A aroeira é uma árvore bem conhecida no Brasil, sendo algumas espécies conhecidas como aroeira-pimenteira ou Pimenteira do Peru (o país), mas tem muito pouco a ver com as pimentas que colocamos no acarajé bem quente e que ferra com a vida dos desavisados. Ela é rica em tanino, empregada nos curtumes, além de ser usada como forragem, fermentação para se fazer vinagre e bebidas alcoólicas e usada para a limpeza de pele, além de possuir ação bactericida.
Aliás, é exatamente esse o motivo da pesquisa que vou contar pra vocês. Senta aí que titio vai falar de uma espécie invasora.
Sim, invasora! Principalmente na Flórida. E quem resolveu estuda-la foi a drª Cassandra Quave, professora-assistente no Centro de Estudo de Saúde Humana e no Departamento de Dermatologia da Faculdade de Medicina da Universidade Emory. Para eles lá, aroeira é uma bosta de planta invasora e, segundo as más línguas, o Trump vai mandar deportá-la. Bem, já que a planta está lá e a Emory não financia estudo autoetnográfico de gente chupando órgãos em banheiros públicos, Quave foi examinar o que a aroeira tem de especial e muito amada.
O que chama a atenção em qualquer espécie invasora é como elas coneguem sobreviver bem. Não é uma questão de simplesmente não ter predadores, esse ser vivo tem que ter algo que o proteja no ambiente em questão e é isso que desperta a curiosidade de cientistas. O que será que a aroeira tem de tão especial para garantir sua sobrevivência? Bem, a pesquisa de Quave (“Quave” parece nome de algum vilão que quer derrotar os Guardiões da Galáxia) aponta que os frutos dessa planta contêm um extrato turbinado com o poder de dar cabo das bactérias mais resistentes aos antibióticos, como os estafilococos, para a vala evolutiva. Ou isso é muito, muito bom, ou muito, muito ruim.
Cassandra trabalha com etnobotânica. Etnobotânica é um ramo da ciência que estuda as relações das sociedades com a flora local, como pajés fazendo beberagens e/ou remédios com plantas no entorno. Foi mais ou menos assim que surgiu a aspirina, em que cascas de salgueiro-chorão já eram usadas desde o tempo de Hipócrates para o alívio de dores (e volta e meia matava um, pois essas cascas são tóxicas, também). Esse negócio de “saberes populares” é algo meio complicado ou estaríamos defendendo passar pasta de dentes em queimaduras, mas usando plantas para fabricar remédios? Hummmm, merece ser investigado.
Quave (o Impiedoso MUAAAAAHAHAHAHAHAHA) e seus colaboradores identificaram belas concentrações de flavonas, uma classe de substâncias que alegam ter poderes curativos, mas ainda não é consenso. Nos testes, contudo, os extratos da aroeira inibiram a formação de lesões cutâneas em camundongos infectados com Staphylococcus auereus, reprimindo um gene que permite que as células das bactérias parem de se comunicar umas com as outras. Não que bactéria bata papo, mas atuam de forma conjunta, e quando se bloqueia essa ação (que é química, pois a Química controla os seres vivos) as células das bactérias param de agir em conjunto e são mais vulneráveis.
Lembram que eu falei que o extrato da aroeira poderia dar cabo das bactérias e que isso ou seria muito bom ou muito ruim? Se ela aniquilar geral todas, beleza. Nos livramos das bactérias mais resistentes. Se ela não der conta de tudo significa que sobraram as mais resistentes das mais resistentes e daí teremos sérios problemas, pois a Seleção Natural não está nem aí pra você ou para as bactérias.
A pesquisa foi publicada no Scientific Reports