Grandes Nomes da Ciência: As anônimas cobaias

Eu gosto desta série por apresentar aqueles que muitos de vocês jamais ouviram falar. Aqueles que deram imensas contribuições para o desenvolvimento científico ou mesmo servindo de exemplos em termos de garra e perseverança, além de inteligência e engenhosidade. Mas há aqueles que, mesmo involuntariamente, prestam crucial ajuda na pesquisa científica, muitas vezes sendo sacrificados no processo. Sem eles, não haveria avanço científico. Sem eles, não teríamos remédios, não teríamos nem um shampoozinho. Sem eles, nossa expectativa de vida jamais teria aumentado. Sem eles, não teríamos a nossa indústria farmacêutica.

Estou falando delas, as cobaias.

Pessoal retardado, seguindo certas attention whores, acham que cientistas são maníacos psicopatas que maltratam bichinhos. Deixem-me contar uma coisa: animais de laboratório são muito melhor tratados do que o bicho que você tem em casa. Cientistas tratam com carinho as suas cobaias, e nem é pelo fato de haver normas que garantam um reduzido sofrimento do bicho. Comitês de bioética ficam em cima, pois até cientistas são seres humanos fadados às piores características destes. Mas, via de regra, pesquisadores que trabalham com cobaias as respeitam, o mesmo não acontecendo com estagiários, pois só respeitamos seres sencientes.

Uma conhecida minha me disse que cada vez que tinha que sacrificar uma cobaia, ela “morria um pouco junto, mas era necessário”. Ouvi vários relatos semelhantes. Ninguém fica feliz ao matar um bichinho que está ali, todo dia sendo cuidado por você. Mas, não. Os bonzões mesmo foram aqueles babacas que “libertaram” os beagles do Instituto Royal, livrando-os da triste sina de ter 5 refeições por dia, água e um lugar quentinho pra dormir. Alguns deles tinham até sido postos à venda. Depois disso, o Instituto Royal teve o alvará cassado. As alegações eram que estavam em um ambiente insalubre, mas as fotos mostravam o contrário. Como eu sempre digo, ninguém quer libertar um lagarto, uma aranha ou um escorpião, só os bichinhos fofinhos. Por que será?

O que me deixa contente é que, em outros países, não é compartilhado o sentimento de ódio que o brasileiro médio tem para com a Ciência. E, sendo assim, eles reconhecem a atuação das nossas queridas cobaias. Diferente daqui, que se venera jogador de futebol e funkeira bunduda, a ponto de darmos a mais alta honraria da cidade do Rio de Janeiro para a Valesca Popozuda, alguns países reconhecem o valor da Ciência e não depoimentos feitos de qualquer jeito, por apelos dramáticos, quando nada de ciência foi envolvido. Mais parece drama mexicano.

Na Universidade de Keio, Japão, há um monumento (aqui ao lado) em homenagem aos animais usados em experimentos, numa forma de mostrar gratidão pelo sacrifício em prol de garantir nossa melhoria de vida. Mesmo o mais ferrenho dos vegans só está vivinho por causa de experimentação animal, e bem sabemos que na hora da dorzinha de cabeça, corre logo para a primeira farmácia. A inscrição ao lado significa

“Que sirva de exemplo para as futuras gerações, o sacrifício desses animais e que eles recebam como recompensa, a elevação de seus espíritos” (obrigado Fábio)

Falando em farmácia, a empresa farmacêutica RIEMSER Pharma (mata! mata! eles vão nos matar por impedir que a fosfoetanolamina que nunca foi testada de ser usada) tem sede em Greifswald, na ilha Riems, em Mecklenburg-Vorpommern, Alemanha, pois só alemães arrumam uns nomes fáceis como esse. Nessa sede, eles têm uma estátua homenageando os doces porquinhos-da-índia. Esses porquinhos-índia ajudam aos visitantes da empresa a lembrar que o menor dos comprimidos foi obtido graças a pesquisa com animais. O singelo monumento é pouco, mas é melhor do que o pessoal da Luísa Mel fez.

Os chineses e sua cultura milenar e sua fantástica ciência não esqueceram daqueles que todos os dias são usados no mundo todo para melhorar nossa saúde. A foto a seguir é de alunos do Centro para Ciências da Saúde da Universidade Xi’an Jiaotong. Um gesto simbólico de agradecimento de estudantes para com essas criaturinhas tão essenciais.

