Living Earth Simulator, o Simulador da Terra Viva

Lembra-se de tudo de melhor em termos de ficção científica? Pois, parece que está para se tornar realidade. Desde os primórdios, escritores de FC introduzem conceitos como Inteligência Artificial e mundo gerados por computador. Sim, eu sei o que você está pensando: Matrix Neuromancer, um ícone do Cyberpunk (quando terminar de ler este artigo, faça algo de bom na sua vida e compre o livro. Não vai se arrepender).

Agora, o que antes estava restrito à imaginação dos autores mais consagrados estará disponível no mundo real (se é que você sabe o que é real). Cientistas pesquisam em modelos computacionais de forma a reproduzir todas as variantes caóticas que constituem os sistemas climáticos e disseminação de doenças. Em outras palavras, eles criarão uma "Terra em Bits", um simulador da vida na Terra. Second Life? Meh!

A ideia é ousada, mas como é dito no brasão do SAS, "Quem ousa, Vence!". O projeto tem como objetivo ampliar o entendimento científico sobre o que acontece no planeta, encapsulando as ações humanas que moldam as sociedades e as forças ambientais que definem o mundo físico. Parece um tanto complicado, mas não é. É MUITO complicado.

Comecemos com as bases da Psicohistória. Levando em conta que tanto eventos sociais e climáticos se dão por inúmeras variáveis (onde um acaba afetando o outro), teremos inúmeras variáveis a se trabalhar e, de acordo com a Teoria do Caos, não se pode prever com exatidão e por um longo período eventos onde milhares de variáveis atuam de forma não ordenada. Por exemplo, você tem um mapa climático de uma região. Um sismólogo pode prever com certa antecedência se vai haver uma erupção vulcânica. O problema é que, dependendo da erupção, teremos toneladas de gases de efeito estufa sendo exalados, o que poderia ampliar a absorção de radiação infra-vermelha (calor), tornando o planeta mais quente. Em contrapartida, cinzas sendo liberadas em excesso, além de causar uma confusão dos diabos em terra, mar e ar, fará com que parte dos raios solares sejam refletidos de volta ao espaço, resfriando o planeta. A ação humana também é caótica, pois um maluco qualquer pode lançar algum ICBM na cabeça de alguém, garantindo um lindo inverno nuclear, ainda mais se o outro lado resolver retaliar.

Entretanto, imaginem se com computadores mais potentes pudéssemos prever o clima com mais exatidão a longo prazo, sempre alimentando o computador (falo no singular, mas nesse caso seriam vários computadores trabalhando em conjunto) com dados à medida que eles se apresentem. Poderemos prever o volume de produção agro-pecuária. Mais alimentos, menos fome, menos instabilidade social. Com o fluxo de riquezas sendo mapeado, teremos um panorama geopolítico. Fome gera revolta que gera instabilidade política.

Se soubermos como as populações estão, saberemos como reagirão a, digamos, uma epidemia em larga escala. Parece lindo não? Mas também é preocupante, pois líderes mundiais não ficariam muito tranquilos ao saber que eles estão sendo monitorados numa sala fria, com um ruído de baixa frequência onde tudo o que se passa no mundo está sendo registrado. Dentro daqueles terminais, fluxos de elétrons estariam passando, reproduzindo o mundo como é e como seria, se alguns dados fossem inseridos, criando um mundo paralelo de um futuro presumido. Nada impede, com o avanço da tecnologia, que esta previsão seja mais e mais alongada, de forma que pudéssemos prever algo daqui a 100 anos. Loucura? Pode ser. A mesma loucura que Roger Bacon tinha quando imaginou que dali a algum dia, num futuro presumido, pessoas voariam como pássaros com o auxílio de máquinas.

Todas as previsões e dados do Living Earth Simulator, o LES, estariam apenas na telinha, informando através de mapas e números estatísticos, mas o que impede que possamos mergulhar neste mundo, através de realidade virtual? Uma voltinha no mundo daqui a 100 anos seria interessante? Prever como será o mercado de grãos é interessante, e isso nos faria correr para a Bolsa de Valores, certo? Mas aí entra o fator caótico, pois se mais algumas pessoas fizerem isso, as Leis do Mercado (você sabe… oferta x procura) sofrerá uma alteração.

Sendo assim, o LES acabará se tornando uma ferramenta de vigilância, pois este é o preço da liberdade. Nos drogarmos afim de mergulharmos profundamente no cyberespaço ainda é algo a cargo da FC, e não do potencial real de nossa atual tecnologia de informação.

Ou será que…


Fonte: BBC Brasil

3 comentários em “Living Earth Simulator, o Simulador da Terra Viva

  1. O melhor que eu estou terminando de ler Mona Lisa Overdrive, o terceiro livro da trilogia iniciada por Neuromancer. Realmente, é -impossível- não lembrar do ambiente criado por Gibson ao ler essa notícia. Bem interessante! :D

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  2. Primeiro comentário por aqui (apesar de acompanhar há um tempão :smile:), vamos lá:

    Realmente não tem como não lembrar de Neuromancer ao ler esta notícia (aliás, preciso reler o livro, que eu li há muito tempo atrás), mas também lembrei do texto “Do Rigor na Ciência” do argentino Jorge Luis Borges: http://www.alfredo-braga.pro.br/discussoes/rigor.html

    Belo texto André, e feliz 2011 a você e todos os colaboradores do Cet.net!

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  3. Agora sim eu sou a favor dos humanos e não mais das abelhas. Mas penso que vai dar o mesmo problema que o StreetView causou em alguns países.

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