A Sonda Rosetta tem muito pouco a ver com a pedra decifrada por Champollion. É uma sonda que tem como missão estudar o cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko, carinhosamente conhecido por 67P. A Rosetta foi lançada em 2 de março de 2004, e como usar combustível o tempo todo só existe em filmes, demos um balão na Natureza e usamos as forças da Natureza contra ela mesma, em especial a Gravidade. Ela ficou sendo chutada através da atração gravitacional de todo mundo por quem passou[1], até ter impulso suficiente para ir em direção ao 67P. Não é feitiçaria! É Matemática que até Isaac Newton entenderia (mesmo porque, foi ele quem inventou a bagaça).
Agora, dados da Rosetta trazem muitas informações. Não só sobre o cometa, mas sobre a própria Terra, e é bem provável que a água daqui tenha vindo de lugares que nunca pensamos antes.
A água da Terra tem origem fora da Terra. Isso mesmo, a água daqui é alienígena do passado. Durante o período Hadeano, isso aqui era o Inferno na Terra. Muito quente, não tinha água e o ar era irrespirável. Algo como São Paulo de hoje, mas sem os carros. Com o bombardeio de cometas, que basicamente são gelos sujos, o planeta foi esfriando. Um piscar de olhos e estávamos aqui, matando-nos mutuamente. Mas não é bem isso, de acordo com os dados da Rosetta.
A drª Kathrin Altwegg trabalha na Universidade de Berna, na Suíça. Membro da União Astronômica Internacional, tia Altwegg é a chefe da pesquisa da missão Rosetta, pouco se importando que a mula manque ou não.
Análises do espectrômetro trouxeram algumas surpresas. Os pesquisadores mediram a quantidade de deutério, um isótopo pesado de hidrogénio que tem um nêutron no núcleo, junto com o próton, encontrado no gelo sobre a superfície do cometa. A água normal é constituída com átomos de hidrogênio, mas a água "pesada" contém deutério. Água pesada não é água com sais de chumbo.
Na superfície gelada do cometa 67P, a proporção de água pesada e água normal é cerca de três vezes maior do que a razão encontrada nos oceanos da Terra. Isso excluiria, a priori, a ideia que os cometas do cinturão de Kuiper teriam fornecido água para a Terra primitiva. Mesmo alguns cometas carregados de deutério como cometa 67P teriam dado belas contribuições de deutério para a água da Terra.
A argumentação de Altwegg se baseia no fato dos impactos com asteroides terem entregue a água em nossos oceanos, já que poderia ter água congelada neles, pois o Sol não era tão quente quanto hoje, mas há algo errado nessa argumentação. Era preciso uma grande análise da composição da água em vários cometas e não em casos particulares. Não é assim que ciência funciona. Não é porque a água do cometa 67P tenha maior ou menor razão de Deutério/Hidrogênio na água do que aqui na Terra que isso pode ser generalizado para a miríade de cometas que ficam flutuando por aí (eu sei!).
Por mais que seja excitante as descobertas da Rosetta (e são), deve-se manter os pés aqui na Terra, sem viajar demais. Ainda falta muito para se descobrir.
A pesquisa foi publicada na Science
