Por que Malba Tahan jamais seria bem visto hoje?

Malba Tahan é um dos melhores exemplos do que já tivemos em termos de excelência. Vemos como nossa literatura infanto-juvenil era incrível, bem longe dos Pedro Bandeira de hoje ou, benzo-me, Ana Maria Machado. Viajamos por desertos, oásis, odaliscas, sheiks, príncipes, guerreiros, mercadores, vilões, bandidos, sultões, vizires e simples professores. ele mostra a época de ouro de nosso ensino, quando colégios públicos eram referência em qualidade. Era a época que alunos aplicados e professores bem remunerados faziam as suas partes, mas que hoje é mal visto. Aquela era a época que engenheiros davam aula e pedagogos não se metiam no processo de ensinar. Hoje, isso é apenas uma sombra perdida nas brumas do tempo, e o Homem que Calculava é algo digno de ser

Como seria Malba Tahan visto hoje?

Para princípio de conversa, pedagogos achariam horríveis as histórias. Elas não ensinam nem discutem as problemáticas sociais de um povo regido por um sistema absolutista, onde o rei executa ordens ao seu bem-prazer e a sociedade não tem o direito de refletir sistematicamente sobre todos os vieses do que está acontecendo. Falam de exercícios de matemática, quando há coisas muito mais importantes a se discutir, como o meio-ambiente e o papel do homem no campo, bem como uma revolta por parte da população oprimida faria a diferença naquela sociedade. É um absurdo como foi tida a pachorra de dizer que cálculos simples e desprovidos de utilidade prática são mais importantes do que a aplicação do que se aprende, chamando o um homem culto de imediatista grosseiro, quando ele tentava debater sobre o questionável cientificismo, que ficou agregado à humanidade e pouco contribui para a formação intrínseca do ser humano.

O pessoal politicamente correto acharia um absurdo os personagens fumando e comendo bem, enquanto muitas pessoas estavam passando fome na África e a elite estava distribuindo cargos comissionados aos amigos, vivendo em opulência, ao passo que escravos negros desfilavam com pulseiras de ouro para servir alegremente aos seus senhores, pois nunca conheceram o conceito de democracia e liberdade. Vizires desfilam imponentes e reis mostram seu verdadeiro poder a uma plebe dominada e oprimida, vivendo em casebres.

O pessoal da FEMEN iria protestar. Os homens usam e abusam das mulheres, que vivem relegadas a um papel secundário, eles têm concubinas e escravizam as suas filhas, que se submetem ao poder do patriarcado cobrindo-se e ficando atrás de reposteiros, sendo vigiadas de longe, quando nem mesmo a escolas elas podem ir, e só podem assistir a aulas de matemática se guardadas por seguranças e apenas por causa de alguma previsão desastrosa em suas vidas. Mulheres são vítimas de abuso em todas as obras e não podem se expressão, opinar, recusar casamentos arranjados quando crianças, quando deveriam se afastar da ralé masculina, que não passam de um monte de estupradores, pois qualquer relação sexual deve ser vista como uma afronta à mulher. De qualquer forma, a obra foi escrita por um homem, que já traz seu ranço de violência contra a mulher e procura perpetuar a crença que mulheres não passam de meros objetos a serem escravizados e abusados sexualmente.

Vegans, muito provavelmente, iriam queimar os livros em praça pública. São camelos sendo comercializados, disputado e até correndo o risco de serem divididos ao meio e em 3 partes. Há a menção de um com apenas uma orelha, o que mostra a falta de ética, ainda mais quando são servidos leites e quitutes de origem animal. Uma vergonha! Como assim dar de presente aves e camelos, como se fossem mercadoria? Não, devemos parar com isso e este homem deve ser financiado pela indústria da morte, quando uma alimentação com cenouras, tomates e cebolas apenas seriam mais que suficientes.

