Alunos da rede pública de Ubatuba participarão de simpósio científico no Japão

Quando as coisas dão errado (e muito!) em termos de ensino, eu meto o malho, mas quando há iniciativas boas, aliás, excelente, aliás, incrivelmente fantásticas, temos a obrigação de divulgar.

Um grupo de estudantes já está de malas prontas e já foram pro aeroporto, pois estão de partida pra filial do bairro da Liberdade proo Japão. Se fosse para a China, algum sarcástico (oiê!) diria que era porque arrumaram um emprego melhor na Foxconn, mas a parada não é essa. Eles estão indo lá porque vão participar do Simpósio Internacional de Ciência e Tecnologia Espacial, patrocinado pela Agência Espacial Japonesa.

E você tirou nota boa no ENEM? That’s cute!

Tudo começou quando um maldito professor cientificista, que prega ideias neo-positivistas, leu um artigo dizendo que era possível construir um satélite e mandá-lo para o espaço com cerca de R$ 14 mil. Isso é muito, mas muito dinheiro (aqui no Brasil), mas brasileiro não desiste. O prof. de matemática Candido Osvaldo de Moura cismou que tinha que fazer a porcaria de um satélite. Como eu bem posso imaginar, muitos disseram que isso era idiotice e não podia ser feito. Osvaldão não deu bola e decidiu iniciar um projeto de construção de satélite com os alunos do 6º ano do Ensino Fundamental. É o Projeto Ubatubasat, que tem até site.

A notícia eu vi no: G1, mas é matéria original da BBC Brasil, que você pode assistir abaixo:

De acordo com eles, o projeto UbatubaSat utiliza uma estratégia baseada em PBL(Problem Based Learning) nas tarefas a serem cumpridas. Ou seja: deem problemas para as crianças resolverem, seus boçais! Parem de dar receitinha de bolo já pronta ou discussões retardadas que não levam a lugar nenhum. Em suma:

Não foram as pedagogas que criaram o mundo moderno. Ainda estaríamos discutindo as necessidades emocionais das crianças enquanto ainda estávamos como caçadores-coletores.

Como parte de projeto, alunos e professores receberam treinamento no Instituto Espacial de Pesquisa Espacial – INPE – e eu estou me roendo de inveja, que se fosse hidrazina, o satélite já estaria em Júpiter, o que seria muito mais maneiro. Os nerds do INPE (e ali tem nerd de verdade, se você pesquisar a etimologia) devem estar maravilhados, pois não basta ser cientista, você tem que divulgar seu trabalho e nada dá mais atenção a um cientista que crianças. Coloquem os dois juntos e será um encontro emocionante.

Parabéns a todos envolvidos nisso, desde o professor até o prefeito e, principalmente, às crianças, pois descobriram que o futuro não está em uma bosta de smartphone e sim nas estrelas, pois tudo dentro e fora da esfera lunar tem as principais respostas.

1) Quem sou eu? Sou cientista e quero entender o mundo.

2) Onde estou? Me dá esta bosta de sextante que te direi, ora bolas!

E você? Já brincou de fazer foguete com garrafa PET e água pro seu filho?

16 comentários em “Alunos da rede pública de Ubatuba participarão de simpósio científico no Japão

  1. Ainda me lembro de um presente que minha madrinha me deu. O Pequeno Químico, que era basicamente fazer misturas com reagentes e verificar a reação. Hoje sou químico.

    Desde que descobrimos que minha esposa estava grávida, abrimos uma poupança e todo mês depositamos uma grana pra usar no futuro, exclusivamente na educação básica do nosso filho. Hoje ele tem 9 meses e já estou com várias ideias para incentivar o seu desenvolvimento. Dentre elas é a construção por ele mesmo de um aeromodelo pra brincar, construção de robôs tipo lego. Viagens a planetários, museus, centros de desenvolvimento tecnológicos. Construção de motores elétricos, foguetes, além colocá-lo em um curso de idiomas (inglês e alemão, no mínimo) e claro, matriculá-lo no melhor colégio particular da região onde moro. Não sou rico, nem ganho muito, mas com planejamento consegue-se juntar um dinheirinho por anos.

    Agradeço ao André, pois visito o site diariamente ha anos e foi um artigo dele que abriu minha cabeça sobre isso. O nome do artigo é: “Faça de seu filho um cientista, depois me agradeça”. André, voltarei aqui pra te agradecer de novo. Abraço!

