Eu parei de escrever sobre os grandes pronunciamentos da NASA. É frustrante a NASA chegar e anunciar que fará um grande anúncio, anunciando algo fantástico. Daí todo mundo fica naquela “Woooooo! Descobriram vida. Descobriram um fóssil! Descobriram para onde vai o meu dinheiro de impostos”. Aí ela chega e fala que achou uma pedra esquisita ou deu uns tiros de laser PEW PEW PEW e identificou uns átomos.
Desta vez não foi diferente. A NASA fez aquele mistério. O que foi descoberto? Presença de metano nas rochas. WOOOOOOOOO, SINAL DE VIDA!
Químicos fazem a cara desta imagem de abertura.
A drª Jen Eigenbrode é química (com ela a oração e a paz). Mais do que isso é biogeoquímica (mas será tratada como química, que são seres perfeitos). Ela é pesquisadora do Goddard Space Flight Center da NASA. Ela é a autora do trabalho. Mas que trabalho? O que o Curiosity encontrou em Marte?
O que o Curiosity achou foram “evidências preservadas em rochas marcianas que sugerem que o planeta poderia ter sustentado vida antigamente, bem como novas evidências na atmosfera marciana que se relacionam com a busca pela vida atual no Planeta Vermelho”. Foi isso o que o press release da NASA disse.
MAS CALMA!
No mesmo parágrafo é dito:
Embora não sejam necessariamente evidências da própria vida, essas descobertas são um bom sinal para futuras missões explorando a superfície e a subsuperfície do planeta.
Que bom que eles mesmos dizem que ter metano ali não significa evidência que havia vida. Pois se um tanto de metano preso numa rocha é evidência que havia vida ali, Titã, o satélite de Saturno que tem oceanos de metano, deve ser Mogo, o Planeta Vivo, só esperando por um anel energético.
Os dados colhidos pela Curiosity mostram que há alguns bilhões de anos, na Cratera Gale (onde a amostra de metano foi encontrada) havia um lago de água líquida. Sabem o que isso significa? Que havia água líquida e um tanto de metano que foi capturado da atmosfera (ou não. Não se sabe ao certo). De novo: não é indício que havia vida. É indício que, no máximo, a atmosfera de Marte tinha metano. Qualquer coisa a mais que isso é especulação.
Ah, sim! Outras substâncias orgânicas foram encontradas como tiofenos, benzeno, tolueno e pequenas cadeias de carbono, como propano ou buteno. Parece muito? Pois, não é tanto assim, ainda mais que em 2011 foram descobertos vestígios de adenina, guanina, a 2,6-diaminopurina, a 6,8-diaminopurina entre outras substâncias. Quem é metano na fila do pão?
Não me entendam mal. Eu acho que qualquer descoberta é uma grande descoberta. Mas dizer que isso está diretamente relacionado com uma possível existência de vida é apenas para gerar buzz e atrair a atenção das pessoas. Eu também entendo que a NASA, sendo uma agência governamental, depende de verba pública, e esta verba é conseguida junto a políticos. Assim, é preciso chamar a atenção do contribuinte, mostrando que a NASA não está apenas gastando dinheiro. Isso leva a jornais enfeitarem mais ainda, como o perfil do Globo no Twitter dizendo
Nasa encontra indícios de vida em Marte no passado: https://t.co/4sF4FNeYZ8 pic.twitter.com/HLMdNKkCGV
— Jornal O Globo (@JornalOGlobo) 8 de junho de 2018
https://platform.twitter.com/widgets.js
Sendo que a manchete da notícia é:
E que TAMBÉM está errado, conforme link do meu artigo supracitado.
Claro, pouco importa a real notícia ou o artigo científico. O que importa é vender cliques com manchetes que pouco se dão com a realidade e, por isso, eu chamo essa ralé de “jornaleiros”
Então, resumindo
-
Não, não foi encontrado indício de vida
-
Não, as moléculas não são tão complexas assim
-
Não, não são as moléculas mais complexas descobertas até hoje.
-
Não, ninguém sabe como este metano foi parar lá.
-
Não, ter metano não é nenhuma exclusividade marciana
Agora, vai lá ler o artigo publicado na Science, vai. Ou não leia. Só parem de espalhar bobagens, pois, APOSTO, já tem gente mencionando PT, PSDB, Lula, Bolsonaro, Dólar, gracinhas de todo tipo.