Atacama, no Chile, é um lugar desolado. É considerado o deserto mais alto e mais árido do mundo, onde em algumas partes não chove há centenas de anos e a baixíssima umidade torna-o não só um lugar completamente inóspito, como o paraíso dos astrônomos. Um dos maiores pesadelos para alguém que vasculha o firmamento, em busca de corpos celestes é a umidade, que causa distorções ópticas nas imagens trazidas pelos caríssimos telescópios. Dessa forma, cientistas preferem um lugar onde haja pouca umidade atmosférica e o Atacama é um verdadeiro Nirvana para isso.
O ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) é um telescópio móvel, formado por três antenas que podem ser rearranjadas conforme a necessidade, localizado a 5 mil metros de altitude, na região norte do Chile. Assim, conforme a necessidade, os técnicos fazem os telescópios movimentarem-se, de modo a vasculhar com detalhes uma curta região do espaço (curta em sentido astronômico, obviamente), ou com uma grande abertura, captando imagens de vastas áreas (e quando eu falo “vasto”, é vasto MESMO!).
O controle é computadorizado, mesmo porque ninguém seria louco de imaginar um bando de escravos maltrapilhos mudando as antenas de lugar, sob a chibata de um gordão de tanguinha com um chicote, né? À direita temos uma foto de uma das antenas. Clique para ampliar e preste atenção nos pontinhos vermelhos: são pessoas.
No final de 2009, o ALMA completou uma importante fase de sua construção, fase esta crucial para que se consigam imagens de alta qualidade, que deverão ser a marca registrada deste instrumento revolucionário na astronomia. A precisão e poder de resolução do equipamento é super fantástico, mesmo sem ter nenhum balão envolvido.
O ALMA irá fornecer uma combinação sem precedentes de sensibilidade, resolução angular, resolução espectral e fidelidade de imagem nos mais curtos comprimentos de onda de rádio, para os quais a atmosfera terrestre é transparente.
Os astrônomos esperam que o ALMA possa fazer contribuições extremamente importantes em uma variedade de especialidades científicas, como para estudar as primeiras estrelas e galáxias que emergiram na chamada Idade das Trevas do Cosmo, bilhões e bilhões de anos atrás. Além disso, o ALMA fornecerá uma capacidade sem precedentes no estudo dos processos de formação estelar e planetária, os quais são impedidos pela poeira que obscurece as observações em luz visível. O ALMA é um Voyeur, mas um voyeur do bem, pois o Universo QUER ser explorado, ele possui segredos a serem revelados. Segredos tão ou mais interessantes do que sua vizinha tomando banho.
Ou não. Não conheço sua vizinha, mas foi uma licença poética de qualquer forma.
Se você é exigente e acha que isso ainda é pouco, saiba que o ALMA ainda fará o mapa de gás e poeira da Via Láctea e outras galáxias, analisar os gases de um vulcão em erupção em Io, um dos satélites naturaisde Júpiter, estudar a origem do vento solar etc.
Abaixo, vemos uma representação da Nebulosa Cabeça-de-Cavalo, observada de maneiras diferentes, em diferentes comprimentos de onda (clique para ampliar).
Já neste tempo o lúcido Planeta
Que as horas vai do dia distinguindo,
Chegava à desejada e lenta meta,
A luz celeste às gentes encobrindo;
E da casa marítima secreta lhe estava o Deus
Noturno a porta abrindo,
Quando as infidas gentes se chegaram
Às naus, que pouco havia que ancoraram.– Os Lusíadas
Fonte: Site Oficial do ALMA

3 comentários em “ALMA do deserto, Olhos para o céu”