As Tábuas de Kultepe: quando a Anatólia se tornou o berço do comércio

A história está cheia de personagens interessantes e outros um pouco, como direi, não muito chegados à honestidade, como é o caso de Ea-Nasir, o pior comerciante do mundo. Mas o comércio é a mola mestra das civilizações, existindo desde que o mundo é mundo, para horror do seu amigo que compra camisa na Che Store e odeia o capitalismo.

E nas profundezas da Anatólia, uma descoberta nos dá um vislumbre da história do comércio. Em Kültepe, uma antiga cidade situada a 18 km do centro de Kayseri, na Turquia moderna, arqueólogos fizeram uma revelação impressionante: uma tábua cuneiforme de 4.000 anos que detalha a fundação da primeira empresa conhecida na região.

O dr. Fikri Kulakoğlu, líder das escavações em Kültepe e pesquisador do Departamento de Arqueologia da Universidade de Ancara, e seus colaboradores estudam esta tábua, que seria mais uma entre mais de 20.000 encontradas no local, mas ela nos fala das sofisticadas práticas comerciais que floresceram nesta encruzilhada de civilizações antigas.

Kültepe, também conhecida como Kanesh, era um importante centro comercial durante o período assírio, servindo como ponto de encontro para mercadores de toda a região. A tábua – datando mais ou menos do ano 1920 AEC – encontrada lá é essencialmente o contrato social da primeira empresa da Anatólia. Ela marca o início da escrita e do comércio organizado na região.

O documento revela detalhes surpreendentes sobre esta empresa pioneira, fundada por um grupo de doze sócios. A companhia iniciou suas operações com um impressionante capital inicial de 15 kg de ouro, o que é substancial hoje, ontem, anteontem, milhares de anos no passado. Cada sócio contribuiu com uma quantia diferente, demonstrando uma estrutura de investimento sofisticada para a época.

Um mercador chamado Amur Ishtar foi encarregado de gerenciar o capital da empresa por um período de doze anos. Os lucros eram compartilhados, com um terço sendo distribuído entre os sócios. Este arranjo demonstra uma compreensão avançada de gestão financeira e distribuição de lucros.

Talvez o aspecto mais notável desta antiga empresa seja seu rigoroso sistema de governança. Todas as transações eram seladas e registradas na presença de testemunhas, garantindo transparência e responsabilidade. O contrato da empresa também incluía cláusulas para a retirada de capital, com penalidades para saídas antecipadas – uma prática surpreendentemente moderna.

Esta descoberta não apenas ilumina as práticas comerciais da época, mas também ressalta a importância estratégica de Kültepe como centro comercial. A cidade era um ponto crucial nas rotas comerciais, facilitando a troca de bens, culturas e ideias entre várias civilizações.

Cada uma das tábuas de Kültepe adiciona uma nova peça ao quebra-cabeça, pintando um quadro cada vez mais claro de uma sociedade antiga que, em muitos aspectos, não era tão diferente da nossa, lembrando que as raízes do comércio moderno são profundas e antigas.

Mas não, gente. O capitalismo começou ontem, Karl Marx falou que isso seria a queda da civilização, seríamos inundados por uma praga de gafanhotos, Jesus desceria à terra, haveria o Armagedon, o fim está próximo, de todo o seu dinheiro para os partidos políticos de Esquerda, Direita, Em Cima, Embaixo BA.

Bem longe no tempo e espaço, Amur Ishtar distribui os dividendos aos seus sócios e ajudando a desenvolver a região antes que vire um areal.

Ea-Nasir, você continua sendo um cuzão!

4 comentários em “As Tábuas de Kultepe: quando a Anatólia se tornou o berço do comércio

  1. Comércio enquanto categoria histórica antecede o capitalismo e continuará existindo mesmo quando o capitalismo for superado.

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