A deusa que nos fala do passado tumultuado da Lua

O som ecoa ao longe. É o lamento do guerreiro Houyi, o guerreiro. Conta-se que dez sóis abrasadores haviam subido juntos aos céus. O calor era insuportável, a água escasseava e a população morria de sede. Houyi se prontificou a resolver o problema e derrubou 9 dos 10 sóis, ficando apenas um, para iluminar os passos da Humanidade. Como recompensa, Houyi, o guerreiro, foi presenteado com o elixir de longa vida, mas ele não quis tomá-lo. Ele não suportaria de viver sem sua esposa. Quando Houyi saiu para caçar, Fengmeng, seu aprendiz invejoso e exigiu que a esposa de Houyi lhe entregasse o elixir, mas esta sabia o que iria acontecer em seguida. Ela bebeu todo o conteúdo do frasco e o mundo mudou para ela. Ela subiu aos céus e foi morar na Lua, onde poderia acompanhar seu esposo nas noites solitárias.

A história de Houyi e sua esposa, Hang’e, é conhecida até hoje e mesmo o regime comunista-ateísta-maoísta-capitalista chinês reconhece a importância de sua História, quando era o Império do Centro. É por causa dessa cultura que nomearam sua missão em direção à Lua de Chang’e.

Péra! Não era para se chamar "Hang’e"? Sim, seria, mas o nome da divindade mudou pois o ego de imperadores não suporta competição, nem que seja por um simples nome parecido.  Assim, o imperador Wen, da dinastia Han, fez com que os registros que mencionassem Hang’e fossem mudados para "Chang’e".

Vaidade da vaidades. Tudo é vaidade!

Mas Hang’e estava sozinha, a coitada, pelos longos momentos que não podia acompanhar seu amado Houyi. Assim, os deuses se compadeceram por Hang’e e fizeram aparecer para ela um lindo coelho de jade. Esse coelho acompanha nossa querida Hang’e, e com seu pilão, soca os ingredientes para o bolo de arroz que a Moça da Lua tanto aprecia, enquanto Houyi não coloca frutas e bolos em sua homenagem.

Essa mitologia é linda e se propõe a explicar coisas, como o efeito de pareidolia que faz pessoas verem um coelho nos contornos das crateras lunares.

Algumas pessoas olham para a Lua e veem um coelho. Outras veem São Jorge. Eu, desde pequeno, sempre quis ver algo, mas nunca vi nada além de manchas. O teste de Rorschach natural nos dá muitas respostas, mas parece que não funciona comigo. Eu devo ter problemas…

De qualquer forma, como disse, os filhos de Mao não são tão maus assim a ponto de rejeitar sua cultura milenar, enquanto certos caras, babás de cabras, inventavam histórias malucas sobre gente colocando bicharada num caixote de madeira. Em 2007, a agência espacial chinesa (vocês sabem: o tipo de agência que o Brasil finge que tem) lançou a sonda de exploração lunar chamada "Chang’e 1", com 2 toneladas de maravilha tecnológica, capaz de fotografar a Lua e montar um mapa 3D.


Algo me diz que isso aí não é um luzeiro. A Bíblia mentiu?

Chang’e 1 tinha uma missão prevista para um ano, mas deram uma colher de chá de mais uns 4 meses, para depois os filhos de Mao espatifarem a coitada na Lua (ok, isso gerou mais alguns dados).

Enquanto isso, no Brasil, ainda estávamos tentando fazer algo que a Alemanha Nazista fez em 1944, e a URSS fez em 1958.

Em 2010, os discípulos de Bruce Lee acharam que uma única sonda era muito mainstream, construíram a Chang’e 2. Ela ficou uns 6 meses orbitando a Lua, depois ficou de reserva. Então, em 2012, apareceu o asteroide Toutatis. Como quem ousa vence, os aprendizes do dr. Fu Manchu mandaram a Chang’e 2 ir bater umas fotos, já que china adora uma fotoglafia. Abaixo, um esquema de como fizeram a bagaça.


Clica enquanto espela seu pastel de flango.

Enquanto isso, no Brasil, ainda estávamos tentando fazer algo que a Alemanha Nazista fez em 1944, e a URSS fez em 1958.

