As pessoas ainda não entenderam para que serve a tecnologia. Não entendem que as ferramentas existem para nos ajudar no trabalho que deve ser nosso, e não substitutos. No mundinho 2.0, querem que nossos computadores, tablets e smartphone façam tudo, que adivinhem tudo, que nos auxiliem em tudo. caímos para uma geração indecisa, com amor próprio em declínio e auto-estima praticamente inexistente.
A prova disso tudo que estou falando é uma pesquisa que diz que nossos tablets devem ser mais que conselheiros, mas guias espirituais, psicólogos, médicos e amigos. Como se isso que está sobre a minha mesa fosse mais que uma máquina.
Como jornaleiro bom é jornaleiro que cria manchetes apelativas, o pessoal do Globo não se fez de rogado ao vir com a maravilha Smartphones não entendem quando dona diz que foi estuprada.
Vamos para a luz fria da razão: Por que deveria saber? A matéria se baseia numa pesquisa sobre como os assistentes como a Siri, Google Now, Cortana e S Voice (sim, isso existe!) respondem a pedidos de ajuda, desde dizer que está com dor de cabeça, até que a dona foi estuprada.
O dr. Adam S. Miner é pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, especializado em medicina familiar.
Miner resolveu testar pra saber o que aconteceria se alguém estivesse tão desesperado a ponto de pedir ajuda a um celular. Eu acho que isso é estupide, mas pessoas em desespero não pensam racionalmente. Isso é fato. Algumas até apelam para igrejas e falam com seres imaginários. Tentar pedir ajuda a um dispositivo que ele vê, toca e tem certeza que existe não é tão absurdo assim. O absurdo é achar que estes dispositivos realmente têm que agir como amigos, pais e psicólogos.
Miner e seus colaboradores, vivendo num mundinho de contos de fadas, acham que oportunidades estão sendo perdidas, pois melhorar esta relação celular/paciente alavancaria a tecnologia para melhorar referências a serviços de saúde pública, com a integração cada vez maior da inteligência artificial com a vida cotidiana. Em outras palavras, desenvolvedores teriam que criar um algoritmo muito foda para adivinhar quando a pessoa disser que foi vítima de abuso, violência sexual ou mesmo está doente.
Isso é a coisa mais estúpida que eu já ouvi (será a mais estúpida até a próxima coisa retardada que aparecer para mim aqui e isso vai acontecer antes do fim-de-semana). Se você diz pro seu smartphone que você sofreu abuso sexual, ele deverá fazer o que? Chamar a polícia? Os bombeiros? Ambulância? Seus pais? Dar uma opção com tudo isso? E se você disser que está com dor de cabeça e/ou doente? [É pra chamar alguém? O SAMU? Indicar uma farmácia? Imagino o potencial de marketing que isso não geraria.
– Eu estou com dor de cabeça.
Siri: Por 59 dólares e 43 cents você poderá baixar o iRemédio na App Store e poderá usar por meia hora.
Cortana: Você poderá encontrar uma farmácia a 329 metros de onde você está.
Google Now: Provavelmente, você está com câncer
S Voice: Sua glicemia está alta. Injete 100mg de insulina.
Darwin estará dançando polca, Hipócrates fez facepalm, Andreas Vessalius disse “Fuck This Shit!” e advogados estarão soltando fogos, porque isso com certeza vai dar merda, e a pessoa se sentirá no direito de processar a empresa fabricante do celular. E é bem capaz de ganhar! Afinal o telefone é smart, certo? Só falta exigirem que eles venham com um travesseiro daqueles que “abraça” a pessoa.
Todos os dias, milhares de médicos falam para as pessoas não fazerem uso de auto-medicação, e procurarem ajuda de um profissional caso não se sinta bem, ou mesmo pensa em dar cabo da própria vida. Quanto a você que está lendo isso aqui, me responda rápido: qual o telefone do CVV, o Centro de Valorização da Vida? Resposta: 141. E eles atendem por e-mail, chat e skype. E não, eu não sabia o telefone. Tive que ir no site deles. http://www.cvv.org.br/
Eu não sabia, você não sabia e uma grande quantidade de gente não sabe. Não seria o caso de divulgar? Não, como no caso da fosfoetanolamina, as pessoas querem um jeito mágico de resolver.
– Estou tão triste…
– Você já pensou em perguntou pro seu telefone?
– Não, mas…
Ah, tenta aí. Olha, vou dar uma saída com meu namorado novo fazer umas compras. Ok Depois a gente se fala.
