Normalmente, eu não dou bola para futurólogos, futurismos e bobagens do tipo como prever que o mundo seria Steampunk, o que não aconteceu (infelizmente). Então veio a notícia que Bill Gates falou que a IA vai substituir médicos e professores em menos de 10 anos. Obviamente, muita gente teve chilique. Como minha mãe me ensinou que eu não sou todo mundo (e já conhecendo como jornaleiros são), fui dar uma olhada.

Saiu em um monte de jornais, como o Globo.

A notícia fala por alto e começa a misturar citações e falas dos outros, mas não a citação completa, claro. Afinal, o objetivo dos veículos de informação é gerar engajamento e mostrar números pros investidores, e não informar. O que foi dito então?

A entrevista foi no The Tonight Show, com Jimmy Fallon.

Aqui o trecho:

(…) a era a que chegamos é uma espécie de visão de que a computação era cara e basicamente se tornou gratuita. A era que estamos apenas começando é a de que a inteligência é rara. Sabe, um grande médico, um grande professor. E com a IA, na próxima década, isso se tornará gratuito, comum, sabe? Ótimos conselhos médicos, ótimas aulas particulares. E é meio profundo porque resolve todos esses problemas específicos, como a falta de médicos ou, sabe, profissionais de saúde mental, mas traz consigo muitas mudanças. (…) eu adoro a maneira como isso impulsionará a inovação, mas acho que é um pouco desconhecido. Seremos capazes de moldá-la? E então, legitimamente, as pessoas dizem: “Uau, isso é… isso é um pouco assustador.” É um território completamente novo.

Daí veio o diálogo:

[Jimmy]: Quer dizer, ainda precisaremos de humanos?

[Gates]: Não para a maioria das coisas. Sabe, nós decidiremos…

[Jimmy]: Quer dizer, apresentar um talk show, com certeza. Nós vamos precisar, certo?

[Gates]: Bem, nós decidiremos. É como Baseball: não queremos ver computadores jogado.

Então, o que foi sugerido? Que IA pode ser usada para dar conselhos médicos. Eu mesmo ajudar com o dever de casa. Efetivamente NÃO para substituir os profissionais.

Mas eu vejo um pouco além disso.

A formação universitária de um médico é de 6 anos (só a faculdade), e é um curso dispendiosos em termos de energia e financeiro. A formação de um paramédico/socorrista é de, digamos 1 a 2 anos (e eu estou exagerando). Em lugares afastados da PQP do Inferno (como interior de Rondônia, no meio do Djibuti ou em Paquetá), não vai se mandar um médico formado, pois é um recurso escasso e dispendioso, mas pode-se enviar agentes locais e eles usarem sistemas de IA especializados (não, não é pra perguntar pro Grok como virou costume no Twitter até pra saber se o Papa é católico de verdade, porque escocês a gente sabe que ele não era), mas sistemas treinados com biblioteca médica, pesquisas e expertise de médicos especialistas renomados.

Professores? Os alunos já fazem isso e eu mesmo uso IA para me ajudar com tarefa burocrática. E querem saber? 10 anos é muito tempo. Isso vai acontecer muito em breve e já está até acontecendo em muitos lugares, só não está disseminado ainda.

Ainda!

Qual o problema, então?

O problema é jornaleiro vagabundo causando e distorcendo as palavras, dando a entender outra coisa do que foi dito. E como minha mãe advertiu, eu não sou todo mundo, porque todo mundo começou a dar chilique sem procurar saber a fonte original. A sorte de vocês é eu existir. De nada. Tomem a bênção, vão e não pequem mais.