usos, e se você acha que ferramentas não inspiram usos errôneos, pergunte ao macaco que descobriu que usar um osso da perna para baixar a porrada nos seus coleguinhas o que ele acha.

Como disse, sempre gostei de documentários, nem que seja aquela tristeza da Disney que acabou espalhando o mito que lemingues se suicidam sem mais nem menos. Antes, a apresentação de documentários era didática demais, chata e mais parecia que um professor daqueles bem chatos invadiu a sua casa. Até que surgiu o magistral Carl Sagan, com sua magnífica série Cosmos. Nela, tio Carl mostra como a Ciência é bonita, poética, mas também perigosa. Nos fez voar na sua espaçonave da imaginação e visitamos mundos até então alienígenas para nós, se me perdoa o trocadilho (se não perdoar, azar o seu).

Em 1996, Carl Sagan foi para o céu e nós ficamos meio que órfãos. Mas suas sementes cresceram e deram frutos: uma nova geração de cientistas que gostam do que fazem e querem compartilhar seus conhecimentos em shows de TV. Entre eles está o dr. Brian Cox, físico formado pela Universidade de Manchester, e que até teve uma banda de rock. Cox é conhecido daqueles que adoram os documentários da BBC. Infelizmente, os documentários da BBC não encontram muito apelo na TV aberta do Brasil, pois ela não fala do tucunaré nem do mico-leão dourado. Brian Cox frequentemente apresenta documentários sobre o Universo e sobre Física, de uma forma que até Richard Feynman aplaudiria; e se você não sabe quem foi Richard Feynman, nem se interessa sobre o que ele fez, ponha-se daqui para fora. Sua presença no Cet.net não será tolerada.

Em entrevista, Brian diz que o diferencial para ele em apresentar os programas foi seu diploma e o PhD. "Houve um período de obtenção celebridades para fazer programas de ciência, mas agora os acadêmicos fazem-nos", diz Cox coberto de razão. Por mais que colocar a Angélica para falar sobre físico-química possa parecer uma boa ideia, ficará patente que ela fala um texto decorado, e não sabe patavinas do que está dizendo. Se bem que eu teria que fazer uma mea culpa, pois assistia ao Telecurso 2º Grau e poderia JURAR que o Mário Lago era químico (pelo menos, ele tinha um guarda-pó. Devia ser isso).

Para Brian Cox, "há uma decisão consciente de transformar os acadêmicos em apresentadores e celebridades", mas isso s´po acontece por lá. Aqui,m o máximo que temos é o Marcelo Gleiser, que tem bons livros mas é um um apresentador tão cativante quanto uma lesma secando ao sol. Nós, de Tuvalu, esperamos ansiosamente que apareça algum apresentador brasileiro (pode ser irlandês, mesmo) que tenha tanta didática como o velho tio Carl. Nem que use a cabeleira do Martyn Poliakoff. Meu cachê é barato, gente.

Hoje, há outros que são famosos por apresentar séries de documentários, como o geólogo Iain Stewart, o físico Jim Al-Khalili, o médico Michael J. Mosley etc. Eu ainda acho que falta um químico para completar o grupo. A probabilidade de me chamar é a mesma do Edir Macedo apresentar programa de umbanda. Creio que preferirão tio Poliakoff, mesmo, e estarão bem representados.

A principal vantagem dos computadores e da internet está., talvez, na capacidade de ver estas produções, sem depender da boa vontade de canais de TV aberta (se bem que os canais por assinatura não são nenhuma maravilha definitiva, também). As pessoas gostam de documentários, mas preferem carnaval e o Big Brother. Me olham atravessado quando questionam porque de eu não ver TV, como se fosse algum ritual obrigatório em suas vidas medíocres, que funcionam à base de novela e do Galvão berrando suas histerias. Eu não me importo, pois fico feliz de saber que o astrofísico Neil deGrasse Tyson nos brindará com uma edição reformulada da série Cosmos.

Realmente, não é preciso muito para nos fazer felizes.