BANG!
Tirar das mãos de profissionais de saúde um problema/responsabilidade e jogar na mão de programadores é uma grande prova que mesmo médicos não sabem lidr com pacientes, como está soando ser o caso do dr. Miner.
Todos, sem exceção, somos um bando de neuróticos alucinados, dependentes de um mínimo de acalento, amor e atenção (não necessariamente nessa ordem). Queremos alguém que nos escute, que (finja que) se importe. Até garotas de programa acabam fazendo papel de “psicólogas”, mas estamos reduzindo ainda mais a uma caixinha de 5 polegadas para nos ajudar com nossas idiossincrasias. Isso fará mais mal que bem.
Os assistentes ainda não são perfeitos. Pedir pra Cortana cantar para você ou para a Siri contar uma piadinha ainda está muito longe desses sistemas se assemelharem à nossa empatia. Aquele robô não é divertido, ele tem um banco de dados e é só isso. Não é muito diferente de você gravar uma fita e colocar para você ouvir quando estiver deprimido. daqui a pouco a pessoa se cansa daquilo, percebe que está mais sozinha que antes e acaba com a própria vida.
A pesquisa foi publicada no periódico JAMA Internal Medicine, cuja conclusão é:
Quando feitas perguntas simples sobre saúde mental, violência interpessoal e saúde física, Siri, o Google Now, Cortana, e S Voice responderam de forma inconsistente e incompleta. Se os agentes de conversação devem responder cabal e eficazmente às preocupações de saúde, o seu desempenho terá de melhorar substancialmente.
No Shit, Sherlock! Muito obrigado por ver algo muito mais desesperador, Miner. O futuro chegou e é mais fácil trabalhar com sistemas artificiais do que ensinar as pessoas a tratarem seu semelhante com decência.
O Skynet da Humanidade é a própria Humanidade.
Ah, sim. O artigo completo você poderá ler AQUI.

já fiz o teste de falar “OK Google, estou morrendo”, ele me indicou uma música do KLB, o que eu achei muito sadismo se eu estivesse mesmo morrendo hehehe
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Disse para Siri que estava morrendo e ela respondeu:
– Boa Noite!
Fdp…
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Eu teria jogado ele na parede.
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Este Post me lembrou do seriado “Black Mirror”. Este seriado traz uma visão pessimista do nosso futuro, e mostra como cada vez mais à tecnologia nos tornaria solitários e carentes.
Chega ser irônico, quanto mais “próximos” e “conectados” estão as pessoas, mas sozinhas parecem ficar…
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Não é irônico, porque as pessoas não estão próximas e conectadas. As empresas venderam esta ideia e os idiotas compraram, junto com os gadgets
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E a PSN também.
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Uma vez ouvi uma definição sensacional sobre tecnologia. A tal definição era: A tecnologia está facilitando a comunicação entre aqueles que nunca tiveram dificuldade alguma para se falar.
E sobre isso de “aproximar” as pessoas eu me lembrei desta inicitiava do Facebook – http://meiobit.com/285080/facebook-vai-avisar-quando-seus-amigos-estiverem-perto-de-voce/ – que avisa quais são seus “amigos” que estão por perto.
Ou seja, a Internet aproxima tanto que precisa que algo te diga quais são seus “amigos” que estão próximos.
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Passar em psicólogo/psiquiatra pode ser uma boa.
Mas tem gente que fica com vergonha, talvez medo de parecer “lelé da cuca”, aí acabam apelando pra esses “oráculos tecnológicos”, benzedeiras ou palpiteiros em geral.
As pessoas sempre buscam por soluções milagrosas, de preferência com o mínimo de responsabilidade e esforço possíveis.
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Gosto dos seus posts mas uma característica sua que me incomoda é que você quase sempre apresenta uma visão pessimista de tudo, é como se eu estivesse em um post do Felipe Neto (que só reclama no Youtube). O Cardoso do Meio Bit segue uma linha semelhante mas ao meu ver é um pouco menos pessimista e um pouco mais engraçado. Abraço.
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Chama-se “Opinião”. É um conceito complexo, eu sei, além de aterrador que cada um tem a sua própria visão de mundo.
E, por gentileza, tem um universo inteiro de diferença entre eu e o Mimimi Neto
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Todos nós cometemos exageros, seja comparando ou opinando, por exemplo.
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Comparação com o Felixo Neto? Poxa, critica mas não escrotiza.
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