Chuva Ácida pode ter sido o assassino definitivo no período Permiano

O vilão está à espreita. Não precisaram fazer a pergunta tola "o que faremos esta noite?". Um vilão que se preza não gargalha e conta todo o seu plano. Ele age. Silenciosa e cruelmente, ele dá o golpe de misericórdia, fazendo com que futuramente todos falem dele com um medo contido à força, pois sabemos que mais dia, menos dia, ele poderá reaparecer, e isso poderá ser o fim.

Há 250 milhões de anos, 95% de toda a vida na Terra foi pro ralo. Criminosos? Muitos. Quem foi o responsável? Os Detetives da Natureza tentam desvendar isso. São os cientistas e eles acharam mais uma peça do quebra-cabeças.

O período Permiano compreende uma faixa de tempo entre 299 e 251 milhões de anos no passado. Uma era estranha, bem diferente do que temos hoje. terapsídeos vagam indolentemente. Eram criaturas com muitas similaridades com os atuais mamíferos, mas também resguardavam similaridades com répteis, também. Da subordem Cynodontia, novos animais surgiriam no futuro: os mamíferos, mas isso ainda estava muito, muito longe de ocorrer. Nem mesmo os dinossauros tinha surgido ainda.

Mas a ira desceu sob a forma de explosões vulcânicas, meteoros, derretimento do permafrost, liberando o mais cruel dos algozes: o metano, um poderoso gás de efeito estufa, que chegou no céu e foi queimado, convertendo-se em água e gás carbônico. A Terra estava condenada e por pouco não se tornou um lugar estéril, hostil a qualquer tipo de vida. AO final do período Permiano, nenhum fóssil foi encontrado. Já não restava mais ninguém, quase todos tinham sido limados da existência.

Agora, cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT, parecem ter encontrado mais um assassino dessa época: chuva ácida. Pesquisadores do MIT achar que a chuva como ácida como suco de limão pode ter contribuído para a imensa aniquilação que ocorreu.

O dr. Benjamin Black é geoquímico do Departamento de Ciências Planetárias, Terrestres e Atmosféricas do MIT. Ele não é apenas um geólogo com pedras na cabeça. Ele caça assassinos e está investigando uma armadilha mortal: as armadilhas siberianas.

Armadilhas Siberianas são armadilhas que ficam na Sibéria. Longe de ser o coisa que os bisavós de Stálin inventaram, elas são imensas atividades vulcânicas que se espalhavam por centenas de milhares de km2, que quando entraram em atividade total, levantaram uma imensa cortina de fogo, lava e destruição. Um dos primeiros a estudar isso foi o dr. Vincent Courtillot,da Universidade de Paris e que tem um site feio que dói.

Esta tristeza, também chamada de Erupção de Fluxo de Basalto Derretido nada mais é que grandes fluxos de basalto em altíssima temperatura sendo expelidos de maneira catastrófica, liberando cinzas e gases, e é nesses gases que o dr. Black está interessado.

Normalmente, essas emissões gasosas são baseadas em enxofre e seus óxidos, além de gás carbônico e metano. O metano é proveniente do permafrost, um solo que cobre grandes áreas no ártico, composto por constituído por terra, gelo, rochas e metano congelados. Sua espessura pode chegar a cerca de 300 m, mas em alguns lugares, apenas 2 metros de espessura desse solo impede que o metano vá para a atmosfera.

Qual o problema do metano? bem, ele é um poderoso gás de efeito estufa, absorvendo radiação eletromagnética infra-vermelha, isto é, calor. Em outras palavras, ele impede que o calor se dissipe. Claro, eu jamais diria que ele é o principal responsável pelo aquecimento global, seja hoje, seja há milhões de anos, simplesmente porque ao ir lá pras camadas superiores da atmosfera, o metano entra em combustão e toda combustão completa gera água e gás carbônico, que por sinal TAMBÉM é um gás de efeito estufa. Muito gás metano ainda está aprisionado hoje em forma sólida. São os chamados clatratos, sobre o que você já leu AQUI.

Essas explosões duram milhares de anos e não se sabe ao certo como e porque elas ocorreram. Só sabemos que foram fatais. Com grossas nuvens de vapor, poeira e cinzas, os raios do Sol foram bloqueados, a Terra começou a se resfriar e entramos num longo e tenebroso inverno, mas com o aumento da concentração do gás carbônico, a temperatura voltou a subir de novo; e essa grande quantidade de gás carbônico, somado aos óxidos de enxofre na atmosfera, juntamente com quantidades consideráveis de vapor d’água, aconteceu o que em outros tempos e condições seria festejado, mas em lugar de uma simples chuva veio a morte!

