Grandes Nomes da Ciência: Emily Rosa

rosa_emily.jpgTodos nós conhecemos pessoas que escreveram seus nomes no grande livro da história da ciência. Nomes como Copérnico, Newton, Darwin, Faraday, Lavoisier, Mendeleyev, Galileu, Einstein, Linus Pauling entre tantos outros que não dá para citar. No entanto, estes são os mais famosos, com uma produção científica de inegável importância; mas existem aqueles que contribuíram, contribuem e contribuirão muito para o avanço de nosso conhecimento, mas não necessariamente serão famosos e/ou conhecidos dos leigos. Sabemos que Stephen Hawkings é uma das maiores mentes científicas da atualidade, assim como sabemos que a pesquisa de Richard Dawkins na Biologia Evolutiva também é fenomenal. Contudo, abordarei nomes que 90% das pessoas não conhecem. Nomes de pessoas que deram grandes contribuições ou que se destacaram muito, mas que a publicidade não chegou a iluminá-los por completo. Quando a publicidade veio, foi embora e muitos não se lembram mais.

Pode-se pensar que para ser um bem cotado cientista, com trabalhos publicados e reputação entre seus pares demanda anos de preparação e estudo. Na larga maioria das vezes é verdade, mas também há aqueles que surpreendem e se destacam ainda bem jovens, muito jovens, muito jovens mesmo! Um perfeito exemplo disso foi uma menina que usou as bases do Método Científico e teve seu nome num artigo científico, ganhando notoriedade por ser a pessoa mais jovem a ter seu nome num artigo publicado num periódico científico com revisão por pares, chegando até mesmo a constar no livro Guinness, o livro dos recordes. O nome dessa menina é Emily Rosa (hoje com 23 anos) e ela foi capaz de desmascarar a pseudociência do Toque Terapêutico, ganhando admiração de cientistas e de pessoas que defendem que a pseudociência esteja bem longe das pessoas.

De início, vamos explicar o que é Toque Terapêutico e o porque dessa besteira ser considerada pseudociência.

Toque Terapêutico, ou TT – ou práticas semelhantes, como o Reike – baseia-se no uso de um “campo de energia humana”, já que este “campo” flui em padrões equilibrados na saúde mas é desviado e/ou desequilibrado quando na doença ou ferida. Assim, o especialista em TT (como é o nome desse “profissional”? Tocador Terapeuta?) usa seus, digamos, poderes energéticos para restabelecer o equilíbrio energético da pessoa, ajudando na sua recuperação e cura. Isto significa dizer que você, caro (seja doente ou hipocondríaco) paga uma grana para o “especialista”, ele ficaa uma sessão passando a mão sobre você para lá e pra cá e pronto! Seu equilíbrio energético está perfeito e você estará curado dentro em pouco. Se não curar, você volta para mais uma sessão, e outra, e outra, e outra… ad aeternum.

O Reike é um pouco diferente, mas está no mesmo juízo de valor (falcatrua, pseudociência, safadeza, charlatanismo etc). No Reike, o “especialista” conflui a energia do Universo através de suas mãos e aplica sobre determinada região a ser tratada. A mesma coisa podemos ver nos “passes” que centros kardecistas aplicam através de médiuns com espíritos incorporados ou outras bobagens nesse sentido. Tudo isso baseia-se na mesma coisa: má fé de quem aplica, ingenuidade de quem se submete ao “tratamento”.

Se você é uma das pessoas que pagou por isso e acha que se deu bem, você foi lesado. Se você acredita e defende, é burro. Se você acredita, defende e é um dos “especialistas”, você é um safado e deveria ser preso por estelionato e charlatanismo. Nao gostou? Azar, ninguém mandou vir num site cético, manezão!

Na Revista Brasileira de Enfermagem, publicaram um artigo descrevendo os efeitos gradativos do toque terapêutico na redução da ansiedade de estudantes universitários. Estaria o TT provando sua eficácia? Com certeza, não!

