Sendo o segundo maior satélite natural do Sistema Solar (e domínio do Senhor dos Céus) Titã. A imensa sopa orgânica dele, com um imenso oceano de metano e etano, os compostos orgânicos mais simples, nos faz refletir sobre a imensa possibilidade de haver vida lá ou, pelo menos, ter um ponta pé inicial.
Titã é uma imensa sopa pré-biótica e mesmo que não vejamos vida lá agora, nos dá conhecimentos sobre como era o nosso próprio planeta há 3,5 bilhões de anos.
Eu acho que um dos mais maravilhosos experimentos já realizados foi o de Urey-Miller. A ideia que podemos, sim, criar material orgânico mais complexo com substâncias químicas mais simples (eu não falei "substância simples"), de uma forma quase artesanal, usando vidrarias nada OHHHHH e uma descarga elétrica nos fez pensar que, sim, com alguns bilhões de anos podemos produzir vida. Por que não temos em outro planetas? Pelo mesmo motivo que mesmo você tendo farinha de trigo, carne de porco, catchup, ovos, queijo minas, cachaça, soja e um fogareiro a álcool não conseguirá fazer um Medalhão com Arroz à Piamontese (muito gostoso, por sinal). Não basta ter ingredientes; é preciso ter os ingredientes certos, com as condições adequadas.
Toda a busca por vida começa com a água, mas não é só isso. Ter água em Marte não irá garantir que lá tenha vida, pois sílica não fará aparecer um camarão. Ter um imenso lago de metano, também não é garantia, já que a temperatura está muito baixa, já que o ponto de ebulição do metano é de cerca de –162 °C. É meio frio para ter vida, mas chega uma pergunta: por que a vida tem que ser exatamente como a nossa aqui? Resposta: Não tem. O problema que as únicas formas de vida que conhecemos são as que foram criadas na terra. É como estar no continente europeu do século XIII e imaginar como seriam as aves do continente americano. A tendência seria imaginar aves como as que se conhecia. Dificilmente alguém imaginaria um tucano.
Assim, procura-se por algum ponto que conhecemos, como água e oxigênio. Água tem muita em Enceladus e seus gêiseres podem subir a grandes distâncias, podendo ir flutuando (sim, eu sei!) até Titã. O oxigênio poderia ser obtido dessa água. É muito "poderia" para uma pesquisa conclusiva.
Mas, como falei, cientistas precisam de algum ponto inicial. Assim como boa parte da água da Terra é de origem extra-terrestre, por que Titã não? Os pesquisadores acreditam ainda que moléculas orgânicas mais complexas, como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (como o naftaleno, por exemplo) podem aparecer em Titã. Quimicamente, é possível, mas aí é mais um "poderia".
Reações fotoquímicas envolvendo metano e nitrogênio produziriam uma gama de compostos orgânicos gasosos e uma bela duma neblina orgânica, a qual cairia para os enormes lagos da fabulosa "lua" gigantona. O que se formou nesses lagos até agora? Não sabemos, mas a Ciência também precisa especular de vez em quando. É essa especulação que permite que possamos traçar métodos observacionais e testes para comprovar se nossas ideias estão certas e, caso não não estejam, partir para outras hipóteses. Ninguém chegou na Teoria da Gravidade simplesmente vendo uma pedra cair. Mas é parte da Ciência explorar ideias que ninguém pensou antes. Chegaram até mesmo a usar as condições de Titã para ver se conseguiam produzir vida. Vida mesmo, ninguém foi capaz, mas logrou-se o mesmo êxito que o Urey-Miller. Já é um caminho a ser andado.
Estamos aqui, observando mundos incríveis, com a mesma interrogação no alto da cabeça quando os primeiros navegadores se lançaram ao mar para saber o que tinha do outro lado. O que encontraremos? Ou o que achamos que encontraremos, temendo criaturas de duas cabeças e monstros marinhos, ou a mais maravilhosa descoberta da Ciência: vida fora do nosso planeta.
Fonte: Chemistry World
Se um viajante passasse pela Terra no primeiro bilhão de anos de sua existência juraria que se tratava de um planeta caótico e sem vida.
Se voltar a passar daqui a algum tempo, após algum cataclismo que assole o planeta, pode encontrar o mesmo cenário.
Talvez só estejamos vendo os outros planetas e satélites no momento errado, assim como aquele viajante que teria passado por aqui.
A necessidade dessa coincidência temporal e a distância que nos separa dos outros astros são os maiores empecilhos para se achar vida extra-terrena.
Através de Titã, pelo menos podemos tentar assistir uma parte de como a coisa ocorre.
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