Um é pouco, dois é bom e 3 é melhor ainda nas fuças dos imperialistas yankees, que amamos de paixão, pois são nossos clientes. Em 1º de dezembro de 2013, os herdeiros de Qing mandaram a Chang’e 3, uma sonda de 1.200 kg, com um robozinho amigo de 120 kg, chamado Coelho de Jade, que possui um radar de penetração (Ui!) de solo, capaz de gerar imagens de cerca de 400 metros de profundidade.

Enquanto isso, no Brasil, foi feito algo que a Alemanha Nazista e a URSS nunca fizeram: Um ICBM para matar pinguins.

Já a Chang’e 3 trouxe mais imagens da Lua, tão bonitas quanto a deusa que mora lá:

Mas infortúnios acontecem a todos, mesmo a deuses. Ao chegar ao Mare Imbrium, o "Mar de Chuvas", Yutu, o Coelho de Jade parou de dar notícias. Um curto-circuito o deixou incapaz de se preparar para a dura e triste noite lunar. Com seus instrumentos desprotegidos da punição frio e comunicações aparentemente perdidas, o Yutu, nosso coelhinho, tinha uma dura prova a enfrentar.

O seu perfil (não-oficial) relatou de forma poética, como só os filhos de Kung-fu Tsé poderiam fazer:

O sol caiu, e a temperatura está caindo tão rapidamente… para dizer a todos vocês um segredo, eu não me sinto triste. Eu estava em minha própria história de aventura e como todo herói, eu encontrei um pequeno problema.

Boa noite, Terra… Boa noite, humanidade.

Yutu cessou as comunicações e foi declarado morto em 12 fevereiro de 2014. E se você não sentiu nada com essas palavras, você tem problemas.

Em 13 de fevereiro de 2014, a China National Space Administration anunciou que o Yutu, o valente Coelhinho de Jade, estava se comunicando novamente, embora ele ainda não conseguia se desligar para as noites lunares corretamente, e, portanto, não tinha como explorar mais longe do que os 114 metros já percorridos. Ainda assim, é um feito e tanto.

Pega uma lupa aí. Ou clica para aumentar. Você é quem sabe.

Enquanto isso, no Brasil… Ah, deixa pra lá!

Estamos em 2015 e o companheiro de Chang’e ainda vive, ainda que imóvel! Mesmo assim, como todo herói, ele não desiste de sua empreitada. Seu radar de profundidade analisa o Mare Imbrium. Os resultados sugerem que o Mar das Chuvas de teve uma história geológica turbulenta. O radar de Yutu identificou mais de nove camadas do subsolo, o que sugere que esta região tem experimentado processos geológicos complexos desde o período Imbriano.

O período Imbriano foi subdividido em épocas tardias e anterior. O Imbriano Anterior é definido como o tempo entre a formação das bacias de impacto que formaram o Mare Imbrium e Mare Orientale. O Mare Imbrium, onde nosso valete coelhinho está, tem entre cerca de 3,85 bilhões e 3,77 de anos. Cerca de dois terços dos basaltos lunares entraram em erupção no Imbriano Superior, em que o magma encheu as depressões associadas a bacias de impacto mais velhas.

O dr. Long Xiao da Universidade de Geociências da China analisou os dados. De acordo com ele, não só o período tardio do Imbriano viu mais erupções vulcânicas como as planícies vulcânicas não são compostas apenas por lavas basálticas, mas também por explosões piroclásticas. Seu trabalho foi publicado no periódico Science.

A China mostra como fazer uma pesquisa. Mostra que desde muito tempo, sua incrível ciência era um farol num mundo obscurecido, e o magnífico Zeng He navegou por todos os mares do mundo. Foram um imenso império, criaram artes, engenharia e uma filosofia própria digna de nota, sem as besteiras platônicas ou aristotélicas. Aprenderam como funciona o Mercado e se agem com tanta mão-de-ferro, talvez seja por causa dos seus quase 2 bilhões de habitantes. Ainda assim, diferente de certos países do futuro, a China abriu os olhos pra modernidade. Não vivemos no futuro. Vivemos uma dádiva.

Houyi olha pro céu. Lá longe, a uma distância de várias xícaras de chá, sua amada o contempla e protege. Todas as suas irmãs estão viajando pelo Sistema Solar, mas ela não está só. Seu fiel companheiro está lá, paradinho, nos dando muitos presentes, pois nenhum presente é maior que o saber. Hang’e docilmente nos ilumina com seu sorriso prateado. Como não se apaixonar por ela?

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