Pesquisadores estudam dentes de neandertais e descobrem muito do seu estilo de vida

Neandertais são nossos primos mais famosos, que tivemos o prazer de contribuir em mandar para a vala evolutiva. A importância deles é que são uma espécie de onde nós não evoluímos e estaria junto conosco hoje se Evil Darwin tivesse deixado. Bem, merda acontece e ela já limou 99% de todas as espécies que já viveram, o que em nada limita nossa curiosidade sobre saber sobre cada uma delas.

No caso dos neandertais nos interessa saber por serem uma outra espécie de hominídeos. Quem eram eles e o que comiam. Hoje, sabemos mais ainda sobre seus hábitos, como uma recente pesquisa publicada demonstrou.

A drª Laura Weyrich é paleomicrobióloga do setor de Genética e Evolução do Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências da Universidade de Adelaide, a anã paraguaia, na Austrália. Ela não é especialista em cangurus que apresentam amputação em um membro inferior (pelo menos, não está na sua bio, mas vai se saber…). Ela curte mesmo é homens idosos. Na verdade, nem é bem isso. Ela gosta de coisa pequena, mas não se anime. Não é desse tipo de coisa pequena que ela gosta.

Por “coisa pequena”, Laura gosta mesmo é de microorganismos, como os vestígios encontrados nas ossadas da caverna de El Sidrón, na Espanha. Cueva del Sidrón é um sistema de cavernas cársticas calcárias não carboníferas, localizado no município de Piloña, nas Astúrias, no noroeste da Espanha.

Confuso, né? Essas cavernas cársticas não carboníferas fica na Espanha, ao norte e um pouco pro oeste. A região é chamada “Astúrias” e o município (é tipo uma cidade, saca?) chamada Piloña. Eu não sei porque alguém chamaria de Piloña, mas também não é problema meu.

Como? A parte confusa é ser uma caverna cárstica? Significa que ela foi causada pela dissolução química das rochas, já que chuva ácida não foi inventada agora, apesar de ter sua ocorrência aumentada pela poluição. A água passar por certos tipos de rochas pode ter seu pH aumentado o que ajuda a dissolver mais ainda as rochas, e daí vai escorrendo e abrindo caminho. Obviamente, isso demora muitos milhões de anos.

O relevo cárstico ocorre predominantemente em terrenos constituídos de rocha calcária, mas também pode ocorrer em outros tipos de rochas carbonáticas, como o mármore e rochas dolomíticas.

Foi nesse tipo de ambiente que as cavernas de El Sidron se formaram. Lá foram encontradas várias amostras de arte rupestre da Era Paleolítica, com fósseis de mais de uma dúzia de neandertais, e é nesses neandertais que pesquisadores do mundo inteiro trabalham para entender melhor o que rolava naquela época.

Lady Laura, que não tenciona me levar pra casa, faz parte do Centro Australiano de DNA Antigo. Ela visa entender o comportamento de nossos amiguinhos, como dieta e história evolucionária, e até o que faziam para tratar doenças, e isso porque não tinha nenhum idiota para acusa-los de serem vendidos pela Big Pharma.

Enquanto a maioria dos jornais estavam enfatizando que “neandertais já usavam aspirina” (só que não), a pesquisa de Lady Laura é muito mais complexa. Ela examinou desde a ossada fossilizada até a placa bacteriana nos dentes do pessoal! Os pesquisadores foram capazes de analisar qual era a dieta dos defuntos antes de virarem defuntos, mediante restos de comida presos nos dentes, mantendo o DNA das amostras para a posteridade.

Quatro indivíduos com cerca de 42.000 a cerca de 50.000 anos de idade foram analisados, e suas placas bacterianas passaram por análise genética. Com isso, ficou-se sabendo que diferente de vários grupos de neandertais, o pessoal encontrado na El Sidron tinha uma dieta em grande parte vegetariana, composta por pinhões, musgo, cogumelos e casca de árvore. E sim, eu sei que cogumelo não é planta. Por isso o “em grande parte”.

Entretanto, outras pesquisas apontaram que o pessoal de El Sidron era chegado a comer um pessoal, também. Mas no sentido de canibalismo, mesmo.

Uma das ossadas apresentava um lindo (e doloroso) abscesso dental visível na mandíbula, mostrando que o pobre coitado dono dessa queixada também tinha um lindo parasita intestinal que causou uma diarreia aguda. Analisando os vestígios nos dentes, os pesquisadores descobriram que o neandertalzinho estava comendo choupo, muito provavelmente por causa do ácido salicílico que tem nele, que é um dos componentes da síntese da aspirina (o ácido acetil-salicílico). Mas daí a dizer que ele usava aspirina é forçar demais, só para garantir uns cliques safados, né?

Os pesquisadores também encontraram vestígios de Penicilum, o fungão do bem que produz a penicilina, mas é pouco provável que eles cultivassem isso para produzir antibióticos. É mais porque fungo é agente decompositor, mesmo e estava presente na comida estragada.

Micróbios têm evoluído sem seres humanos ou outras espécies, mas isso não significa que não tenham evoluído com eles também. A comunidade microbiana oral tem alterado durante a nossa história, evoluindo e se adaptando. Estudando como bactérias e fungos conviviam com outras espécies vivas não nos faz aprender só sobre esses safadinhos microscópicos, mas também a entender a nós mesmos e nossos primos extintos.

A pesquisa da drª Weyrich foi publicada na Nature: Ecology & Evolution.

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