Os herdeiros do Império do Centro, que há séculos cultivam a sabedoria e amor pelo conhecimento, registram de várias formas o seu reconhecimento, como este monumento nos jardins do Instituto de Ciências Biológicas de Shangai, dentro da Academia Chinesa de Ciências.

Uma homenagem a todos os pequenos roedores que ajudam-nos a desenvolver toda sorte de medicamentos, sempre criticados pelos defensores da causa animal, que correm para a primeira farmácia quando precisam desses mesmos medicamentos,

Mas ninguém tem amor pela Ciência como os russos. Sua Academia de Ciências era respeitada até pelo saguinário regime comunista. Ok, alguns cientistas foram fazer “pesquisas” na Sibéria, mas de uma maneira geral, a Academia de Ciências sempre fui um orgulho a esfregar na cara do Ocidente capitalista, ainda mais quando você manda o primeiro objeto feito pelo Homem ao Espaço. Não satisfeito, os filhos de Stalin mandou o primeiro ser vivo. Pegaram uma cachorrinha na rua. Ela era da raça Kudriavka. Laika é “cachorra” em russo. Essa heroína literalmente anônima deu à humanidade a chance do conhecimento. Faleceu em sua missão, mas seu nome entrou para a história, mesmo sem ter um nome. E ganhou um memorial localizado no Instituto de Medicina Militar; uma estátua com 2 metros de altura, feita de bronze. Pouco pelo tanto que ela sofreu naquelas 5 horas angustiantes, mas seu sofrimento pôde levar Yuri Gagarin ao espaço em segurança.

Já o famoso cientista Ivan Pavlov, conhecido pelos seus experimentos sobre  reflexos condicionados, o que lhe garantiu o Prêmio Nobel. No jardim do Instituto de Medicina Experimental em Leningrado (atual São Petersburgo) assenta-se uma estátua de bronze com Pavlov e um de seus cães. Pavlov então escrevera “Mesmo que o cão, um servo e amigo do Homem desde tempos pré-históricos, seja sacrificado para a Ciência, a nossa dignidade obriga-nos a garantir a todos cada vez que isso aconteça não haja sofrimento desnecessário”.

Para encerrar, o monumento que eu mais gosto e, creio eu, seja o mais icônico. Esta ratinha tricotando um DNA fica também na Rússia, em Novosibirsk.

De acordo com su criador, o escultor Andrew Kharevich:

[A estátua] combina a imagem do rato de laboratório e um cientista, porque estão relacionados uns com os outros e servir como um caso. Os camundongos são capturados em um momento de descoberta científica. Se você olhar em seus olhos, você pode ver que este rato pequeno surgiu com alguma coisa. Mas toda a sinfonia de descoberta científica, alegria, “eureka” etc. ainda não começou a soar.

É uma homenagem aos guerreiros silenciosos que foram mais que cobaias. Foram companheiras, co-descobridores de mundos novos, de curas, de conhecimento, de todos os maiores ideias da Ciência: salvar vidas, garantir melhor condições para as pessoas. A Ciência, contudo, não resolveu os problemas sociais, porque fundamentalmente depende das próprias pessoas, mas nos deu meios de transporte, comunicações em tempo real, erradicou-se inúmeras doenças, como a poliomielite, a varíola, a raiva humana e tantas outras. Entendemos como manipular nossos próprios genes para que nós mesmos possamos produzir o medicamento que precisamos. Descobrimos a vida, descobrimos como apenas 4 moléculas em arranjos específicos constroem o quebra-cabeças dos seres vivos.

Cada um desses monumentos acima é muito pouco para externarmos nossa admiração para com os doces animais que foram sacrificados em prol de um bem maior. Não é bonito, mas quando você vê uma legião de médicos (pois eles são muitos) usando tudo o que aprendemos nos últimos séculos e, por fim, conseguem salvar uma vida, um porquinho-da-índia, um ratinho, um chimpanzé sorriem, pois eles também tem parte nisso. Eles não doaram seus corpos, então, é mais um motivo para honrá-los com nossa dedicação, perseverança e continuidade de nossos trabalhos, pois se existe um grande nome da ciência que ganha um prêmio Nobel, existe um grande nome da Ciência que foi responsável por sua descoberta.

11 comentários em “Grandes Nomes da Ciência: As anônimas cobaias

    1. Ciscos? Os meus estavam suando, eu acho.

      P.S.: Você deve estar duplamente emocionado, por ser um texto em prol do desenvolvimento científico ao mesmo tempo em que é contra o ativismo inútil. Bro fist!

