Por causa de um sonho, moradores na seca cavam um buraco e acham água

São Paulo continua com falta de água nos mananciais e de vergonha na cara dos políticos. Nosso governador Big Foot também já mandou uma letra dizendo que se o Rio de Janeiro não economizar, poderemos ter racionamento, também (quero nem saber. Continuarei desperdiçando água!).

Mas o bom, justo e misericordioso deus Jeová contornou os problemas de seus filhos. Fez aparecer água em rios caudalosos? Não. Encheu até em cima a Cantareira? Também não. Baixou o preço da garrafinha da água-água-água-água mineral, para você ficar legal? Nem pensar! Ele fez uma tiazinha sonhar e a mesma foi convencer todo mundo a cavar um poço.

Cavando aqui para encontrar algum cérebro pensante, esta é a segunda edição da sua SEXTA INSANA!

A devotada esposa do  serralheiro Anderson Brito dos Santos tinha sonhado com um regato saindo de duas nuvens no céu e caindo no bananal que tem aqui perto. Sim, ela sonhou com chuva. Anderson e seu irmão foram no terreno baldio ao lado de onde moram e cavaram entre bananeiras, conforme o sonho da tia. (agora, vem as partes mais fantasiosas) Segundo os relatos, ao tirarem um pouco de terra, brotou a água.

"Aumentamos o buraco para dois metros de profundidade por dois metros de largura e forramos as paredes com uma antiga caixa d’água sem fundo", disse Brito. A vizinhança veio com baldes, e o povinho ainda com a cabeça na Idade Média acha que foi alguma forma de milagre.

Se o cara cavou um pouco e jorrou água, então o terreno estava molhado e com poças. Não é preciso ser brilhante para deduzir que ali dava um poço. Brilhantismo maior seria ver que aquela água serve tanto para beber quanto a água da minha privada, logo depois de ser usada. De onde veio aquela água? Ninguém se importa, assim como o pessoal que pegou óleo ascarel pra cozinhar ou os toscos de Goiânia que ficaram brincando com Césio-137.

Se tiverem sorte, o mínimo que terá naquela água será coliformes fecais, mas não importa. Se fulaninha sonhou, deve ser verdade e Jesus está ajudando. Algo mais ou menos assim.

– Jesus! Olha, temos uma epidemia de Ebola, o chikungunya se mostra uma ameaça e políticos estão proliferando no Brasil.
– Meh, isso pode esperar. Toma, segura minha cerveja que eu farei aquela tia ali ter um sonho e fazer todo mundo cavar um poço com água imunda pra beber por causa da falta d’água.
– Não é mais fácil fazer chover?
– EU FAÇO O QUE EU QUERO!!!!

Mas como eu já disse: este é o país da pseudociência, onde gostar de Química é alvo de ataque e artistas globais dizem que não serve para nada, assim com pesquisa aeroespacial. Ciência não serve pra nada, por isso templos religiosos têm isenção de impostos. Eles dão esperança (e tiram o dinheiro) na tosca população e todos aplaudem. Alguns idiotas dirão que basta filtrar e ferver, claro. Como se contaminação por arsênico e cianeto sumissem como por encanto!

Depois, quando ficarem doentes, filhos da puta são os médicos e as indústrias farmacêuticas. Vamos tomar chazinho, minha gente!

Darwin está de bloquinho na mão esperando o desenrolar da história.


Fonte: Folha

5 comentários em “Por causa de um sonho, moradores na seca cavam um buraco e acham água

  1. Chamo isso de “princípio do mínimo esforço intelectual”. Surgiu água? Vamos verificar sua procedência? Vamos ver se é potável? Nada, dá trabalho, aleluia é milagre de jeová. E assim surge mais uma linda estória dos milagres do tio barbudo de humor negro pelo facebook.

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  2. Meu avô veio do Nordeste para o Rio e, apesar daqui ter água encanada, ele já construiu uma cisterna para captar água da chuva. Freqüentemente faltava água onde eles moravam e ele sempre tinha o que beber.

    Um engenheiro civil lá do trabalho tá construindo uma casa e começou a fazer duas cisternas. Sem querer, enquanto os pedreiros cavavam atingiram um lençol freático. Para permitir a construção, teve que fazer um poço para liberar a área das cisternas. Agora, com tudo pronto, ele fez um piano de válvulas que permite encher uma cisterna (ou as duas) com a água do poço se quiser, encher as cisternas com água da rua, ou usar a água de um dos três sistemas para chuveiros e/ou vaso sanitário.

    O poço atualmente tem uma vazão de 2000 litros por dia e eu fiquei impressionado com a engenhosidade do sistema dele. Estou acostumado a ver isso só em projeto de engenharia mesmo.

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