Se algo ainda coloca moral nesse mundo é ele: o único e verdadeiro deus (Hades). Infelizmente, Hades saiu para desfilar na Unidos do Cabuçu (vai, pergunta) e deixou o carnaval sob o controle de Momo. Passado a festança, Momo embolsou a chave da cidade do Rio (que poderá ser readquirida na rua Uruguaiana, a preços módicos) e picou a mula; nisso, o Universo ficou a cargo de algum estagiário e estamos vendo o resultado agora.
Um grupo de velhinhas resolveu "comer deus" (no bom sentido, se é que há algo de bom nisso). A farinha estava batizada com algo du-bão e as tias surtaram bonito, querendo inclusive passar o rodo no padre. Divertimento maior não se via desde que Torquemada era carnavalesco.
Tudo começou já no final da Santa Missa, ritual sacro da Igreja Católica e livre dos poderes do maligno, certo? Errado. Os Poderes das Trevas se manifestaram e os olhos doces de algumas senhoras estavam aterrorizados. Eles viam gente morta… todo o tempo. Entre santos e bestialidades (não confunda com bestialismo), a devotas entraram num transe e se atracaram com os crucifixos. Algumas olharam para o padre e viram que ali estava Lúcifer, o Tinhoso, Maledetto, Pé-de-Boda, Cramunhão, o Capeeeeeeeeeeetaaaaaaaaa!!!!!!
O causo teve lugar na igreja do Santo Espírito de Campobasso, nos cafundó do Judas lá pela região central da Itália. Ao tomarem a hóstia, as velhinhas começaram a surtar generalizadamente, o que me faz ficar estarrecido. Eu sabia que misturavam farinha, maisena e outros artigos alimentícios a certos pós brancos (não necessariamente alimentícios), a fim de dar uma "batizada". O batismo parece que aconteceu às avessas, e as carolas saíram quais loucas atrás do padre, pensando que ele era o capeta. Como a fé remove montanhas, mas protege muito bem contra pessoas ensandecidas, Don Achille usou os poderes investidos pela Santa Madre Igreja e fez o que qualquer um com o mínimo de cérebro faria: saiu correndo e se trancou na sacristia.
As informações são da Fátima, que citou o Estadão, que citou o Correio do Brasil, que citou o Abruzzo24Ore.
Ok, ok. Mas o que Salém tem a ver com isso?
Eu não sei como foi a safra de vinhos de 1692, mas com certeza não foi um ano bom para os moradores de Salém, no estado norte-americano de Massachusetts. A varíola ceifava mais vidas do que podemos imaginar e a única arma (questionável) para conter o alastramento da doença era ter fé em Deus. Pena que isso não ajudava muito Salém parecia ponto de encontro de capetas, dispostos a acabar com todos os seres humanos. O inverno rigoroso fez com que aparecesse pequenas criaturinhas prontas a fazerem suas vítimas, só que as vítimas seriam mortas de forma indireta.
O ano de 1692 mostra como a histeria faz as pessoas agirem pior que animais. E isso por causa de um fungo: o Claviceps purpurea, também chamado "esporão de centeio". Um fungo que ataca… o centeio (entre outras gramíneas) e secreta substâncias semelhantes ao ácido lisérgico, o famoso LSD.
Nesse ínterim, Elizabeth Parris, a filha do novo pastor da vila, ficou doente sem nenhuma explicação. Ela começou a apresentar comportamento violento, gritava e batia no pai, dizia que estava ouvindo vozes e via pessoas mortas. O médico diagnosticou, diante do seu mais profundo saber científico, que ela estava endemoniada. Daí em diante, outras garotas apresentaram um quadro semelhante, mas especula-se que estas estavam mais sob um efeito de histeria coletiva do que contaminação por alguma coisa. O que Elizabeth Parris tinha era ergotismo, uma infecção causada pelo esporão de centeio que faz com que as pessoas tenham alucinações de tudo que é tipo, e quando a ordem do dia era o fervor religioso, acabou dando nas visões de Elizabeth Parris.
Começou uma onda de loucura em Salém e as pessoas estavam com medo. Familiares denunciavam-se mutuamente, vizinho denunciava vizinho e várias pessoas foram acusadas de bruxaria. Elizabeth e as outras meninas saíram apontando quem era bruxa(o) e estas pessoas tinham um julgamento justo… e depois a execução sumária. Mais de 150 pessoas encontraram seu fim por causa dos efeitos de um fungo e da histeria generalizada. (fontes [1] e [2])
O que aconteceu no último domingo foram os efeitos de substâncias alucinógenas oriundas da ação fúngica no trigo do qual se fez a farinha, e por fim a hóstia. A retirada dos fiéis, a maioria dos quais perigosamente alterados, não foi tranquila, como informou a polícia da cidade, por causa dos ânimos exaltados. Entretanto, segundo um comunicado à imprensa feito pela assessoria de imprensa da Diocese local, nada daquilo ocorreu. É tudo uma manobra para servir de ataque à Igreja Católica, como coisa que um bando de velhotas iria inventar aquilo com o objetivo de atacar Sua Santidade, Papatine XVI. Não compreendo este medo, já que nada teve a ver com a hóstia e sim com a ação microbiológica de uma criada por Deus, em toda a sua perfeição.
Varrer o fungo pra debaixo do tapete não funciona e parece que enquanto não houver outra ação assassina como a que ocorreu em Salém, os velhotes de vestido fashion não irão sossegar.

Me fez lembrar dessa: http://www.deveserisso.com.br/blog/curiosidades/histeria-coletiva-dance-ate-a-morte
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André… aqui em Ouro Preto/MG as inúmeras “repúblicas” estão distribuindo aos seus “alunos-hóspedes”, hóstias também batizadas…deve ser bruxaria (kkkk)… pois uma cidade tão tranquila, vira um inferno – literalmente falando – no carnaval e outros feriados! Pior ainda… com anuência do poder público!
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A participação do envenenamento por ergotismo no caso das bruxas de Salem é discutível, como pode ser constatado neste link: http://www.sciencemag.org/content/194/4272/1390
E, como agora já sabemos que essa história de hóstia “macumbada” era só um hoax, ficamos com aquela máxima do imortal Monteiro Lobato: “Quando a história é bem-contadinha demais, é melhor desconfiar!”
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