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  1. Quanto a parte ética:

    O carrasco que mata alguem que NÃO QUER morrer não pode dizer que tem respeito por sua vitima.
    Não há maneira certa de matar alguem que NÃO QUER morrer.
    Não existe assassinato gentil, explorar um animal é agressão, estando ele consciente ou inconsciente.

    Quanto a parte científica:

    Animais de diferentes espécies têm a capacidade de absorver, metabolizar e eliminar as substâncias de forma diferente dos humanos.

    Se vc acredita que os modelos animais são realmente preditivos para o modelo humano, nos mostra onde está o valor preditivo que o modelo animal tem para avaliar efeitos de substancias em humanos. Se o modelo animal é realmente um bom modelo, onde estão os periodicos mostrando esses numeros de predição tão positivos?

    Por que vc não fala nada sobre as porcentagens de predição do modelo animal para o modelo humano?

    Cientistas que insistem no modelo animal o fazem por razões culturais e historicas. O fato é que cada vez mais cientistas estão percebendo que o modelo animal é um pessimo modelo para avaliar efeitos de substancias em humanos. Discorda? Otimo! Então enfrente os periodicos apresentados nesse video, refute-os, nos mostre aonde está a evidencia que o modelo animal é preditivo. Assuma o ônus da prova de sua própria afirmação.

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    1. O carrasco que mata alguem que NÃO QUER morrer não pode dizer que tem respeito por sua vitima.

      Diz o hipócrita que usa inseticida e coloca desinfetante no ralo.

      Não há maneira certa de matar alguem que NÃO QUER morrer.

      Quando for a uma savana africana, diga isso a um leão cara-a-cara.

      Não existe assassinato gentil, explorar um animal é agressão, estando ele consciente ou inconsciente.

      Diz o hipócrita que só está vivo graças às vacinas, remédios, tratamentos de água etc.

      Animais de diferentes espécies têm a capacidade de absorver, metabolizar e eliminar as substâncias de forma diferente dos humanos.

      Diz o hipócrita que não pensa em servir de cobaia porque é covarde.

      Se vc acredita que os modelos animais são realmente preditivos para o modelo humano, nos mostra onde está o valor preditivo que o modelo animal tem para avaliar efeitos de substancias em humanos.

      Diz o ignorante que não sabe o que são publicações científicas.

      Se o modelo animal é realmente um bom modelo, onde estão os periodicos mostrando esses numeros de predição tão positivos?

      Diz o ignrante que nunca ouviu falar da Nature, Science, New England Journal of Medicine, The Lancet e tantos outros.

      Por que vc não fala nada sobre as porcentagens de predição do modelo animal para o modelo humano?

      Diz a toupeira achando que o blog é dele.

      Cientistas que insistem no modelo animal o fazem por razões culturais e historicas.

      Diz a besta que não sabe que se continua com um modelo que funciona até que haja prova em contrário, mas que os ignorantes nunca mostram essa “prova”.

      O fato é que cada vez mais cientistas estão percebendo que o modelo animal é um pessimo modelo para avaliar efeitos de substancias em humanos.

      Diz o tolo que vive de site vegan, mas incapaz de postar fontes.

      Discorda? Otimo! Então enfrente os periodicos apresentados nesse video, refute-os, nos mostre aonde está a evidencia que o modelo animal é preditivo. Assuma o ônus da prova de sua própria afirmação.

      Diz o pesquisador de YouTube, cujo liunk é tirado de site vegan, que não viu que a publicação diz “Animais em aulas práticas: podemos substituí-los com a mesma qualidade de ensino?” ou seja, se referindo em ensino e não em pesquisa, e o outro link é apenas um artigo de opinião, sem testes clínicos comprovando coisa alguma.

      Mas, claro, se fosse entender de ciência, vegan não seria.. Claro, fakes vegans não são tolerados. Manda um beijo pro Robson.

