Grandes Nomes da Ciência: Al-Biruni

Um artigo que me deu trabalho e gosto de escrever foi os dos 1001 anos da Ciência Islâmica, onde os entelequituais do Orkut acham que estava errado pois muçulmanos sempre foram terroristas e “sabemos” que a ICAR foi quem construiu universidades na Europa, apesar de eu ter refutado bobagens e embasado todo o texto com fontes. Leitura? Para quê? Mas faltou muita coisa naquele texto, e eu pretendo sanar isso aos poucos (de preferência quando me der vontade). Assim, teremos algo sobre um dos maiores gênios da sabedoria árabe. Seu nome é Al-Biruni e ele simplesmente mostrou o tamanho não só do Império Árabe como de todo o planeta.

Tudo bem, você já ouviu milhares de vezes sobre a história de Erastóstenes. Eu também e gosto dela, mas parece arroz de festa em qualquer site de divulgação científica (existe até livro infantil sobre ele). Assim, eu deliberadamente NÃO FALEI sobre Erastóstenes. Detesto ficar repetindo o que os outros escrevem; não por minimizar o feito do sábio grego, mas porque fica aquele gosto “mais do mesmo”. Qualquer hora eu escreverei um artigo mais completo sobre ele e, acreditem, ele não fez só medir o raio médio da Terra. Assim, volto minha atenção para Abu al-Rayhan Muhammad ibn Ahmad al-Biruni, ou Al-Biruni, para os íntimos.

Al-Biruni nasceu em 15 de setembro de 973 E.C. na cidade de Kath, no atual Uzbequistão. Como todo bom sábio que se preza, ele era um polimata, ou seja, jogava nas onze e ainda entendia mais de arbitragem que o Arnaldo César Coelho. Das poucas coisas que Al-Biruni entendia podemos citar: matemática, astronomia, física, medicina, geografia, geologia e história. Praticamente, ele era a figura mais proeminente no seu tempo em todo o Império Islâmico, cuja era de ouro era repleta de sábios, mas Al-Biruni estava por cima da carne seca, não por ter as costas quentes, mas por realmente ser um dos mais sábios entre todos os sábios.

Al-Biruni, ao contrário dos pseudocientistas e metidos entender de Ciência, valorizava muito as experimentações, coisa que a maior parte dos gregos, em sua boçal arrogância, não achava valer muito (estou falando com você, Platão!). O que o destacou como cientista foi a introdução de métodos experimentais na Mecânica. Além disso, ele,muito anos dos Skinners da vida, já fazia testes no campo da psicologia comportamental (experimentando, sempre experimentando).

Ninguém sabe exatamente como Al-Biruni era fisicamente e os motivos podem ser facilmente deduzidos. Em 1973, o Afeganistão lançou um selo oficial com a efígie (pressuposta, claro) de Al-Biruni, uma homenagem mais que devida a um cientista que traçou a rota para Meca, já que isso é de extrema importância para os muçulmanos, pois eles devem rezar para lá.

Al-Biruni também queria saber como era o tamanho do mundo, outro assunto muito importante, pois o Império Muçulmano era vasto e seus governantes precisavam saber quão grande era este mundo.A-Biruni conhecia o trabalho de Erastóstenes, só que nada é tão bom que não possa ser melhorado. Assim, enquanto Arquimedes só precisava de um ponto de apoio para levantar a Terra, Al-Biruni precisou “apenas” de um astrolábio para isso (além de um ajudante, óbvio).

Um astrolábio é uma seção de uma esfera armilar e sua função é medir ângulos e elevações. Se você quiser saber a altura de um prédio, basta ficar até uma certa distância dele e medir o ângulo formado entre o seu ponto de observação e a altura do prédio. O restante? Geometria de Ensino Fundamental.

Este foi o fundamento que Al-Biruni usou. Ele ficou a uma certa distância de uma montanha e mediu a inclinação de seu ponto até o cume da montanha (ângulo θ1). Depois, andou até próximo da montanha, se certificando da precisão desta distância. Mediu a inclinação deste novo ponto em relação ao cume (ângulo θ2). Como eu sei que muitos de vocês não puxarão pela memória para saber como se calcula:

h = d . tg θ1 . tg θ2
tg θ2 –  tg θ1

Onde d é a distância entre os dois pontos de observação e h é a altura da montanha.