A Bancada Evangélica e Católica reclamariam que o tempo todo é invocado o nome de Allah, que claramente não é o deus verdadeiro, e eles apenas mencionam que Jesus é um profeta, quando todos sabemos que ele é filho de Deus, é Deus, juntamente com Deus e o Espírito Santo, mesmo sem ser Deus e o Espírito Santo. Apesar da bondade inerente, os congressistas lembrariam que o islã matou muitas pessoas a partir dos anos 1970, e lembrariam como o império árabe alastrou-se pela Europa, dizimando tudo, para depois tomar conta de Jerusalém, sendo bem-feito que as Cruzadas aniquilaram cidades inteiras (mesmo as cristãs).

Movimentos ateístas surtariam, pois o cientista tem que ser ateu, não pode ter religião, como Ken Miller mesmo percebeu. O cara para pra rezar, chama os epítetos de Allah, estuda depois de rezar, reza depois de estudar, elogia Maomé e – pior ainda! – acaba virando cristão. Como assim virar cristão? Não, nosso país é laico e não pode permitir isso. É que nem colocar a genérica frase “Deus seja louvado” na nota de real, onde por lei toda pessoa que usar o dinheiro automaticamente tem que adquirir uma religião.

Assim como Monteiro Lobato, o Homem que Calculava seria banido (e de certa forma foi) do currículo escolar e declarado fora-da-lei por todas os movimentos intelectuais. Ninguém lê mais Malba Tahan. Candidatas a Miss nunca leram mesmo, preferindo apenas o Pequeno Príncipe. Um livro que fale do gosto de estudar, de entender o mundo de estimular a maravilha do aprendizado é errado e estamos fazendo tudo errado. O livro tem muitas páginas escritas, o que acabaria com a liberdade criativa dos alunos, pois ele teria que imaginar a historia que o autor está contando., uma história que já não tem mais lugar em nossa sociedade, afeita a gadgets, internet, computadores, smartphones, websites, jogos online, fóruns, redes sociais etc. Não há quase mais lugar nenhum para o livro. Mas, pelo menos, ele ainda terá um lugar onde encontrará abrigo e proteção.


PS. Ao terminar este texto, encontrei algo que eu não poderia deixar de fora. Divirtam-se:

25 comentários em “Por que Malba Tahan jamais seria bem visto hoje?

  1. O livro é muito bom mesmo, mas pareceu meio tendencioso o autor converter o islâmico em cristão por conta de uma mulher. Mas depois eu entendi que mesmo naqueles tempos a mulher tinha pouco espaço na sociedade islã, e talvez isso motivou a guinada do calculista para essa religião.

    Acredito que muita gente faz/fez matemática por causa desse livro.

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      1. kkk o mesmo válido para você. Sim, naqueles tempos já existiam crentes ortodoxos e múltiplas interpretções do corão. As mulheres já naqueles tempos eram obrigadas a se casar, não tinham qualquer liberdade na sociedade islâmica.

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        1. E que merda isso tem a ver com a porra de um livro escrito na década de 1950, quando mulheres não compravam NADA sem a assinatura do marido e muito mal votavam, não tinham cargos de chefia e a parcela de mulheres com cargos públicos eletivos era ridícula? Ohhh, como os muçulmanos são maus, enquanto o Brasil precisa exigir percentual de vagas no congresso e câmaras legislativas reservadas para mulheres, que nunca são preenchidas, apesar das próprias mulheres estabelecerem um percentual de eleitores maior.

          Larga seus felózofos e vai estudar.

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  2. Demorei uns 5 minutos para entender como foi resolvido o problema dos camelos, com auxílio da calculadora, pelo visto exatas não é o meu forte mesmo.

    Obrigado pela dica André, estava procurando uma boa leitura, estou estafado de livros técnicos. Aproveitei o bônus que tenho em uma livraria online e peguei em epub.