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    2. “Se o modelo animal é realmente um bom modelo, onde estão os periódicos mostrando esses números de predição tão positivos?”
      Periódicos? Nem isso é necessário. Bastaria que você parasse de ler e falar besteira e se dignasse a ler livros didáticos padrões de biologia para ver o valor de modelos animais. Um exemplo é o Evolutionary Analysis [1]. O primeiro capítulo começa explicando o caso da AIDS sob a ótica evolucionária. Depois de usar um cladograma para mostrar – entre outras coisas – que os dois tipos de HIV (1 e 2) tiveram origens diferentes, o autor escreve sobre o valor da análise filogenética :
      “Using Evolutionary Trees to See the Forest
      … general conclusions from analyzing the phylogeny of HIV:
      – Because chimp-SIV (simian immunodeficiency viruses) is so close related to HIV-1, chimpanzees are an important animal to study. How common is chimp-SIV in the wild, and how is it transmitted? Why doesn’t this virus make chimpanzees ill?

      – Many different subgroups of HIV-1 exist as a result of independent transmission events to humans. The resulting diversity of HIV strains poses a challenge to vaccine development. Further because transmission of SIV’s to humans has happened repeatedly in the past, it is likely to continue in the future.”
      – (Resumo) A coleta de sangue de um aidético congolês de 1959 mostra que mesmo dentro do subgrupo HIV-1 a divergência é grande, já que o seqüenciamento dos genes do HIV-1 no sangue deste aidético possui uma notável diferença em relação as sepas atuais.
      Por fim o autor argumenta porque a biologia evolutiva tem no mínimo algo a dizer a respeito da luta contra o HIV:
      “- First: … Because HIV’s mutation is so high, … different strains present a wide variety to epitopes to the human immune system, making vaccine design difficult if not impossible.
      – Second resistant alleles exist and should increase in frequency in human populations as the epidemic continues. …
      – Third, if the transmission rate hypothesis is correct, the best defense against HIV is unquestionably education and changes in behavior. … The transmission rate hypothesis argues that slowing transmission rates will have a multiplicative effect in stemming the epidemic – by lowering both the incidence and the severity of the disease.” …
      [1] Evolutionary Analysis – Freeman & Herron 2º edition pg.17.
      Por fim tem esse aqui de 2012: “Pig geneticists go the whole hog” com a linha fina: Genome will benefit farmers and medical researchers (http://www.nature.com/news/pig-geneticists-go-the-whole-hog-1.11801)
      Lá pode-se ler que: “The NIH launched the NSRRC in 2003 to encourage research in pig disease models.” E principalmente isto aqui: “Pig models are now being developed for other common conditions, including Alzheimer’s disease, cancer and muscular dystrophy. … Knowledge of the genome is also allowing scientists to try to engineer pigs that could be the source of organs, including heart and liver, for human patients. Pig organs are roughly the right size, and researchers hope to create transgenic pigs carrying genes that deceive the immune system of recipients into not rejecting the transplants.”
      Com relação a transplantes, nem é preciso esperar pelos porcos geneticamente modificados. Em 2013 o Prof. Coussios desenvolveu uma técnica nova para melhorar a conservação de fígados para a doação usando fígados de porcos como modelo animal apostando na “similarity in size and structure of the liver and its veins and arteries in human and pig and the strong similarity in many key physiological systems”. Está tudo aqui: “Liver transplant breakthrough set to save thousands of lives: Thank the pigs!” (http://speakingofresearch.com/2013/03/20/liver-transplant-breakthrough-set-to-save-thousands-of-lives-thank-the-pigs/)
      Com resultados tão promissores que já foram parar até em livros textos como esse:
      “Liver Transplantation” (Chakravarty, Po-Huang et alii) (google it and read at page 64) “… Normothermic machine preservation (NMP) has the potential to mantain and perhaps even improve the quality of unexpected DCD livers and and expand their transplant use,especially those discarded on the basis of steatosis, … “

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      1. Parabéns e obrigado pelo comentário.

        Infelizmente, ambos sabemos que o fundamentalista tosco que quer bancar o sabichão não vai ler seu headshot.

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  2. E ser voluntário (sendo saudável) pras pesquisas, ninguém quer, né?
    “Emprestar” seus filhos para testar novas vacinas, por exemplo, ninguém quer, né?
    Vá lá e seja altruísta, se “doe” para testes de novos medicamentos, substâncias e para pesquisas!
    Seja aquele que vai mudar o mundo!
    Dê o exemplo!

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      1. Haja vista que teve um monte de defensores de animais fofinhos bem intencionados e de bom coração que comemoraram aquela notícia falsa de que no Texas fariam experiência em molestadores de crianças.

        Mas só vale testar naqueles que forem marronzinhos. Afinal, ninguém mandou eles nascerem com a cor errada.

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