Fonte: The Telegraph

20 comentários em “Como a TV pode fazer a diferença no Ensino

  1. Também acho que falta no Gleiser demonstrar ‘aquele’ fascínio pela Ciência, que se vê em outros bons apresentadores de conteúdo científico…

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  2. É engraçado que a maioria das pessoas pensam que se você simplesmente tiver a ferramenta magicamente as coisas se acertarão!
    No meu tempo de escola (pública) só usei a sala de vídeo quatro ou no máximo cinco vezes e em todas com motivos menos nobres que o aprendizado. a menos que alguém considere que jogar 40 alunos numa sala minuscula e passar “Pateta e Max” ou “Duro de Matar” no meio de uma “aula vaga” seja de grande enriquecimento intelectual!
    E ao chegar em casa a situação não melhorava muito pois de fato infelizmente a maioria dos canais não dão a minima pra documentários (em especial BBC). Por sorte na época e agora ainda (e sinceramente não sei como ela sobrevive!) existe a TV Cultura que pra muitos acaba sendo o único refúgio de uma programação educativa decente.

    Obs- Legal! Não estava sabendo dessa “nova versão” da Cosmos! tomara que seja tão boa quanto a original.

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  3. Já viu a série “Como Nasceu Nosso Planeta”? Ele tem um “sei lá quem” como narrador. E acho que o modelo funciona muito bem.

    Eles separam as informações apresentadas em “grupos” de evidencias, e vão exibindo cada grupo de forma separada, e em cada grupo os especialistas da área participam da reportagem. Depois “resumem” todas as evidencias apresentadas até então, e vão para a próxima evidencia, geralmente com “outros” nomes.

    Acho que fica “menos chato” que uma só pessoa responsável por falar sobre todo ou qualquer assunto.

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      1. @André,

        Só para esclarecer um pouco mais, tem o “filme/documentário” acima e a serie de fato. No caso o comportamento que eu citei é na serie, mas no “filme/documentário” é similar. A separação é mais clara como na serie:

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          1. @Nihil Lemos,

            Normal aqui!

            Mas o André é esperto, se ele tiver afim ele vai achar as duas temporadas no torrent mais próximo. Então tudo bem.

            Eu só queria é um botão de editar. Sou meio tapado e sempre envio o comentário com algum erro tosco.

            Voltando a série! Do gênero, considero a melhor, uma pena que se limitem a assuntos geográficos (por motivos óbvios), porém a metodologia é bem acessível.

            Por exemplo, no episodio America’s Ice Age, eles chegaram a um nível de detalhes absurdo considerando que é um assunto que 99% dos documentário tomam como postulados ou apresentam apenas uma evidencia. Eles falam sobre os grandes lagos, rotação da terra, sobre a como uma era do gelo influenciou na paisagem das planícies, etc, etc. E dão exemplos de cada coisa seguido de um experimento para provar o ponto de vista apresentado.

            Ah e para download talvez seja melhor procurar cada episodio separado: http://en.wikipedia.org/wiki/How_the_Earth_Was_Made

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  4. Pior que a minha patroa me OBRIGA a assistir TV com ela. Eu também não sou de assistir TV. Mas seria uma boa ideia, sim, colocar celebridades para apresentar seriados científicos. Lembro do Morgan Freeman apresentando um documentário sobre buracos-de-minhoca (Não. Não me refiro aos buracos cavados por animais anelídeos). Achei interessante. Isso faz as pessoas se interessarem. Inclusive crianças.

    Sobre a Internet… A vantagem dela sobre a TV cabe somente a quem está querendo aprender algo. Eu aprendi muito mais aqui do que na TV nesses últimos 10 anos. Mas para crianças ela não serve.

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  5. Eu não costumo culpar (pelo menos totalmente) a TV pela falta de programas educativos, documentários e coisas do gênero.

    Os espectadores é que não têm qualquer interesse; eu duvido que ninguém aqui já ouviu, ou mesmo disse, que “a hora de ver TV é pra relaxar, desligar a cabeça”. O povão gosta mesmo é de reality show, mulher pelada e futebol, conhecimento é besteira na mente da maioria. Como as emissoras precisam ganhar dinheiro, elas mostram o que seus clientes querem – e nenhuma delas pagaria uma fortuna para montar uma série pouco lucrativa.

    Eu também já ouvi gente dizer “ah mas se a TV passar um bom programa educativo no horário nobre as pessoas vão se interessar mais bla bla bla”. NÃO VÃO. A TV Cultura é um exemplo. Você conhece alguém que assista TV Cultura, que passa programas educativos grande parte do dia? Nem eu (eu adorava o Datavision, pena que acabou há uns 10 anos). Se a Globo por exemplo passasse a série Cosmos entre o JN e a novela, a audiência da Record teria um pico justamente nesse horário.

