A vida de diabéticos não é fácil. Não existe “A” diabetes, mas diferentes versões, até a que você efetivamente precisa de receber insulina. Sem ela, sua vida, que já é ruim, ficará bem pior, até levar à morte. Hoje, podemos dar insulina aos pacientes, mas por meio de injeções. Seria possível facilitar isso? Bem, me disseram que a Ciência não é capaz de responder a tudo. Perguntei a um filósofo, mas ele começou a citar Deleuze. Fui em outro filósofo, mas ele falou que deveríamos encarar a realidade como ela é, e manter a existência dos fatores nestes níveis. Não, insulina não deveria ser usada. Perguntei a um cientista e ele respondeu: Se não tá fácil, a gente faz ser!
Infelizmente, me disseram que era mentira que Ciência existia para propiciar qualidade de vida porque os japas tomaram uma bomba atômica no quengo (os mesmos japoneses que começaram ao bombardear Pearl Harbor). Felizmente, cientistas cagaram e andaram pra idiotas que defendem misóginos escravocratas e desenvolveram uma pílula capaz de levar insulina ao corpo de uma pessoa. Basta engolir a pilulinha e pronto!
O dr. Robert Langer é engenheiro químico, ou seja, um engenheiro cioso que aos químicos se deve a oração e a glória. Langer é professor do Instituto David H. Koch de Pesquisa Integrativa do Câncer do Instituto de Tecnologia de Massachussets, ganhador da Medalha Priestley, a mais significativa condecoração conferida pela American Chemical Society.
Langer e sua equipe desenvolveram uma cápsula para levar insulina para o corpo de uma pessoa. O problema é que a insulina seria destruída pelo suco gástrico, já que não aguentaria um ambiente com pH 2. de medicamento que poderia ser usada para administrar doses orais de insulina, potencialmente substituindo as injeções que as pessoas com diabetes tipo 2 têm de se submeter todos os dias.
Dentro do comprimido, tem uma agulha de insulina praticamente pura, comprimida e liofilizada. O que mantém ela comprimida seria o equivalente molecular a uma mola, com um açúcar espremido servindo de gatilho. Ao chegar no estômago, os ácidos atacam o açúcar, que é digerido, soltando o gatilho molecular, que assume sua forma estendida, empurrando a insulina contra as paredes do estômago, não dando tempo para ela ser atacada pelo ácido clorídrico e enzimas estomacais. Simples assim. Uma simplicidade fácil de ser compreendida, mas difícil de ser executada.
Claro, você vai me perguntar se isso não fará sentir uma dor dos diabos. Até seria o caso, se o estômago tivesse receptores de dor, o que não é o caso. Aquela “dor no estômago” que você sente não é no estômago. Sendo assim, você engole a pílula, ela espeta lá dentro, manda a insulina pra corrente sanguínea e você fica de boas sem sentir nada.
Então, fica o questionamento. Se o açúcar é atacado no estômago, soltando a mola, a mola manda a insulina pra dentro de você, como podemos ter certeza que isso acontecerá no momento propício, ao invés da agulha ser liberada de qualquer jeito. Vem o conceito de auto-orientação.
Você já deve ter visto, nem que seja em desenho animado, que se colocar tartarugas viradas de costas, elas estão ferradas, pois não conseguem se desvirar, certo? Bem, isso é verdade, ainda que não totalmente para todas as espécies de tartarugas. A tartaruga leopardo, por exemplo, possui um casco diferente. A forma do casco dá condições para que ela consiga se desvirar, mostrar o dedo médio pro seu captor e sair correndo.
Tá, ok. Ela consegue se desvirar, o restante é invenção minha. Mas ela efetivamente vai embora.
O casco da tartaruga leopardo tem uma cúpula alta e íngreme, permitindo que ela se endireite ao rolar de costas e isso deu uma ideia a Langer e seu pessoal. E se a geometria da cápsula fosse tal que durante os movimentos do estômago ela sempre ficasse numa posição tal que proporcionasse a injeção da insulina, a qual seria absorvida numa taxa que os pesquisadores quiserem.
Em testes com lindos e deliciosos porquinhos, Langer e seus colaboradores mostraram que eram capazes de injetar com sucesso até 300 microgramas de insulina. Mais recentemente, eles foram capazes de aumentar a dose para 5 miligramas, o que é comparável à quantidade que um paciente com diabetes tipo 2 precisaria injetar.
Ah, querem videozinho? Toma videozinho!
A pesquisa foi publicada no periódico Science. É uma promessa para, não só entregar insulina a diabéticos, como futuramente outros remédios poderão ser entregues dessa forma, melhorando muito a vida das pessoas com doenças crônicas.
E ela é apenas MAIS UMA das tentativas de entregarem insulina por via oral. NO ano passado, eu publiquei um artigo falando que o dr. Samir Mitragotri também estava pesquisando uma forma de pílula de insulina. A diferença é que a técnica do dr. Mitragotri usa insulina encapsulada num gel de ácido colino-gerânico que passa pelo estômago inalterada, e é capaz de penetrar a camada de muco que reveste o intestino e as junções estreitas das células da parede do intestino. Eu mesmo falei que havia outras técnicas sendo testadas e a de Langer era uma delas, como vemos agora. Quanto mais técnicas, melhor. Se todas serão usadas ou apenas uma só, não sabemos. Mas o que conseguirmos será excelente!
Uma pena que a Ciência não faz nada para melhorar a vida das pessoas, já que jogaram uma bomba atômica no Japão. Se você é diabético e acha isso, peça ajuda a um filósofo existencialista, então, e deixe a Ciência e seus frutos para alguém que não a odeia.