
Você pode pegar o mais bravo marujo, o mais intrépido aviador e o mais audacioso soldado, reunindo-os a uma mesa – o que se tem? A soma dos seus medos.
– Winston Churchill (apud Tom Clancy)
Você pode achar que é corajoso. Obviamente, é uma sensação sua, mas ela é ilusória. Você não é tão corajoso assim, apenas está num ambiente seguro. Você não conhece o sentimento de vazio, abandono e solidão, do mais puro vazio… não como Dale Gardner.
Dale Gardner nasceu em de novembro de 1948, em Fairmont, Minnesota. Ele seria mais um Zé Ruela, Zé Mané ou Zé Goiaba, mas acabou entrando para a faculdade e se formou em Engenharia Física pela Universidade de Illinois, em 1970. Até aí, nada demais também.
Após a formatura, Gardner entrou para a Marinha dos Estados Unidos e foi designado para a Escola de Candidatos a Oficiais de Aviação em Pensacola, Flórida, onde se destacou como Oficial de Voo Naval. Após seu treinamento em Pensacola e Georgia, trabalhou no desenvolvimento do F-14 Tomcat antes de ser selecionado pela NASA como astronauta em 1978.
Sua carreira como astronauta incluiu duas missões importantes: STS-8 em 1983 e STS-51-A em 1984. Foi durante esta última que Gardner realizou um dos atos mais ousados da história da exploração espacial.
Em novembro de 1984, durante a missão de recuperação do satélite Westar 6, Gardner enfrentou o vazio cósmico de uma forma que poucos humanos ousaram. Em um momento crítico da operação, Gardner se desconectou completamente de seus cabos de segurança, confiando apenas em sua Unidade de Manobra Tripulada (MMU) para navegar pelo infinito negrume do Espaço.
Ao sabor das mínimas ondas do campo gravitacional terrestre, estando a centenas de quilômetros acima da Terra, sem qualquer conexão física com a nave, Dale Gardner, o piloto com bolas de aço, experimentou uma solidão que poucos podem compreender: Cada movimento calculado, cada respiração medida, pois, um erro significaria potencialmente perder-se na imensidão do cosmos, tornando-se um satélite humano sem esperança de resgate.
O silêncio absoluto do Espaço, interrompido apenas pelo som da sua própria respiração no capacete, acompanhava seus movimentos precisos enquanto trabalhava para capturar o satélite errante. Esse ato de coragem extraordinária não apenas completou a missão com sucesso, mas estabeleceu Gardner como um dos mais destemidos exploradores da Fronteira Final.
A missão foi cumprida, a captura bem-sucedida, e Dale Gardner iniciou sua jornada de retorno à segurança do ônibus espacial. Aqueles minutos finais, suspenso entre a vida e a morte, entre a Terra azul abaixo e o negro infinito acima, marcaram não apenas um triunfo técnico, mas um momento transcendental na exploração espacial.
Quando finalmente retornou à câmara de ar da Discovery, Gardner carregava consigo mais que um satélite recuperado – trazia a prova do que o espírito humano é capaz quando desafia seus próprios limites. A icônica fotografia em que ele segura um cartaz improvisado dizendo “À VENDA” junto ao satélite captado tornou-se um símbolo da audácia e do humor que definem os melhores momentos da nossa aventura espacial.

Anos mais tarde, quando perguntado sobre o que sentiu naqueles momentos de absoluta solidão espacial, Gardner respondeu com simplicidade profunda: “Vi o universo como poucos puderam ver, e ele olhou de volta para mim”.
A honestidade, entretanto, não me permite dizer que Gardner foi o primeiro a fazer isso. Bruce McCandless II, tripulante do ônibus espacial Challenger, foi o primeiro, em 7 de fevereiro de 1984.
O feito de um não é menor que o do outro. Ambos foram exploradores, foram aventureiros. Foram extremamente corajosos. Eu resolvi falar mais de Dale porque… porque sim. Não tenho outra resposta, e é essa que me basta.
Para finalizar, eu gostaria de falar de como o capitão Dale Gardner terminou seus longos anos contando histórias do Espaço e como ele fez o que ninguém ousara fazer até então. Gardner não desapareceu no Éter do Espaço como Major Tom. A Gravidade não ousou testá-lo. A Terra não o atraiu para que ele fosse consumido em chamas numa reentrada, se tornando uma estrela cadente. Dale Gardner faleceu em 19 de fevereiro de 2014, aos 65 anos, vítima de um AVC.
Mas o vídeo de ele indo, flutuando, voando, pairando pelo Espaço ainda está em cada molécula suspensa do Universo, e que podemos traduzir coo vídeo, a ponto de mostrar que seres humanos são fantásticos e podem fazer o impossível.

Um comentário em “Dale Gardner: o sujeito que foi aonde ninguém teve coragem para ir”