Eu adoro soluções para problemas que não são problemas. Pessoal vive preocupado com o quanto seu celular consome de eletricidade, em termos monetários, ao recarregar a bateria. Daí, ficam inventando inúmeras soluções, na maioria idiotas, prometendo um mundo mágico de uso de eletricidade gratuita. Alguns usam até uns geradores eólicos caseiros, contando com o poder e Eolos para carregar o seu celular.
Mas faz sentido?
O Great Scott é um excelente canal se você gosta de eletrônica e projetos com Arduino. Ele é bem didático, apesar de seus vídeos ser em inglês, e antes que você reclame, ele é alemão.
Enquanto ele não está prensando em invadir a Polônia, o Great Scott resolveu fazer um teste comparativo. Ele comprou um carregador de celular que obtém eletricidade por meio de uma mini-usina eólica e montou a sua, com um motor elétrico e peças feitas com auxílio de uma impressora 3D. Aqui o vídeo:
Viram o vídeo? Ótimo. Mas… vale a pena?
O Infinite Air está disponível na Amazon-chucrute, pela bagatela de 119 euros. Meio puxadinho, não?
Convertendo para o real ao valor deste fim-de-semana (R$5,45), o valor fica em R$648,61. Mas isso é muito, é pouco… Quanto se gasta para carregar um celular? Bem, farei os cálculos com o meu celular, um Samsung Galaxy A50 (todo mundo faz com iPhone. Dane-se iPhone, os cálculos são os mesmos, só variando os dados. Tô nem aí pra iPhone).
O A50 usa bateria de íons de lítio de 4 A.h (não vou escrever 4000 mA.h como todo mundo, porque este site trabalha no SI). Sua bateria, segundo algumas especificações é de 3,87 V em média, mas meu está com voltagem neste momento de cerca de 4 volts e uns quebrados. Vou utilizar 4 volts para efeitos de conta, ok?
Se você frequentou colégio que preste, sabe que a potência elétrica é definida como a rapidez com que um trabalho é realizado, certo? Errado, você deve ter aprendido apenas que Potência é a multiplicação do valor da “voltagem” (o nome certo é diferencial de potencial) pela intensidade de corrente elétrica. Sendo que resistência é a dificuldade que um fluxo de elétrons (a saber, corrente elétrica) passa por um determinado meio. Quanto mais fácil for passar eletricidade, mais condutor será o material.
Levando em conta que a Segunda Lei da Termodinâmica diz que não existe sistema 100% eficiente, temos que há perdas, e essas perdas são o seu consumo. No caso, os circuitos do celular, que consumirão a energia elétrica, transformando em outros tipos de energia. Não importa quais.
Matematicamente, P = V . i.
Logo, a potência que a bateria do meu celular é capaz de fornecer é dado por:
P = 4 . 4 = 16W.h
Olhando a minha conta de luz, eu sei que a Light (a concessionária de eletricidade do Rio de Janeiro) cobra pra cada quilowatt.hora o valor de R$0,78481. Como falei, estamos trabalhando no SI, logo, para cada watt.hora, a Light me cobra R$0,00078481.
Para carregar meu celular, então, eu gasto 0,00078481 x 16 = R$0,01255696
Supondo que eu carregue de zero a 100% todos os dias (o que é impossível para mim, mas vá lá), eu gastaria anualmente (sem levar em consideração anos bissextos) aproximadamente R$4,58. Vamos considerar R$4,60 anuais.
Agora vejamos o Infinite Air.
Se eu o utilizar todos os dias para carregar meu celular, levando em conta que ele precisa de uma bela dose de vento para fazer o seu trabalho, Irá demorar 141 anos (CENTO E QUARENTA E UM ANOS!), aproximadamente, para este troço se pagar. A única vantagem dele é ser utilizada pelos meus bisnetos, que até lá já usarão pilhas atômicas para carregar o celular que foi implantado nos seus cérebros e estarão rindo da minha cara enquanto estiverem colonizando as luas de Saturno, e de lá indo em direção a Alfa Centauri, numa nave espacial que não terá vento para girar esta tranqueira engana-trouxa.
Não é alentador saber que serei zuado por todos os meus descendentes ao ter gasto dinheiro com este treco.
Um comentário em “Incrível invenção de energia infinita totalmente gratuita pra carregar seu celular (sim, é bait)”