Estando na gloriosa República Florentina, aos 31 dias do mês de julho do ano de Nosso Senhor de 1490*, escrevo ao digníssimo excelso senhor Lorenzo, O Magnífico estas poucas letras, pedindo permissão para dirigir-me à Vossa Magnificência.
Sabeis, meu gentil senhor, que muito tenho andado pelo mundo, e muito tenho aprendido. Decidi, porém, se me faz esta cândida mercê, compartilhar com o Magnificentíssimo sobre notícias que tenho recebido. Me curvo perante vossa sabedoria e peço permissão para deitar sobre esta folha o que tenho ouvido e, sentido-me merecedor dos auspícios de vós, me sinto na obrigação de comentar sobre estes comentários e bochinchos que Vossa Alteza deveis ter ouvido, mas sem devidas considerações, destarte que somente o vozerio dos ignorantes chegam até vós, sem as devidas salvas e ressalvas que se fazem necessárias. Sendo assim, Ó Magnificentíssimo, permiti-me falar sobre estas toleimas que chegarão até vós, se é que não já as chegaram, falando principalmente sobre absurdos que alguns dizem ser o futuro, mas não passa de loucos desvairados em suas fantasias absurdas sobre o mundo.
Meu Príncipe! Ouso dizer que posso muito bem estar errado em muitos assuntos, de cujos não vos falarei, pois o gentil senhor não merece ser enfadado com assuntos de somenos importância. Mas não me parece o caso agora. Como bem sabeis, há um louco cidadão da República de Gênova que clama que podemos navegar de um canto a outro do mundo, simplesmente indo em uma única direção, voltando pelo outro lado. Seria como… como… como se nosso mundo fosse uma maçã, um repolho ou mesmo um ovo! Um absurdo sem limites, milorde! Este atoleimado alega que podemos apenas navegar em volta do nosso mundo.
Circunavegar o mundo? Que disparate! Que despautério!
Pensai comigo, ó Magnificentíssimo! Não temos condições, não temos meios, não temos navios à altura de tamanha jornada, cheia de mistérios e perigos. Não temos scientia para tal abraçar de façanhas nunca dantes tentada. É com máximo de zelo e cuidado, meu gentil senhor, que eu procuro humildemente proteger-vos desses aldrabistas engenhosos, desses charlatães, desses melífluos que com palavras doces, pretendem usurpar de príncipes como Vossa Alteza, ciosa em seu mecenato de justo propósito, que financiam homens de letras, artistas, inventores e aqueles que trazem prestígio e nome para a casa real, avançando nosso mundo. Mas não é o caso deste sacripanta que visa tolher-vos de recursos para, no fim, apenas gastar em viagens tolas e sem sentido, aproveitando-se de vossa generosidade. Um príncipe, meu senhor, não pode arcar com gastos de coisas que não serão realizadas agora, no próximo século ou em anos que virão. Ir até o outro extremo da Terra simplesmente navegando é tão impossível quanto um homem pisar os pés na Lua.
Termino minha imerecida carta que aos vossos olhos chegou, como um humilde alerta de um desvalido que outro desejo não tem além que o Magnificentíssimo Lorenzo de Médici goze de boa saúde pelos anos vindouros e que me veja como alguém que se preocupa com a mui prestimosa República de Florença. Que Lorenzo, o Magnífico, ainda reine por décadas de porvir, pois se tem uma coisa da qual tenho absoluta certeza é que Vossa Alteza ainda governará por muitas e muitas décadas, vendo o próximo século surgir, cobrindo nossa terra de riqueza e prosperidade.
Foi mais ou menos o que eu pensei quando li “Estudo mostra que não é possível terraformar Marte com as tecnologias atuais”
*Eu sei!