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      1. @André,

        André tenho sérias deficiências em exatas, eu meu vestibular tive aproveitamento médio de 85 % em todas as disciplinas, exceto matemática e física cujo aproveitamento caiu quase para 50%, fato que quase me desclassificou. Não sei se devo atribuir isso a uma particularidade de meu cérebro, ou ao fato de ter tido péssimos professores destas ciências, que me fizeram criar um “barreira” no aprendizado da matéria. Chegaria a ser cômico, se não fosse trágico, o fato de ter a capacidade de ler e compreender grande quantidade de conteúdo em pouquíssimo tempo, com grande facilidade, e, ao mesmo tempo, não conseguir resolver facilmente uma equação básica.

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    1. @Slade,De uma forma mais simples é só um problema de fatoração pois 36 é divisível por 2,3 e 9 e 35 não.Quando você soma: 1/2+1/3+1/9=17/18 então o pai dividiu errado pois deixou 1/18 para ninguém, aí o malandro faturou um camelo.

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  3. Quando eu era criança eu ouvi o nome Malba Tahan pela primeira vez no programa X-Tudo da Tv Cultura quando eu tinha 10 anos. Acho que passaram-se uns 3 anos depois disso quando eu esbarrei sem querer com um dos livros dele na biblioteca da minha cidade. Não me lembro bem do título mas era sobre matemática recreativa. Confesso que não sou bom em matemática, mas esse autor escrevia com tanta paixão pelos números que eu, na época, comecei uma mini-empreitada atrás dos tais “números interessantes”, termo utilizado por ele no livro.

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  4. Nunca fui bom em matemática. Sempre fazia umas cagadas horrendas em contas relativamente simples. Mas O Homem Que Calculava sempre foi um dos meus livros favoritos, aprendi muita coisa com ele e passei a me interessar mais por aquilo que tinha dificuldade ao invés de deixar de lado e procurar só dominar aquilo que ia cair na prova.

    Ah, ter onze anos de novo…

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  5. Esse Malba Tahan foi o cara que mais torceu meus neurônios quando eu tinha 16. Hoje em dia o que torce os neurônios dos estudantes são os games e o feicebuque. Tenho pena dos nossos alunos.

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  6. Eu sou o único que gostou do livro por mostrar que o mundo árabe não se resume a maniácos e fanáticos? Além de mostrar matemática basica de forma clara também ensina sobre culturas e lugares diferentes.
    mais um livro que deveria ser obrigatório no ensino fundamental………….
    mas vai sumir

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    1. Há uma explicação básica oara isso. O fundamentalismo árabe veio muito depois de Malba Tahan, mas mesmo assim é bom para desmentir besteiras como “a Igreja Católica foi quem trouxe cultura e moldou o mundo moderno”

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  7. Pingback: Blog do Lucho
  8. LI “O Homem que Calculava” em 1965, e o reli em 2011. Uma diferença de 46 anos. Os cálculos no livro, para mim, deixaram de ser tão curiosos.
    É muito interessante, porém, ler sobre a vida de matemáticos famosos, em notas de rodapé ou no apêndice do livro.
    Por outro lado, o cenário de Mil e Uma Noites não “cola” mais. Em 1934, quando o livro foi escrito, e em 1965, quando o li, praticamente não se sabia muita coisa dos países árabes. Hoje em dia aquelas descrições são quase infantis.

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    1. O livro se passa no século XIV e foi escrito PARA CRIANÇAS, gênio. Você queria o quê? Beremiz Samir conversando com Osama Bin Laden?

      Sério, vocês veem jornais e acham que o mundo sempre foi tal como hoje.

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  9. Andrezinho, vai brincar com o playmobil, e deixe de ser mal educado. Criança mimada. Será que você já conseguiu passar na aula de interpretação de texto?

    Quando li esse livro, em 1965, você ainda estava no saco do teu pai.

    Pirralho insolente!

    por favor – bloqueie-me em futuros comentários, este foi o segundo e último – mr. “entelequituazinho” mimado, que só sabe ofender os leitores. – é só isso

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  10. Olá, gostaria de dizer que amo seu trabalho em prol da ciência. Este blog deveria ganhar um prêmio ou ser reconhecido como artigo de utilidade pública…

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