Richard Dawkins fez uma série chamada Inimigos da Razão, onde ele coloca diversos pseudocientistas sobre o escrutínio da Ciência (preciso dizer que todos eles falharam?). O mais interessante foi o depoimento de um médico do que seria o SUS da Inglaterra. Ele diz que devido à grande quantidade de pessoas nos hospitais diariamente, os médicos tinham pouco tempo para atender cada paciente. Já esses “terapeutas alternativos” ofereciam mais tempo, atenção e conforto durante as sessões. As pessoas se sentiam mais confortáveis e seguras e isso influía no quadro de saúde. No caso do artigo da Revista Brasileira de Enfermagem, os universitários estavam com ansiedade; logo, um tempo para relaxar somado ao fator psicológico baseado naquele passar de mãos ajudaria em algo atuam como efeito placebo. O mesmo não aconteceria com um paciente do Instituto Nacional do Câncer. O TT não passa de uma bobagem repleta de hipóteses ad hoc que afirma ter efeitos de causalidade sobre o mundo natural, onde seus proponentes alegam que pode sentir a energia corporal das pessoas e determinar como podem canalizar esta energia.

Depois de tudo isso esclarecido, fica a pergunta: O que uma menina de 10 anos tem a ver com isso?

Emily Rosa nasceu em Loveland, Colorado, em 6 de fevereiro de 1987. Em 1996, ela viu um vídeo com “profissionais” de Toque Terapêutico, os quais alegavam que podiam sentir um Campo de Energia Humana (ou HEF, na sigla em inglês). Emily ainda ouviu a ouviu a co-inventora deste “método medicinal”, Dolores Krieger, dizendo que todos tinham a capacidade de sentir o HEF, bem como o depoimento de outras enfermeiras que diziam que o HEF sentido por elas era quentinho e com a textura de caramelo. Que fofo, não? Mas é aí que entra a mola-mestra da Ciência: A curiosidade!

Emily estava impressionada pela forma como alguns destes enfermeiros sobre suas habilidades, e quis pagar pra ver se eles realmente podiam sentir alguma coisa. Assim, ela bolou um teste simples, mas tão simples, que a gente pergunta: Como diabos ninguém pensou nisso antes? Bem, muitos meninos viram lustres balançando, mas foi o jovem Galileu quem resolveu fazer testes e descobriu que o período de oscilação de um pêndulo é sempre o mesmo (e olhem que ele mediu o tempo com as batidas do coração e ainda hoje podemos usar cronômetros precisos para constatar que ele tinha razão).

O teste de Emily baseava-se no seguinte (vou colocar em um raciocínio mais formal para vocês perceberem melhor):

Premissa nº 1 – Especialistas em TT (assegurados pela própria criadora do método) afirmam que podem ser capazes de sentir o campo energético de qualquer um e “rearrumá-lo” afim de proceder o processo de cura.

Premissa nº 2 – De acordo com o princípio da Falseabilidade, deve-se estipular um método de análise que demonstre a viabilidade da alegação, mostrando que sim, os especialistas podem realmente sentir o chamado HEF de qualquer pessoa. Assim, mediante o ensaio, os especialistas deverão determinar o campo energético e, caso consigam, terão um ponto positivo que poderá (nada na ciência é 100% certo) dar credibilidade ao tratamento.

Análise – Qualquer experiência que demonstre que o TT falha, colocará em xeque a premissa nº 1. Dessa forma, se os “especialistas” falharem ao detectar o campo energético, ficará demonstrado que há um sério problema no postulado (TT baseia-se em manipular as energias emanadas pelo paciente e o terapeuta pode identificar e manipular estas energias). Assim, o método escolhido será o simples-cego, onde a parte analisada não sabe o que está acontecendo, baseando-se apenas nas instruções do pesquisador (no caso, Emily).

teste_emily_rosa.jpg Emily solicitou a vinte e um genuí­nos praticantes de TT (devidamente checados por uma fonte imparcial) que colocassem as mãos, de palmas viradas para cima, através de buracos numa divisória opaca, conforme ilustração ao lado (clique para ampliar). Do outro lado da divisória estava Emily colocava sua mão, com a palma virada para baixo, alguns centímetros acima de uma das mãos do “especialista”, escolhida esta ao acaso atirando uma moeda ao ar, usando assim de um fator aleatório para a escolha de qual mão ela a sua sobre. Pedia-se então ao terapeuta que se concentrasse e dissesse sobre qual das suas mãos estava a de Emily. Abaixo, uma foto de Emily fazendo o teste com uma das praticantes do TT.

teste_emily_rosa1.jpg

Os resultados foram muito… interessantes. Em cerca de 300 testes, os terapeutas acertaram em apenas 44% dos casos – resultado que está abaixo do nível do acaso; foi chute puro, mesmo!