Qualquer que estudou um ensino médio decente, sabe que anidridos são óxidos não-metálicos que, em solução aquosa, geram ácidos. O SO3 é um perfeito exemplo. Em presença de água ele forma o poderoso H2SO4, o ácido sulfúrico. Se plantas já estavam com problemas de sobrevivência por causa da falta do Sol, cair chuva com uma concentração hidrogeniônica bem alta. Costumamos nos referir a ela como pH, e seu valor era de 2, algo como o seu suco gástrico e se você acha que isso não é nada, pense de novo. Eu obtenho uma solução de pH = 2 se dissolver 5,43 mililitros de ácido sulfúrico em um litro de água. Agora imaginem litros e mais litros de água caindo por sobre a superfície da Terra. 5,43 ml por litro parecem pouco, mas não é. É extremamente ácido. Ou não acreditem em mim. Este é o pH do suco de limão. Experimentem colocar sobre uma ferida sua ou passe no corpo e vá tomar Sol (isso é um experimento mental. NÃO FAÇA ISSO!)

Temos calor e em seguida um banho de ácido. Altas concentrações de gás carbônico, diluindo cada vez mais o oxigênio, além de detonar geral com a camada de ozônio. Plantas não conseguem repor o oxigênio e estão morrendo por causa da falta de luz solar e sendo atacadas por fortes soluções ácidas. Os pastos se tornam raros, os animais que dependem deles morrem e os carnívoros, uma hora, acabam sem comida, pois não há mais outros animais.

Mas a Natureza é boazinha Hu Hu Hu.

A equipe do dr. Black simulou 27 cenários, com v´rios dados citados acima, variando as condições em termos de intensidade de cada um, desde as grandes erupções até a chuva ácida. Uma ampla gama de gases foram adicionados nas equações que geraram as simulações, com base em estimativas de análises químicas e modelagem térmica. Os resultados mostraram que tanto os óxidos de carbono e de enxofre de origem vulcânica podem muito bem terem sido os principais agentes que afetaram as condições ambientais dessa época, somando fatores como alta acidez, alta temperatura, destruição da camada de ozônio, falta de luz e cinzas para todo lado. A pesquisa foi publicada no periódico Geology.

Se o pedregulhão que mandou os dinossauros pra vala fez um estrago e tanto, nem se compara com o que aconteceu no Permiano. Na grande extinção do cretáceo-terciário (também chamado Extinção K-T), estima-se que apenas 60% da vida na Terra foi pro ralo. No caso do Permiano, 95% se perdeu de forma bárbara, e nem mesmo nós sobreviveríamos, com toda a nossa tecnologia. Quando haverá outra grande extinção? Ninguém sabe. O que podemos fazer? Quase certamente muito pouco.

O trabalho do dr. Black coloca as cartas na mesa e mostra o nosso mundo como ele realmente é: algo dinâmico, intempestivo e que pouco se importa com qualquer coisa viva por aqui, sem ter nada que nos salve. O pior disso tudo? É que talvez nem sejamos tão vilões assim, já que a Natureza já fez bem pior. Mas acho que estão dando uma mãozinha a ela de forma desnecessária.

Há 250 milhões de anos, o mundo começou a mudar novamente. Os continentes foram se juntando, formando o supercontinente Pangeia. Os choques das placas tectônicas fizeram aparecer montanhas e o ciclo climático mudou radicalmente. Ventos mudaram de direção e dissiparam as nuvens, as armadilhas siberianas se fecharam, o calor diminuiu e o ácido sulfúrico saiu da atmosfera, deixando que a camada de ozônio se formasse novamente. O Sol brilhou majestoso e outras formas de vida conseguiram florescer, pois elas conseguiram sobreviver aos negros tempos e resistiram, graças à sua aptidão conferidas por seus nucleotídeos. Essas formas de vida prosperaram; algumas foram extintas, outras conseguiram seguir adiante, subiram nas árvores, desceram delas e fundaram impérios.

A Seleção Natural tirou, a Seleção Natural deu de volta.


Fonte: MIT

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