Viagem ao mundo de Júlio Verne

Viagem ao Centro da Terra é, com certeza, uma das maiores obras de ficção científica já escritas. Seu autor, o grande Júlio Verne, é considerado o Pai da Ficção Científica Moderna. Não, meu caro, ele não inventou este gênero literário. A FC (ou sua abreviatura em inglês SciFi) não foi algo que surgiu muito recentemente. Outros autores já tinham se aventurado em romances que usavam paradigmas científicos. Um deles era, nada mais nada menos, que Johann Kepler. Kepler ao que se tem notícia escreveu o primeiro conto de ficção científica em sua obra Somnium, onde ele narra uma viagem à Lua, quando seus personagens fazem uso de um “Elixir Especial”.

Escrever histórias assim, numa época onde a Igreja não via com bons olhos quaisquer manifestações científicas de toda espécie, ainda mais que façam uso de um “elixir da lata”. Kepler viveu numa era tumultuada, onde a Guerra dos 30 anos o obrigou a fugir de um canto a outro, pelo fato de ele ser protestante, e os chatólicos nunca foram amiguinhos de quem pensava diferente (claro que o mesmo acontece com os protestantes, mas isso fica para outro artigo).

Júlio Verne, tal qual Kepler, se baseou em muitos fatos científicos de sua época para construir seus romances, envoltos de aventura e fantasia. Este artigo é mais do que um simples chato que vai procurar erros e incorreções na obra (que por sinal está em cartaz nos cinemas com Brandon Fraser – com sua eterna cara de débil mental – e a maravilhosa Anita Briem). Vamos ver o que o escritor – que foi responsável por muitas crianças desejarem se tornar cientistas – reservou-nos em suas linhas. Peguem suas mochilas, calcem suas botas, segurem as cordas e desçam comigo a uma Viagem ao Mundo de Verne.

Júlio Verne não foi nenhuma criança especial. Ele tinha imaginação como qualquer criança tinha e (eu espero) ainda tenha hoje. Filho de um advogado e uma burguesa de Nantes, França, Júlio Verne se encantava com proximidade do porto e das docas, que provavelmente constituíram grande estímulo para o desenvolvimento de sua imaginação sobre mundos e lugares distantes e a possibilidade de 1001 aventuras. Com nove anos foi mandado para o colégio com seu irmão Paul. Mais tarde, seu pai, com a esperança de que o filho seguísse sua carreira de advogado, enviou o jovem Júlio para Paris, a fim de estudar Direito. Ali começou a se interessar mais pelo teatro do que pelas leis, tendo escrito alguns livretos de operetas e pequenas histórias de viagens. Seu pai, ao saber disso, cortou-lhe o apoio financeiro, o que o levou a trabalhar como corretor de ações, o que teve como propósito lhe garantir alguma estabilidade financeira. Foi quando conheceu uma viúva com duas filhas chamada Honorine de Viane Morel, com quem se casou em 1857 e teve em 1861 um filho chamado Michel Jean Pierre Verne. Durante esse período conheceu os escritores Alexandre Dumas e Victor Hugo.

Com Júlio Verne, navegamos por 20.000 léguas no submarino Nautilus (por sinal, a marinha americana batizou seu primeiro submarino nuclear com o nome Nautilus), viajamos ao redor do mundo em 80 dias em um balão, vimos o que um homem com boas (será?) intenções de nome Robur podia causar ao mundo e muito muito mais.

Mas Viagem ao Centro da Terra é uma de suas principais obras. Nessa obra, escrita em 1864, o prof. Oliver Lindenbrook encontra uma mensagem de Arne Saknussen, um famoso explorador do passado, que orientava como alcançar o centro da Terra. A viagem começa, descendo em um vulcão na Islândia com Lindenbrook, seu sobrinho Axel e o guia islandês Hans. Depois de muitas aventuras, encontrando espécies extintas, oceanos subterrâneos e até mesmo dinossauros, eles conseguem escapar através de um vulcão na Itália.

Júlio Verne sempre amou a Ciência. Sabendo que no interior do planeta há a ocorrência de muitos gases inflamáveis, Júlio Verne presenteou seus personagens com lâmpadas que se acendiam através de reações químicas, ou seja, ele deu-lhes lanternas elétricas quando a eletricidade ainda não havia saído dos laboratórios.

Da mesma forma, ele sabia que no interior da Terra a ocorrência de luz seria precária. Então, seria impossível organismos fotossintetizantes (plantas, meu filho). Em contrapartida, a ausência de luz, num clima quente e abafado, haveria proliferação de fungos, e é daí que veio a idéia de colocar cogumelos gigantescos nas cavernas.

Obviamente, muita coisa ali não é verdade. Não haveria como ter um imenso oceano no Centro da Terra, por alguns motivos simples.

Primeiramente por causa da temperatura. Ela aumenta 30 ºC a cada quilômetro descido. E o máximo que conseguiu se perfurar foi até 60 km, usando brocas feitas de carboneto de tungstênio. Assim, a temperatura faria a água evaporar ou estar num estado de pressão extremamente instável, como numa panela de pressão.

Em segundo lugar, as rochas estão em estado fundido (magma, ou lava), não haveria como formar um grande espaço vazio. As rochas em volta, que estão no estado sólido, são muito duras e somente brocas especiais, com um material extremamente duro conseguiria perfurá-lo. Tal material existe e é belíssimo: O Diamante!