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  2. O Brasil é um país que produz pouco conteúdo científico PUBLICADO em revistas especializadas (comparado a outros países), mas nem por isso é um país com poucos cientistas de porte internacional, acontece é que nós não somos valorizados nem pelo próprio governo – aí fica difícil se expor. Alguém aqui sabe quanto custa para publicar algo em um periódico indexado? É quase que inviável para um cientista brasileiro, com salário de fome, pagar sozinho por uma publicação (e não é por falta de conteúdo com qualidade) – todos querem, mas só uma meia dúzia de três ou quatro conseguem. Nosso querido Brasil está lotado desses cientificista que não prestam pra nada, mas vendem seus excelentes projetos para universidades estrangeiras que levam todo o crédito.

    Quantos grupos, como esses do Ubatubasat, são divulgados? POUCOS. Por que? NÃO HÁ VERBA PRA NADA. O que falta aqui é vergonha na cara desses políticos safados (salvo raras e honrosas excessões), eles querem é um povo medíocre – e povo medíocre vai às urnas votar. Por isso as verbas não chegam às escolas, não remuneram os professores e cientistas e não há incentivo científico público ou privado (privado só se tiver retorno financeiro rápido).
    Vejam que a viagem de nossos jovens, ao Simpósio, será patrocinado pela Agência Japonesa e não pelo governo brasileiro – que no máximo enviará uma garrafinha d’água e um pão com mortadela.

    Parabéns aos organizadores do UBATUBASAT e todos os envolvidos. Isto é uma vitória.

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  3. Bela iniciativa desse pessoal, já vi uma matéria que na Africa um grupo de maluc…ops! cientistas estavam construindo um veículo para orbitar o planeta, com recursos parcos e muita criatividade, Breno Bernardes incentive o filhão com um instrumento astronômico (binóculo de boa qualidade como exemplo) é um mundo fantástico, vai que ele se embrenha por esse caminho, precisamos de mais cientistas no Brasil :mrgreen: :shock:

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    1. @sergiobiju, quando eu era adolescente, sonhava em construir um telescópio refletor, cheguei até a pegar alguns projetos na internet (e é até fácil), mas acabou que não fiz. Vou construir um com meu filho quando ele estiver maiorzinho. Lembro do livro de Carl Sagan, Contato, que o pai incentivava a filha com telescópio e rádio comunicador, até que ela acabou virando uma cientista. Obrigado pela dica.

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  4. É interessante notar que eles estão indo com patrocínio japonês. Será que se dependessem de patrocínio daqui eles conseguiriam ir?

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    1. @JCFerranti, Se fosse com patrocínio daqui o máximo que receberiam seria uma caixa de lego e cópias de livros que condenam o preconceito linguístico.
      Eu me sinto feliz em ver que pouquíssimos indivíduos,mesmo que sejam crianças, aqui no Brasil ainda tenham o espírito científico e com inveja por ver que enquanto os pirralhos viajam pro Japão pra assistir uma conferência internacional o máximo que cheguei a fazer na idade deles foi fazer maquetes de isopor.

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      1. @saulo122, Você teve sorte! o Máximo que fiz fo aquela roda com as cores do arco iris, que girando ficava branca (ou quase). Isso foi o máximo em ciencia aplicada que tive. Nem acender lampada com limão meus professores tentavam!

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  5. Para quem se interessar,aqui em BH existe um grupo ATM(Amateur Telescope Maker) no CEAMIG(Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais) aberto a qualquer pessoa que queira construir um telescopio refletor desde o corte dos blocos de vidro,ate o acabamento final,sempre com o acompanhamento de um monitor.Para quem estiver distante,o tutorial se encontra no site http://www.observatorio-phoenix.org

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  6. Pena que não existam muitos professores como esse, a maioria provavelmente pensaria que isso não deveria ser incentivado, pois não faz parte da realidade do aluno (ou seja, se você vive na merda, acostume-se com ela), um tipo de experiência como esta, pode ser a diferença entre formar alguém que irá trazer alguma inovação importante para o mundo e um idiota que fará piadas política em uma notícia de ciências e se achará o inteligentão. Está de parabéns os estudantes e o professor.

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  7. Moro em Ubatuba e tenho 29 anos, estudei em escola pública a vida toda. Na minha época o ensino público era tão ruim, que quando um aluno falava em fazer vestibular, os professores davam até risada, falando que nunca iriamos conseguir competir com alunos da rede particular. Era muito dificil mesmo alguem pensar em fazer faculdade. Hoje sinto orgulho pela nossa cidade. Parabéns ao professor e aos alunos.

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