Emily ganhou notoriedade pois publicou os resultados do ensaio, juntamente com sua mãe e mais dois médicos, na Journal of the American Medical Association , uma das mais prestigiadas publicações médicas americanas, co direito a revisão por pares, conferindo a Emily Rosa o direito de dizer que possui publicação científica indexada num periódico respeitável, coisa que é pra poucos! Ela foi matéria da Time em 13 de abril de 1998. e foi entrevistada pela seção Ask The Scientists, da PBS, emissora educativa dos EUA. Recomendo a leitura do depoimento de vários médicos e pacientes sobre o uso de terapias alternativas, também da PBS. Infelizmente, não encontrei os vídeos desse programa no YouTube. Quem achar, por favor, compartilhe. A ABC fez uma reportagem sobre o efeito placebo em contraposição ao tal Toque Terapêutico (cortesia do Trak Trak Trugui, que enviou por e-mail):

Emily deu várias entrevistas e sentiu na pele o que acontece quando alguém sopra com força sobre o castelinho de cartas da frágil credulidade das pessoas: Ela começou a ser atacada pelos defensores desta bobagem, a começar pelo #mimimimi dizendo que se ela podia colocar um artigo científico na JAMA, então uma criança que defende o TT também poderia. O que as bestas não entendem (ou se fazem de idiotas) é que o artigo de Emily tinha respaldo científico, pois obedeceu às sagradas regras que regem a Ciência: O Método Científico. Se alguém quiser postar algum artigo provando que o TT funciona, faça o favor de fazer testes cegos, com supervisão independente. Eu até me predisponho a ser avaliador na hora (só não prometo não rir caso o negócio dê errado, e fatalmente vai dar). Não obstante, o cravo foi fincado: Quando uma criança de nove anos prova que sua pseudociência é tão digna de confiança quando ver as entranhas de um pato pra saber se vai chover amanhã, então, meus amigos, aceitem o fato: seu Toque Terapêutico é inútil e vocês não passam de exploradores da credulidade alheia. Cadeia é pouco pra gente assim.

Prêmios que Emily ganhou:

1998 – “Cética do Ano”, Prêmio James Randi da Skeptics Society.
1998 – Prêmio de US$1000,00 pela Fundação Educacional James Randi.
1999 – Reconhecimento do Guiness Book of World Records, como a pessoa mais jovem a ter uma pesquisa original num periódico científico indexado.
2000 – 1º Lugar na Feira de Ciência do Colorado (categoria Ciências da Terra e Espaço).
2003 – Prêmio “Futuro do Livre Pensamento”, pela Aliança Internacional Ateísta.

Emily ganhou seu espaço e será reconhecida como um dos Grandes Nomes da Ciência.

27 comentários em “Grandes Nomes da Ciência: Emily Rosa

  1. André, má fé existe em qualquer lugar e todos sabemos disso, mas da forma que você colocou, dá a impressão que todo centro espírita que aplica o “passe” age de má fé e isso não é verdade. Uma pessoa que aplica o passe pode fazer por pura ignorância, ela acha que aquilo faz bem ao próximo e continua fazendo, não necessariamente por má fé.

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    1. Se eu chegar lá e disser que o médium com pão e manteiga é capaz de voar, ele vai pular do alto de um prédio? Se não é má fé, é estupidez galopante. E essa estupidez causa mortes, por falta de tratamento adequado.

      De minha parte, deveriam prender por charlatanismo e, caso haja consequencias graves, tentativa de homicídio (eu nunca fui de meias palavras).