No núcleo da Terra, existe uma imensa quantidade de Ferro e Níquel (não é à toa que se chama Nife) e envolta deste núcleo, um grande lago de ferro fundido que se movimenta por convecção, dada a imensa temperatura (aproximadamente 5000 ºC). É este movimento de convecção do ferro que produz o campo magnético da Terra e que pode ser visto no extremo norte do planeta ou do extremo sul. Nestes lugares, as partículas energéticas vindas do Sol chocam-se e mudam de direção, produzindo um belo efeito colorido que chamamos de Aurora Boreal (no norte) e Aurora Austral (no sul).

Sobre os imensos animais encontrados, seria um pouco complicado pois dinossauros carnívoros dependeriam de herbívoros. Sem plantas, não haveriam herbívoros e a cadeia alimentar não se concretizaria.

Eu não sou daqueles que lê um livro de ficção, ou vai ao cinema, com esperanças de verdades absolutas. Quando sento na poltrona de um cinema, ou no sofá de minha casa para ler, eu:

  • Sim, acredito que se pode ouvir explosões no espaço.
  • Sim, acredito que a Millenium Falcon pode viajar à velocidade da luz.
  • Sim, acredito que podemos viajar até a Lua pelo simples disparo de um canhão.
  • Sim, acredito que a Enterprise pode viajar em velocidade Warp, através de um Buraco de Verme estável.
  • Sim, acredito que o Indiana Jones pode ser arrastado por um caminhão, segurando em seu chicote, e não sofrer um único arranhão.
  • Sim, acredito que o Gary Cooper (caraca, estou velho!) pode dar 76 tiros sem recarregar o revólver.
  • Sim, acredito que o Wolverine pode matar 379 caras (todos maus. Tem mais que matar mesmo) e mesmo que saia ferido, seu fator de cura dá conta do recado.
  • Sim, acredito que todos os seres que compartilham um mundo podem se unir heroicamente para combater os exércitos de Mordor
  • Sim, acredito que poderemos construir uma máquina para viajar no tempo (não necessariamente um DeLorean).
  • Sou até mesmo capaz de acreditar que existe pelo menos um policial honesto e incorruptível na PM.

Tem gente que vai em igreja e acredita naquela bobajada gritada por um bando de pastores alucinados, rodeados de fiéis mais alucinados ainda! Eu prefiro acreditar por alguns minutos que o Super-Homem é capaz de alterar a órbita da Lua pra impedir o Nuclear de destruir tudo; com a vantagem que o Super-Homem nunca matou pessoas inocentes, é honesto, não mente, se veste melhor e nem quer que fiquemos puxando o saco dele por medo de sua ira.

Júlio Verne foi sobretudo um divulgador da Ciência. Depois é que alguns idiotas autores retrataram cientistas como homens loucos que queriam destruir o mundo. Nem mesmo Viktor Frankenstein era assim (favor ler a obra de Mary Shelley na íntegra). Carl Sagan sempre reclamou disso, Ele achava que cientistas eram heróis e em seu romance Contato, ele deixa claro que sim, cientistas são pessoas que podem fazer muito pela humanidade e mesmo assim serem heróis em aventuras. Só Carl Sagan tomaria o lugar de Júlio Verne como o maior divulgador da Ciência de todos os tempos, mas isso fica para um artigo dedicado somente a ele.

Segundo o próprio Júlio Verne: “o que o homem é capaz de imaginar, outros serão capazes de realizar”.


Para saber mais: Biografia de Júlio Verne

22 comentários em “Viagem ao mundo de Júlio Verne

  1. Esqueceu de dizer:

    “Sim, eu acredito que guerreiros espaciais possam duelar com espadas de lâmina formada por um laser estabilizado.”

    hehehe, FC detona, JEDI detonam!

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  2. Corrigir Aurora Astral (no sul) final do parágrafo 12 para Aurora Austral (sul), além do mais ASTRAL não combina muito com alinha do site.

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  3. O livro do Júlio Verne até que é bom , mas o filme , francamente, é uma merda. Ridículo. Custa uma eternidade para se arrastar até o final , onde descobrimos que a mocinha encontrou o macho certo para ela.

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  4. Gosto de ficção científica mas sinceramente nunca gostei de Guerra nas Estrelas, X Men etc. Nem acho que sejam ficção científica mas apenas fantasia. Acho que existe fantasia demais nestes filmes.

    Criar um filme de ficção científica sem recorrer a artifícios miraborantes é que é criatividade. Por exemplo: O Neo em matrix é tão poderoso quanto o super-homem e muito mais plausível. Acredito que foi preciso mais inteligência para conceber a sua história.

    Na época de Júlio Verme até que dava para engolir dinossauros no centro da terra. Mas se fosse escrito hoje não seria o caso.

    Alguém ainda terá que ser inteligente suficiente para fazer explosões silenciosas serem assustadoras.

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    1. O filme dos X-Men é um verdadeiro lixo. PELAMORDEDEUS!!!! Eles mataram o Ciclope!!! Sem falar que o Wolverine mata mais em um único quadro das HQs que em todos os 3 filmes juntos. Só espero que o filme X-Men Origins seja melhor.

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      1. @André, Você ler HQs? Nunca gostei dos filmes baseados em HQs, acho que o tempo curto impede que contem a historia toda. E concordo com a parte do wolverine.

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      2. @André, se o Wolverine fosse mostrado na essencia do personagem os filmes teriam a censura alta, e como sempre, a grana eh mais importante doq a arte, ou qlqr coisa assim

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  5. Julio Verne é Deus! Não a toa os filhos do Doc Brown carregam o nome e o sobrenome do gênio!

    Quanto a filmes, gosto muito dos do Tarantino. Sonho em ser uma mistura de Hans Landa e Doc Brown… :( Será que dá tempo? Bem, Hans Landa não deve saber japonês ;) :mrgreen:

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