Chegando ao cume da montanha, Al-Biruni usou seu astrolábio para medir a inclinação de onde ele estava até o ponto no horizonte mais longe que ele conseguia observar. Fazendo suas continhas, Al-Biruni chegou à impressionante marca de 39.835 km para a circunferência da Terra! Hoje, o valor da circunferência da Terra, no equador é de 40.075,16 km. Um grego de mais de 2000 anos e um árabe de mais de 1000 anos ganharam de você e seu smartphone com GPS, 3G, GPRS e o KCT.

r = h . cos θ
1 — cos θ

Alguns críticos veem os números de Al-Biruni com reservas, argumentando que seus equipamentos não tinham precisão de um transferidor de hoje. Assim, as medições da altura da montanha estaria sujeita a erros e ele deveria dar um desconto por causa de sua própria altura. Sabem o que é isso? BESTEIRA! Houve erros? Claro que houve! Tanto que ele não acertou o valor correto. O importante nessa história foi a investigação, o questionamento, o raciocínio e o conhecimento matemático em nível de Ensino Fundamental. Qual aluno de Ensino Médio hoje conseguiria deduzir isso, mesmo sendo o aluno mais CDF do colégio? Mas que tal tentarmos, então? Você, professor, pode muito bem fazer este ensaio. Como? Não tem astrolábio? Oh, homens de pouca fé… No site do Tecnoclasta tem um excelente modelo de um astrolábio que você mesmo pode construir. Aprendeu? Ótimo, agora, larga a droga da sala de aula e passe a ensinar aos seus alunos.

Por suas várias contribuições para a Ciência de modo bem abrangente, sendo ele considerado o Pai da Indologia, Al-Biruni foi chamado de “Al-Ustadh” –  O Mestre – por ser um professor e sábio por excelência. Al-Biruni foi um homem de seu tempo com a beça no futuro e com o mesmo afinco que estudou as relações antropológicas de sua sociedade, perscrutou o céu e mediu o mundo. A grande enciclopédia astronômica que ele era não conhecia fronteiras, pois ele as viu e as mediu, sendo uma referência na Geodésia.  Pena que sua presença nos deixou em 13 de dezembro de 1048 E.C., mas seu legado, sabedoria, ensinamentos e exemplo seguirão com todo aquele que olhar para o céu ou para o horizonte num dia claro, imaginando qual é o ponto mais distante que se pode ver. É isso que faz Abu al-Rayhan Mu?hmmad ibn Ahmad al-Biruni um dos Grandes Nomes da Ciência.

9 comentários em “Grandes Nomes da Ciência: Al-Biruni

  1. É triste imaginar que, no Brasil, um aluno nunca conseguiria chegar a uma conclusão dessas do astrolábio. E o pior é que grande parte não consegue nem entender e uma maior ainda não gostaria de entender. Nosso futuro é prestar serviço braçal ou , na melhor das hipóteses, técnico pras nações desenvolvidas, onde crianças de primário publicam artigos científicos.

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      1. @André,
        Certa vez estava ensinando minha irmã, ainda no ginásio japonês, a encontrar resultados de equações. Minha mãe e irmão me olhavam com olhos arregalados e boca aberta. Depois de ensinar me perguntaram como eu, com 28 anos ainda lembrava. Eu respondi: “Vocês devem lembrar que se eu estudava tanto é porque não estudava apenas para passar de ano”.

        Eu era o nerd” da família, mas vim trabalhar atrás de dinheiro aqui no Japão e acabei emburrecendo (e nem estou vendo a cor do dinheiro). Mas estou disposto a recuperar o tempo perdido. E aos poucos estou recuperando o tempo perdido. Bons tempos que acendi uma lâmpada com limão e impressionava o pessoal…

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  2. Legal André, é bom ler sobre sábios islâmicos.

    Curioso o motivo que alguns tem em querer depreciar o conhecimento que foi desenvolvido nos países islâmicos, como se a ciência tivesse fronteiras.

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  3. Me impressiono com os conhecimentos matemáticos desse povo “de
    antigamente”. Li um artigo sobre Carl Sagan e fui logo assistir Cosmos e ler Mundo Assombrado por Demônios e lá o Erastóstenes foi citado no Episódio 2, se não me falha a memória. Fiquei impressionado com esse feito.

    Mas desde sempre soube que os árabes eram craques em ciências. Li o artigo sobre a ciência e me encantei mais ainda com a vontade de conhecimento daquele povo. Vontade que aos poucos vou readquirindo…

    André, ainda quero conhecer muitos Al-Birunis e Erastóstenes da vida. Gente assim me inspira.

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  4. porque excluem o oriente antes das grandes navegações do currículo de historia?
    acho isso injusto, porque com exceção de roma as maiores antigas metrópoles se localizavam bem no oriente.
    Nos livros de historia da escola publica simplesmente aparece “ao sudeste da europa”…
    que raio de explicação é essa?
    Acho que cai só um pouco sobre as cruzadas e como os cristãos foram legais com judeus e muçulmanos.

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  5. Lembrei de co-hi, ca-hi, co-ca. Não consigo visualizar o link que diz como montar o astrolábio, mas já procurei outras fontes. E caramba, queriam que o cara acertasse até a última casa decimal da medida da Terra? Ah vá! Ele experimentou, questionou e conseguiu algo. Só por isso já mereceria destaque.

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