
Na vastidão misteriosa do nosso Sistema Solar, um pequeno globo suspenso nas marés gravitacionais de Saturno pode muito bem ser a garrafa com a mensagem cósmica que traz um segredo surpreendente. Enceladus tem cerca de 504 km de diâmetro, e isso pode parecer insignificante à primeira vista. Talvez seja, mas ainda assim esta relíquia congelada do início do Sistema Solar esconde uma joia rara: um vasto oceano líquido subterrâneo que poderia ser um berço para formas primordiais de vida alienígena.
A descoberta deste oceano alienígena em 2005 pela missão Cassini causou um rebuliço na comunidade científica. Afinal, o consenso diz que onde há água líquida, há potencial para a vida emergir e prosperar, mesmo nas condições mais inóspitas. Mas será, mesmo? O pensamento mais honesto é “não sabemos”. Ainda assim, Enceladus é realmente um dos satélites mais fascinantes do Sistema Solar já que em tese seria um pequeno mundo que deveria estar congelado por dentro, mas em vez disso, abriga um vasto oceano subterrâneo completo com fontes hidrotermais e energia química.
O que torna Enceladus tão especial são seus gêiseres ativos no polo sul. Essas erupções criovolcânicas lançam uma pluma de vapor de água, gelo, moléculas orgânicas e minerais diretamente do interior oceânico para o espaço. É como se Enceladus estivesse dando uma prévia dos tesouros escondidos sob sua superfície congelada.
Em uma pesquisa publicada na Science Advances, pesquisadores divulgaram análises detalhadas dos flocos de gelo da pluma que acabaram por revelar a presença de compostos à base de carbono, sais como cloreto de sódio e, mais recentemente, fosfatos – todos fundamentais para a química da vida como a conhecemos.
A descoberta de fosfatos é algo bem inusitado e que despertou a fascinação de vários cientistas por ser um biomarcador potencial, sugerindo que o oceano subterrâneo de Enceladus pode estar fornecendo uma “sopa química” rica em nutrientes para apoiar o desenvolvimento da vida microbiana.
Mas o verdadeiro golpe de mestre pode ser o processo de aquecimento de marés em andamento, causado pela forte atração gravitacional de Saturno. Este mecanismo aquece continuamente o interior rochoso de Enceladus, fornecendo uma fonte de energia sustentada aos potenciais ecossistemas oceânicos, e quando você junta água líquida, compostos orgânicos, minerais vitais e uma fonte de energia, começa a se perguntar o quanto esse Sopão Maggi Espacial poderia realmente se aproximar da origem da vida.
Embora nenhuma evidência direta de vida tenha sido encontrada ainda, a equipe da missão Cassini simulou recentemente como futuros instrumentos espaciais mais avançados poderiam detectar biomoléculas e identificar possíveis sinais de atividade biológica nas plumas criovolcânicas.
Com futuras missões sendo planejadas, Enceladus pode muito bem revelar seu maior segredo nas próximas décadas: se hospeda ou não uma forma alienígena de vida em seu oceano alienígena. A caça está apenas começando para este pequeno e instigante mundo gelado.
Mas não espere nenhum sujeito de orelhas pontudas ou alguma dona com três peitos. Estamos falando de Enceladus e não Marte.

Um comentário em “Enceladus e o Sopão da Vida”