      Ou provam que a baboseira funciona ou parem com isso. Se continuam, é má fé.

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      1. @André, Muitas vezes essa gente nem sabe que já provaram que aquilo não funciona. Você acha que eles sequer tem conhecimento desse experimento? E o tal do passe é algo mais relacionado ao psicológico do que o físico. No centro espírita que a minha namorada frequenta, os passes só são feitos em quem está com algum tipo de problema emocional (que requer um psicólogo, não um médium), ninguém aparece ali com um câncer pedindo pra tomar um passe.

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    1. Obrigado à todos que se mataram por tentar responder minha pergunta, mas finalmente eu encontrei alguma coisa.
      Ela se formou ano passado em psicologia. E fiquei sabendo também que agora ela está incrívelmente linda.

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  2. Desculpem o double post, eu escrevi o que tá acima e esqueci de comentar o artigo:

    Muito bacana o experimento dela sem dúvida alguma. Olhando pra ele eu faria um segundo experimento, faria a mesma coisa, só que ao lançar a moeda pra escolher o lado, eu “deixaria escapar sem querer em voz alta” o lado em que eu colocaria a mão só pra ver se os “profissionais” magicamente escolheriam a mesma mão. :P

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  3. Essa bobagem enche o saco. E o pior que 100% da minha familia(do lado do meu pai) acredita nessa merda.

    Eu tenho uma historia com essa porcaria de “passe”, meu bisa-avô fundou o centro espirita da minha cidade, todos do lado da familia do meu pai são espiritas, eu fui obrigado por anos a ir nesses ridiculos passes.

    Finalmente estou livre de ter que aguentar isso, eu comecei a ficar realmente inteligente (virei cético) em torno dos 12 anos, ai fora mais 6 anos aguentando isso.

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  4. “Se você é uma das pessoas que pagou por isso e acha que se deu bem, você foi lesado.”
    Por que lesado? Não acreditas que a pessoa pode se curar acreditando que aquele método tá fazendo efeito, ou seja pela força da mente? (sem interferência sobrenatural)

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    1. Suponha que vc tenha dor de cabeça. Daí, vc vai na farmácia e compra uma cartela de aspirinas. Vc toma e a dor passa. No dia seguinte vc descobre que eles te venderam comprimidos de farinha e sua dor foi curada por efeito placebo. Como vc reagiria ao fato do farmacêutico ter lhe vendido comprimidos de farinha no lugar de aspirina?

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      1. @André, certamente eu pensaria: “Cabra safado!” e teria vontade de matar ele..
        Mas eu gostaria de saber a opinião pessoal de um cético tão ilustre como tu: Acreditas que esse efeito placebo seja pela força da nossa mente, ou isso é pura bobagem e tudo não passou de mera coincidência?

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        1. O Efeito Placebo é bem documentado. O corpo tem capacidade de secretar substâncias que agem na melhor, ou mesmo cura de certas enfermidades. Isso não significa dizer que poderia ser usado com pacientes de câncer, obviamente.

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  5. Este caso ilustra bem que, para se fazer ciência, muitas vezes não é preciso muito mais que curiosidade, ceticismo e lógica. Eu diria que são os ingredientes fundamentais – tendo-os, as demais qualidades são uma questão de tempo.

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  6. Quem escreveu isso, uma criança? Pensei que ia ler um artigo sério e parecia um rompante de ódio de um pré-adolescente em um forum, por essas e outras que nós céticos somos vistos como um bando de animais raivosos.

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    1. Sim, débil mental, porque falar de uma menina de 10 anos que colcou a merda da pseudociência do Toque Terapêutico de joelhos, explicando sua metodologia, é rompante de pré-adolescente.

      Volte com o seu Reiki de onde vc veio, retardadinho

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  7. ótimo texto, sagaz e cirúrgico…. A acupuntura tem feito bons lucros por aqui onde moro.
    As pessoas que fraquentam dizem sentir alívio das dores. O que acha disso? E porque esta prática da “medicina” oriental vem ganhando dimensões ultimamente? Há comprovações científicas positivas para a acupuntura?

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