A Física e a Química do Aqueduto de Patara ou Delikkemer

Os aquedutos romanos foram uma das mais impressionantes realizações da engenharia da Antiguidade, vitais para fornecer água potável para as cidades, portos, fazendas e minas em todo o império. Essas estruturas podiam ter até 250 km de comprimento e transportar até 200.000 m³ de água por dia. Durante o período conhecido como Pax Romana, entre 25 A.E.C. e 200 E.C., quase todas as cidades importantes construíram seus próprios aquedutos, e atualmente são conhecidos mais de 1.400 grandes aquedutos romanos.

O Aqueduto Delikkemer perto de Kaş, Turquia, é um exemplo impressionante da engenharia romana antiga. Também conhecido como Aqueduto de Patara – localizado na antiga cidade portuária de Patara –, esta maravilha da Engenharia foi construída durante o reinado do imperador Cláudio (41-54 E.C.). Ele se destaca não só por sua complexidade técnica, mas também por sua adaptação ao terreno desafiador da região.

Patara era uma cidade situada em uma região montanhosa da costa sul da Anatólia, uma área conhecida por seu terreno acidentado e vales profundos. Esse terreno montanhoso apresentava desafios significativos para o transporte de água, e os engenheiros romanos precisaram de soluções inovadoras para superar esses obstáculos.

Você sabe que romanos eram ótimos na Engenharia Civil, ainda mais pelos seus grandes aquedutos, como o de Segóvia e a Pont du Gard.


Aqueduto de Segóvia


Pont du Gard

Nem sempre era possível construí-los assim, já que algumas regiões, como a de Patara, exigiria várias pontes com muitos arcos, o que levaria muito tempo para construir e demandaria muita matéria prima e mão de obra. Então, eles faziam uso do que hoje chamamos de “sifão invertido”, o que foi empregado no Aqueduto de Patara, que transportava água por tubos através de vales profundos, sem a necessidade de grandes pontes ou aquedutos elevados.

O sifão invertido funciona usando o princípio da pressão, onde a água desce por um tubo em um lado do vale e sobe pelo outro lado devido à pressão gerada pela diferença de altura, permitindo que o fluxo continue mesmo em terrenos irregulares. Se fôssemos construir um modelo de sifão invertido, seria assim, o que você pode fazer com canudinho dobrável:

O aqueduto de Patara foi projetado para transportar água de fontes localizadas a 680 metros acima do nível do mar, ao longo de 23 km. Este sistema incluía elementos como pontes, o mencionado sifão invertido e uma combinação de canais de alvenaria e tubulações de cerâmica. Cada bloco se encaixava perfeitamente no outro, como peças de Lego.

O design do aqueduto foi cuidadosamente adaptado ao terreno acidentado, com os canais de alvenaria servindo para conduzir a água por encostas mais suaves, enquanto os sifões invertidos e as pontes permitiam a travessia de vales profundos e outros obstáculos naturais. Essas estruturas mostravam a eficiência do projeto para manter o fluxo de água contínuo, crucial para o abastecimento da cidade.

Além dos aspectos técnicos, o aqueduto de Patara também revela muito sobre as condições ambientais e paleoclimáticas da época por meio dos depósitos de carbonato encontrados nas suas estruturas. Esses depósitos formados ao longo do tempo são um arquivo de alta resolução para estudar as condições ambientais, revelando variações sazonais e fornecendo informações sobre a duração e a frequência do uso do aqueduto.

As camadas de carbonato permitem análises isotópicas e microestruturais que podem identificar padrões climáticos e alterações no fluxo de água ao longo do tempo. Esses estudos também podem fornecer dados sobre eventos sísmicos que afetaram a estrutura, como o terremoto de 68 E.C., que danificou o sifão invertido do aqueduto de Patara, tendo sido mais tarde restaurado durante o reinado de Vespasiano (69-79 E.C.).

Romanos não eram interessados em Ciência. Estavam unicamente interessados nos usos e aplicações práticas. Eles não teorizaram sobre o sifão invertido, bem como não estudaram resistência e materiais, mas sua engenharia, com seu enfoque em durabilidade e funcionalidade, deixou um legado que ainda influencia a engenharia moderna, especialmente em áreas de transporte e gerenciamento de água.

Ao entender essas realizações, é possível apreciar melhor a sofisticação da tecnologia romana e o impacto duradouro que teve em nossa civilização.

Um comentário em “A Física e a Química do Aqueduto de Patara ou Delikkemer

Deixe um comentário, mas lembre-se que ele precisa ser aprovado para aparecer.