
Os exércitos estão prontos! Os sons dos tambores de guerra ressoam pelo campo de batalha TUM! TUM! TUM! TUM! TUM! Os clarins cortam como um machado o ar abrasador, inflamado pelo inclemente Sol e a temperatura daqueles que estão lá para aniquilar uns aos outros. TUÓÓÓ-RÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓ. Soldados batem com as lanças nos escudos. PÁ! PÁ! PÁ! PÁ! Imprecações são gritadas e elas tomam conta do vale que verá o rubro sangue daqueles que se enfrentarão dali a instantes, e a peleja será de uma violência sem limites tendo como fundo sons de poder. Reis prontos, os arqueiros esticam as cordas e as infantarias flexionam os joelhos, prontos para correr com lanças em punho, enquanto aqueles que conduzem as bigas de guerra irão se chocar numa batalha brutal.
Quando os generais de um dos exércitos vai dar a ordem de ataque, o adversário toma a frente e faz o primeiro movimento, libertando feras selvagens, monstruosas e aterrorizantes. O outro lado fica horrorizado e foge em disparada aterrorizada com a visão horrível e dantesca.
As feras eram… gatos.
A história do Mediterrâneo Antigo é pontuada por eventos que redefiniram civilizações inteiras, e a Batalha de Pelúsio, travada em 525 A.E.C., exemplifica esse fenômeno. Esse confronto marcou o colapso da 26ª Dinastia Saíta e a incorporação do Egito ao Império Aquemênida, demonstrando como o conhecimento cultural e a estratégia psicológica podem ser armas tão poderosas quanto a força militar.
Há a historinha que Ricardo Coração de Leão visitou Saladino, que então controlava a área de Jerusalém. Ricardo Coração de Leão sacou aquela espadona imensa e partiu uma barra de ferro dizendo que deveriam temer a força de seu exército. Nisso, conta-se, Saladino pegou o véu de uma das suas escr… moçoilas que faziam favores sem ter dinheiro envolvido porque.. né?… jogou para cima e amparou com sua espada, cortando o véu em dois, ao que ele responde a Big Richard: “Majestade, mais vale a astúcia”.
Eu gosto dessa história. Muito provavelmente é mentira, mas eu gosto dela assim mesmo. Outra história que eu gosto é a que eu irei contar. E ela começa lá pelas bandas do século VI A.E.C., quando o Egito – após um período de fragmentação – encontrava-se em um processo de revitalização sob o governo do rei Amasis, cuja diplomacia e política militar restauraram a influência egípcia. Amasis reforçou alianças com cidades-estado gregas e contratou mercenários estrangeiros para fortalecer suas defesas.
No entanto, Amasis foi chamado por Anúbis e foi dar um rolé em direção ao Pós-Vida em 526 A.E.C., deixando o trono nas mãos de seu filho, Psamético III, um inútil governante e que mal teve tempo de consolidar sua posição antes da ofensiva persa.
Do outro lado havia Cambises II, rei do Império Aquemênida e filho de Ciro, o Grande (sim, AQUELE Ciro que libertou os judeus do cativeiro na Babilônia). Cambises havia herdado não apenas um vasto império, mas também uma tradição de conquista baseada em planejamento estratégico e adaptação cultural. O Grande Rei Persa, diferente de Psamético, havia sido preparado desde criança para assumir o reinado e tinha o costume de estudar o inimigo antes de atacar e com o Egito não foi diferente.
Determinado a expandir seu domínio, o Cambises compreendeu que derrotar o Egito exigiria mais do que poderio militar – seria necessário minar sua moral e explorar sua estrutura sociocultural. Em termos de hoje, apelaria para Op. Psi., Operações Psicológicas, mas não me perguntem como isso se escreve em persa antigo, porque eu não faço a menor ideia. Também não sei como se diz estratégia ou abóbora em Persa Antigo. Em resumo, eu não falo nem lei em Persa Antigo e eu nem sei por que estou perdendo o meu tempo escrevendo isso.
A campanha persa contou com a traição de Fanes de Halicarnasso, um comandante mercenário grego que outrora havia sido contratado pelos egípcios, que eram inocentes e não faziam ideia que um mercenário podia trocar de lado mais de uma vez. Dessa forma, Fanes desertou do exército egípcio, fornecendo aos persas informações valiosas sobre as defesas do inimigo. Além disso, Cambises II empregou uma tática psicológica sem precedentes: usou a religião egípcia como arma.
Sabendo que muitos animais eram tidos como sagrados no Egito – especialmente gatos, por serem personificados na figura de Bastet –, Cambises, o Sacana (você só lerá esta alcunha aqui) posicionou gatos, cães e ibises (plural de íbis é ibises, né? Se não for, passa a ser e não vou procurar. Me processem!) na linha de frente de seu exército, com alguns soldados levando gatos presos ao corpo. Alguns persas inclusive atiravam gatos nos egípcios, e isso fez um barata-voa no exército do pessoal do Nilo.

Um dos motivos é que matar ou apenas ferir gatos era pena de morte no Egito, e os soldados ficaram naquela se iam ser executados se matassem os bichanos do exército inimigo, então, preferiram a certeza do que a dúvida e o melhor era fugir!
A derrota egípcia foi rápida e devastadora: os egípcios perderam 50 mil homens, enquanto os persas perderam apenas 7 mil homens
. Pelúsio, a principal fortaleza do delta do Nilo, caiu sem resistência significativa, abrindo caminho para a marcha persa até Mênfis (não a do Elvis, e eu sempre faço esta piada. Não gostou, azar).
Psamético III foi capturado e, após uma tentativa frustrada de insurreição, executado ou forçado ao suicídio, encerrando de forma trágica a autonomia do Egito faraônico. A anexação do Egito ao império persa transformou a antiga terra dos faraós em uma satrapia, um território dependente do império que o conquistou, no caso, os aquemênidas.
Os persas governariam o Egito como uma nação autônoma seguindo o domínio persa por cerca de duzentos anos durante as dinastias 27 e 31 até a chegada dos exércitos de Alexandre, o Grande, e conquistaram a terra em 331 A.E.C. e governaram por uma monarquia grega até serem anexados pelo reino romano em 30 A.E.C.![]()
Os relatos sobre a batalha, em grande parte derivados de Heródoto, combinam elementos históricos e míticos, como é de praxe nas obras daquele corno, que fez uma lambança com a História colocando deuses, heróis, semideuses e mentira deslavada, então, fica difícil se isso aconteceu mesmo.
Embora as fontes clássicas enfatizem a astúcia de Cambises e a fragilidade de Psamético III, evidências arqueológicas sugerem que a conquista persa pode ter sido ainda mais brutal do que os registros gregos indicam, com um processo de dominação que envolveu saques, destruição de templos e repressão severa contra dissidências.
Se houve mesmo o caso de um monte de gatos terem sido soltos e os egípcios colocando sebo nas canelas e picando a mula, creio que nunca saberemos, mas fica divertido pensar que sim, e para mim isso é o bastante.

Um comentário em “Quando persas atacaram egípcios com feras demoníacas”