Publicado o primeiro volume da Enciclopédia Microbiológica

Cientistas adoram bactérias. Não porque elas podem ser patogênicas ou ajudar no nosso trato digestivo; mas porque são seres vivos simples e nos fornecem dados importantes, onde podemos mapear muito facilmente seu código genético. Alguns cientistas separam as classificações Archaea e Bacteria como dois reinos independentes, mas a maioria ainda classifica ambas como pertencentes ao mesmo reino: o Monera, embora este esteja caindo em desuso.

Archaeas são organismos procariotas (seu material genético não está protegido por uma membrana nuclear, e sim disperso como pedaços de macarrão numa sopa), sobrevivendo em ambientes extremos, como fontes de água quente, lagos ou mares muito salinos, pântanos (onde produzem metano) e ambientes ricos em gás sulfídrico e com altas temperaturas; por isso, são também chamados de Extremófilos. Como são seres muito rudimentares, qualquer deriva genética incapacitará sua aptidão de sobreviver nesses locais. Por isso, sua variância é quase nenhuma, pois as espécies derivadas desses extremófilos não estavam aptos para sobreviver e morreram sem deixar descendentes. A Seleção Natural dá, a Seleção Natural toma.

O seqüenciamento de genomas de bactérias – que também são procariotas – e archaeas revolucionou a nossa compreensão dos diversos papéis desempenhados pelos microorganismos. Apesar da ampla disponibilidade de dados do genoma microbiano, cerca de 2.000 microorganismos ainda estão para ter seu genoma decodificado; a maioria dos quais foi escolhido para o sequenciamento com base na sua fisiologia. Isso significa dizer que não basta ter o genoma, os cientistas precisam estudá-lo para saber o que cada gene faz o que. A análise destes genomas demonstrou benefícios acentuados em diversas áreas, incluindo a reconstrução da história filogenética, a descoberta de novas famílias de proteínas e as propriedades biológicas, e a previsão de funções de genes conhecidos de outros organismos. Os resultados suportam fortemente a necessidade de uma filogenia sistemática, a fim de obter o máximo de conhecimento existente sobre os dados do genoma microbiano.

Um novo estudo tem uma abordagem que é menos dirigido pelo auto-interesse. Os pesquisadores do DOE Joint Genome Institute, em Walnut Creek, California, estudam centenas de cepas de bactérias e archaeas e escolheram 200 deles, amplamente dispersos em toda a árvore da vida – a chamada Árvore Filogenética -, com base na seqüência de um gene do RNA ribossomial. Eles publicaram o volume inicial da Enciclopédia Genômica de Bactérias e Archaea (GEBA). AQUI, vocês poderão ler o que já falamos sobre o RNA. Na imagem que abre o presente artigo, temos um trecho da árvore filogenética das bactérias, archaeas e eucariotas (cliquem para ampliar). Uma árvore bem mais completa poderá ser vista AQUI.

O artigo foi publicado na Nature, sob licença Creative Commons, ou seja, é aberto a qualquer um que queira ler, sem ter que pagar nadinha de nada. Façam o favor de aproveitar. E isso inclui você, Sabino. Se bem que lá não vem escrito G-zuis é o Sinhô, o que não agradará nenhum crente tosco semi-analfabeto. Deixem a Ciência para quem sabe dar valor.

Continuando, o gene do RNA ribossomial forneceu uma estimativa justa para a identificação de parentes distantes, e as seqüências completas do genoma revelaram muitos genes que ninguém nunca viu antes. Mais de 10% das famílias de genes (grupos de genes similares que aparecem em várias espécies) são completamente novos para os biólogos.

Alguns desses genes individuais são bastante interessantes. Para quem estuda biocombustíveis, detalhes sobre as enzimas que degradam a celulose de madeira são muito úteis, embora algum idiota falará com voz fanha “para que a gente qué sabê disso, hein?”. “Para encher o tanque deste seu carro vagabundo, Zé Ruela!”

A preciosidade do trabalho é sem limite. E outra coisa importante foi a decisão do professor Jonathan Eisen – da UC Davis -, um dos autores do trabalho, de publicar o trabalho com acesso aberto, onde não só as seqüências genômicas estão armazenadas em um repositório público, como toda a pesquisa. Sugiro fortemente a visita ao blog do Prof. Eisen.

Obviamente, isso não é pra qualquer um. Lá não tem as bobagens do Orkut, não dá pra mandar scrap, não se pode colocar desenhinho, florzinha, emoticonzinho, nem está escrito no maldito miguxês. Se você é daqueles que não sabe a diferença entre mais e mas, poupe seu tempo. Vá no site de seu time de futebol ou acesse o site do Big Brother, coisas bem adequadas à sua baixa capacidade cognitiva, a qual ganha apenas da de um cogumelo retardado.

Um comentário em “Publicado o primeiro volume da Enciclopédia Microbiológica

  1. WOW! Que arquivo maravilhoso a árvore completa é! Já estou expandindo para mais de 4000 e ainda parece pequeno. Quanto tempo deve ter levado para montar, não? Fiquei maravilhada. Olha só esta página: http://img.jgi.doe.gov/cgi-bin/geba/main.cgi?section=TaxonDetail&taxon_oid=639332100 *–* bah, isso é incrível! Muito trabalho organizar tantos dados assim, de modo “simples”. Tô besta, igual criança com brinquedo novo \8D/ obrigada André, por mais este presente! Uma informação aleatória que eu quero dividir, é que nas aulas de biologia, meu grupo de estudos criou a seguinte máxima para decorar a diferença entre eucariontes e procariontes: Eu me protejo e o Professor não se protege. Saudade do colégio~

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