Em Sampa, nota vermelha é nota excelente!

As escolas públicas de São Paulo não são um paraíso. Nenhuma escola pública é, nem mesmo nos EUA. Mas, de fato, a Secretaria Estadual de Educação faz jus ao ditado que um relógio quebrado está certo duas vezes por dia. Lá mandam materiais e kits para experimentos de Química, os professores passam por uma prova do mérito, no qual podem ganhar um aumentinho a mais, além de serem estimulados a cursar um mestrado ou doutorado (o que eu acho inútil. Ou você tem competência pra dar aula, ou não tem. Mestrado não te dará isso, mas enfim).

Aí eu fico sabendo que a prefeitura de São Paulo acha que esse negócio de cor azul é coisa de ableísta (google it!), pois promove apenas os que tiveram condições de saber um mínimo do que foi ensinado. Assim, os magníficos céleblos resolveram aprovar também alunos com notas vermelhas.

Na prefeitura, uma das principais medidas adotadas pelo prefeito Fernando Haddad foi acabar com aquela pouca vergonha dos ciclos, que só serve para mascarar pseudorrendimentos escolares, quando estão na verdade no patamar de catástrofe.

Entretanto, o incompetente do secreOtário de Educação acha que isso é sacanagem e, coitados dos aluninhos, é preciso ver se eles têm melhorado o desempenho apenas, sem levar em conta se estão com notas altas, ou mesmo medianas.

Em outras palavras, se o vagabundo coitado do aluno não estudou porra nenhuma porque estava no Facebook teve dificuldades com a matéria, é culpa do professor em não perceber seu desenvolvimento. Afinal, se ele tirou 1,0 numa prova e 2,0 na prova seguinte, ora bolas!, ele teve uma melhora de 100%, certo? Se ele tinha zero e passou para 3,0, seu índice de aprimoramento é estratosférico. Basta pegar 3, multiplicar por 100 e dividir por zero. Tentem aí.

De acordo com o secreOtário, um aluno que teve 3, 2, 2, 4 com médias bimestrais teve uma sonora melhora. Claro, né? Normalmente o professor é pressionado a inventar nota, mesmo quando é impossível. Aí, usam este artifício para aprovar a bosta de um aluno, que mal deve saber desenhar o próprio nome.

Esse aluno, sendo aprovado de qualquer jeito, numa coisa que não deixa de ser aprovação automática, ainda que não tenha este nome, só garante que este aluno não tenha acesso a nada. Então, teremos que baixar o nível do ENEM. Teremos que investir em mais cotas, pois, coitadinho!, ele é um massacrado pelo sistema e não tem condições de entrar numa universidade federal (e eu ainda critico a real necessidade disso, quando poderia ter carreiras em nível de Ensino Médio, dando o suficiente para arrumar um emprego razoável, para depois partir para uma universidade, se for o caso).

Então, eu pergunto: Alguém foi às ruas protestar? Alguém pediu intervenção do MEC? Alguém saiu brigando que não, isso não pode ser, que maus alunos TEM SIM que ser reprovados? Não, né? Claro que não falarão nada. Brigam tanto exigindo direito dos professores, mas essa gentinha é a primeira a correr pra Direção, assim que o filhotinho toma nota baixa pela cara, dada a falta de estudo.

O governo apenas está dando à população o que ela quer. E o que ela quer é ninguém enchendo o saco.


Fonte: Folha

4 comentários em “Em Sampa, nota vermelha é nota excelente!

  1. Eu trabalho numa escola municipal no interior de SP e devo dizer que essa prática não é nova. No ensino médio paulista, de responsabilidade do governo estadual, os critérios de aprovação dos alunos são os mesmos adotados agora na prefeitura paulistana. Chega a parecer cinismo, mas a maioria dos educadores com quem convivo defendem que se considere a melhora nas notas e não uma nota de corte, como era feito antigamente.
    No entanto, existe uma prática ainda mais nefasta, nesses tempos de progressão continuada à base de Bolsa Família (governo federal) e/ou Ação Jovem e Renda Cidadã (governo estadual). O Conselho de Escola tem amplos poderes para promover um aluno, mesmo que este não alcance a frequência mínima exigida nem apresente melhoria de notas. Assim, um aluno que estorou as faltas e obteve nota zero nos 4 bimestres pode ser promovido pelo supremo conselho.
    Para remate dos males, o sistema GDAE/PRODESP é muito burro: se um aluno tiver nota máxima em todas as disciplinas e tiver a frequencia exigida, ainda assim ele pode ser reprovado se houver erro de digitação por parte dos operadores do GDAE. Isso porque os programadores não criaram uma rotina que aponte incoerência nos dados lançados.

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  2. “…(e eu ainda critico a real necessidade disso, quando poderia ter carreiras em nível de Ensino Médio, dando o suficiente para arrumar um emprego razoável, para depois partir para uma universidade, se for o caso)….”. – Quase fui defenestrado da USP (antro de esquerdopatas), no século passado, por defender essa posição em vários eventos. A qualidade do ensino nunca mais subirá a patamares razoáveis.

    P.S.
    não sei porque insisto em tentar logar pelo botão LOGADO, aí em baixo. Só acontece comigo ou todos tem o mesmo problema? “ERRO 404 – a página que voce está procurando non ecxiste” (está escrito assim mesmo).

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  3. A curto prazo a medida tira um peso das costas do professor, tem de monte aluno mimado vagabundo que não quer saber de nada mesmo e assim está muito bom para os senhores seus pais,(quem ensina sabe o inferno que é nessa época lidar com estes vagals). Um professor dedicado é o único no sistema que se importa com o aprendizado, todos os demais querem a aprovação e só( Diretores, pais, alunos, secretaria de Educação) mas em alguns anos teremos em são Paulo um Enem, com questões” ligue os pontos” e ”colorir e figura” e a maioria vai passar raspando na nota de corte. a idiocrasia chegara primeiro no Brasil. Anime-se @André ainda podemos reprovar o Aluno que tirar 0-0-0-0

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