    O bom da internet é a disponibilidade e a gratuidade da informação. Se você quiser aprender sobre física quântica, microbiologia ou mesmo geometria moderna, tudo (tá bom, 98%) está lá na hora que você quer – só não necessariamente no idioma que você lê. A TV empurra o que ela quer goela abaixo e se você troca de canal encontra mais e mais lixo até desistir ou pagar uma TV a cabo pra não ter tanta melhoria assim.

    Agora, assim como na TV, quem usa a Internet também ajuda a regular que conteúdo ela tem. No Brasil, por exemplo, quem quer viver com divulgação científica online (acho que o André já reclamou disso por aqui) não tem a menor chance, enquanto as redes sociais crescem exponencialmente.

    E pra encerrar o post looooongo, qual a solução? Incentivar a busca pelo conhecimento no melhor lugar pra isso, nas escolas, para o aluno ver que estudar não serve só praquela prova escrota da semana que vem e sim para ter a chance de “ser alguém na vida”. E claro, alunos sedentos por conhecimento têm a chance de despertar tal sede em seus pais e amigos fora da escola, gerando a vontade de conhecer capaz de fazer os programas educativos e documentários ocuparem o posto de destaque merecido na mídia brasileira.

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    1. @GambitMaia,

      Não precisa ir muito longe, no GizmodoBr por exemplo qualquer post com tom um pouco mais cientifico enche de troll perguntando o que aquilo vai mudar a vida deles, etc.

      De fato o problema é que o publico não se interessa

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  6. O Tyson é o cientista mais engraçado que eu já vi, explica de forma bem humorada e com bastante gesticulação dando ênfase as questões importantes.

    Agora vamos falar a verdade, os documentarios do Michio Kaku são um pé no saco !!

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  7. Eu, infelizmente, ainda não pude ver a série cosmos completa, somente assistia alguns episódios, mas o que eu vi já foi o suficiente para me encantar.
    Seria interessante que as emissoras brasileiras se interessassem em divulgar a ciência através de documentários como “cosmos”, mas creio ser uma realidade longe ainda.

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      1. @André, Tive um professor de biologia num curso pré-vestibular que tinha horror de Globo Repórter. Para satirizar a falta de ensinamento e questionamento público dos temas, ele sempre iniciava as aulas de sexta-feira dizendo “na aula de hoje, veremos plantas que matam e que curam, além de identificar hábitos do dia-a-dia que podem evitar doenças do coração e hipertensão”.

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  8. Não vejo a programação da TV por assinatura tão ruim, mas também não é muito superior a mer** da TV aberta, digo isso por ter gostado do formato de alguns novos programas da Discovery Channel como Grandes Mistérios do Universo com Morgan Freeman e acompanhei alguns documentários da TV Escola, mas creio que os problemas de canais voltados ao conhecimento vêm sempre acompanhados de bobagens como Nostradamus, 2012, alienígenas e etc, sempre aparecer de montes nesses canais. Alternativa mesmo é assistir alguns documentários da TV Cultura, que, aliás, estou acompanhando um sobre a historia da Índia.

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    1. @Vinicius,

      O problema que na TV por assinatura, para cada “Grandes Mistérios do Universo” tem um “MonsterQuest”, um “Alienígenas do Passado”, um “Caçadores de Fantasma”, um “Caçadores de OVNIs”, e por ai.

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  9. Iain Stewart \o/ yes! Adoro seus filmes/documentários e a série Journeys into the Ring of Fire (que encontrei aleatóriamente em 2009 enquanto pesquisava sobre o Japão).

    O History Channel teve uma época que exibia bons documentários, hoje em dia é bastante disperso ._. mas gostei muito da série O Universo (quando era um capítulo por planeta).

    Eu quando pequena aprendi muito assistindo programas da tv Cultura e sei que esse não é o foco nem assunto do artigo, mas queria defender que houve uma época que crianças podiam assistir séries animadas que explicavam sobre o universo (tinha um telejornal, apresentado por um Tigre, um Sapo e sei lá qual era o outro animal, mas partir daqueles episódios fiquei fascinada em saber que o sol era uma bola nem líquida nem gasosa – enquanto que na escola eu entendia que era uma bola sólida).

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