Os buracos da autoestrada da informação

Estamos na Era da reclamação. Isso é um ponto indiscutível. Antes, a gente entrava na Internet para buscar informações; e encontrávamos! Hoje, entramos na Internet para dizer que não encontramos informação alguma, que é um absurdo, como assim me pedem coisas que eu não sei, como irei aprender, bláblábláblá.

Começo falando assim, porque vi uma postagem de uma inútil que faz faculdade (que não mostrarei aqui para não dar palco), reclamando que o professor de Engenharia malvado deu bibliografia em inglês. Quanta Audácia!

Bill Gates escreveu um livro chamado The Road Ahead, ou a Estrada Adiante, que foi traduzido como A Estrada do Futuro. A Internet já não era mais futuro nem naquela época; estava à frente de todo mundo. Alguns a chamavam de Autoestrada da Informação. Hoje é Autoestrada do Olhem Pra Mim, Estou Sofrendo. E eu sugiro, apesar de ser um tanto quanto desatualizado, a leitora do livro do tio Bill. Ali estavam as potencialidades num mundo que a Microsoft pensou em competir a Internet com sua própria rede: a Microsoft Network. Venceu quem venceu.

Hoje, a mania de ganhar cliques, views e retweets faz com que a pessoa aja feito imbecil, burra, estúpida e preguiçosa. Ganhará tapinhas nas costas de gente imbecil, burra, estúpida e preguiçosa. Em Being Digital (A Vida Digital), Nicholas Negroponte mostrou como o advento dos computadores e da Internet estava revolucionando as nossas vidas, mas esqueceram dessa maravilha. Hoje, só se usa o computador para externar que não são apenas ignorantes. Querem continuar ignorantes.

Mas afinal, pedir para saber inglês na Universidade é um crime contra os pobrinhos? O professor malvado precisa levar um aluno de ensino superior pela mão? Mas como se faz para aprender Inglês? Eu diria que há muitos cursos comunitários [1] [2] [3] , Dá até pra aprender no YouTube, com vários canais [4] e se isso não é o bastante, as próprias universidades públicas oferecem cursos [5] [6] [7] [8] [9] [10]. Não há como aprender inglês? Sinto muito, então, a Universidade não pé para você. Elitismo? Não, ela está aberta para você e todo mundo. VOCÊ é que não pode. Ainda mais que a Universidade tem acesso à internet e uma biblioteca. Você ainda pode fazer amizade com alguém que sabe mais que você. Amizade não é só para encher os cornos de cerveja, sabe?

Lamento informar, mas as mais recentes publicações são em inglês. Se for em periódico científico, aí que é em inglês mesmo. Eu sugeriria o Google translator, mas é uma solução preguiçosa. Aprenda a merda do inglês. Ou não. Você ainda pode ganhar dinheiro com uma profissão técnica. Tem muito curso no SENAI e no SENAC (inglês é um deles). Optou por uma Universidade, reclama que a Universidade é de qualidade. Bem, ou vocês querem uma Universidade de qualidade ou que o professor leve pela mãozinha que nem a particular. A qualidade vem de colocar o aluno pra estudar.

Mas você não precisa de nada disso. Pode escolher estudar em qualquer universidade vagabunda que não exija inglês nem nada. Tá ótimo. Só sugiro olhar pro mar de vez em quando.

6 comentários em “Os buracos da autoestrada da informação

  1. “Você ainda pode fazer amizade com alguém que sabe mais que você. Amizade não é só para encher os cornos de cerveja, sabe?”. Esse é o entrave. As pessoas não querem aprender com as outras, muito menos fazerem amizades produtivas; querem vomitar suas “necessidades” corriqueiras, suas particularidades irrelevantes — outrora não questionadas — e se incomodam quando surge alguém que sabe mais a ponto de criar discordâncias. É muito perceptível ao se dialogar com pessoas de idades e locais diversos. O comodismo da concordância da vulgaridade é extremamente viral. O problema, em si, não é o acesso à genuína e qualitativa informação, mas o desdém que existe com ela. Por exemplo, pessoas discutindo, longamente, sobre horóscopos no trabalho. Pessoas discutem religião daquele modo bem sentimental. Falam até de consultas no tarô (nem sabia que a galera ainda levava isso a sério). Quando vem um papo mais conceitual, o desinteresse toma conta. Com isso, ninguém se dá ao luxo de buscar fontes que reafirmem aquilo, e se alguém for perguntado a respeito é ato de egoísmo; aliás, sim, as “fontes” estão no dia a dia. Não entendem nada do processo do conhecimento científico, de história e, o pior, quando tem alguém que sabe, mesmo que pouco, não há vontade de conhecer, indagar etc.
    É triste. Ou não também. Sei lá. Não sei se me conformo com a realidade e me tranquilizo, se me martirizo ou me revolto. Procuro ficar bastante neutro pra não pirar. Daí, quando presencio alguém que posta coisas realmente importantes, eu compartilho no Facebook ou WhatsApp, coloco uma legenda curta e chamativa, ou nem coloco (para os preguiçosos), mas… nada… nem sinal de vida. A gente tenta, sem resultado. Não são só os seus artigos, pois seria entendível se alguém tivesse raiva dos posts, do autor, todavia nada disso. Outros acervos de mesma matiz são empacotados e ficam de quarentena.

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  2. Antes eu ficava puto com esses mimizentos profisionais. Hoje não fico mais. Diminui a concorrência na hora de buscar emprego, pois concorrer com esses chorões, seja na iniciativa privada, seja em concurso público, é vitória na certa.

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  3. Agora vamos juntar a preguiça de aprender inglês (de aprender qualquer coisa?) com o fato de que é o idioma nativo das linguagens de programação e vamos acrescentar uma pitada (estou sendo complacente) de aversão a fazer um pouco de esforço pra racionar logicamente (algorítmos são manifestações do demônio?). E teremos um vislumbre de alguns dos motivos (não os únicos certamente) da escassez de profissionais qualificados na área da computação, mesmo com as toneladas de recém graduados na área despejados a cada ano no mercado.

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