A história da Vida na Terra é uma historia de assassinos, silenciosos ou não. Desde meteoros até inundações. De terremotos até ação humana. De vulcões até… algas? Sim, algas. E alguma coisa estava clara que não ia dar certo quando muitas baleias começaram a morrer.
Hoje, cientistas olham desolados para um assassinato de milhões de anos; e na busca da verdade, eles se deparam com vários suspeitos… inclusive um que não despertava a menor suspeita.
Qualquer um sabe que a probabilidade de encontrar baleias no meio de uma estrada é praticamente nula. Sorte a nossa que cientistas não são quaisquer uns ou outros, e isso ficou evidenciado num projeto de ampliação da rodovia Pan-americana no norte do Chile. Em 2010, escavadeiras encontraram algo inusitado; indo olhar melhor, descobriu-se uma grande camada de fósseis que datam do final do Mioceno, com cerca de 11 milhões de anos de idade. O local foi apelidado de Cerro Ballena, que se traduz em "monte de baleias ", já que ninguém do marketing chegou a tempo. No local, foram cerca de 40 fósseis em quase perfeito estado.
O conjunto dos grandes ossos fossilizados, com certeza, eram de mamíferos. Assim, uma equipe de paleontólogos foi chamada para analisar a ossada, e acabaram sendo capazes de identificar os fósseis como sendo os restos de mais de 40 baleias ao lado de uma série de pequenos animais. Análises posteriores determinaram que a matança ocorreu entre 6 e 9 milhões de anos atrás.
Até então, não se sabia o que mandou todo mundo pra vala (literalmente!), mas aos poucos as coisas vão se elucidando Uma equipe de cientistas do Smithsonian, liderados pelo dr. Nicholas Pyenson, disse ter encontrado o culpado: algas!
Pyenson é curador da do Departamento de Fósseis de Mamíferos Marinhos, no Museu de História Natural do Instituto Smithsonian, e eu já tinha escrito sobre o local, chamado de Cerro Ballena, em que Pyenson usou impressoras 3D para digitalizar e imprimir modelos dos fósseis de lá, para poder estudá-los; mas ainda faltava determinar: por que aqueles animais morreram? Quem foi seu algoz?
Os pesquisadores perceberam que todos os fósseis foram orientados da mesma maneira: de barriga para cima, com a cabeça apontando para o interior. Esta era uma indicação clara de que algo afetou todos estes animais ao mesmo tempo. Quem foi responsabilizado por este morticínio foram as algas.
A deposição dos ossos estava dentro de quatro camadas distintas de fósseis, uns em cima uns dos outros, e a estratificação sugeriu que uma matilha ensandecida de algas tóxicas (você tem um nome melhor para um conjunto de algas assassinas? Vai "matilha", mesmo) vieram com tudo durante quatro vezes dentro de um período compreendido entre 10.000 a 16.000 anos.
As toxinas trazidas pela proliferação de algas nocivas – como no caso das marés vermelhas – acarretam encalhes em massa de uma grande variedade de grandes animais marinhos. Eles ficam sem oxigênio e devidamente intoxicados, envenenados e completamente ferrados, pela versão Lucrécia Bórgia dos protistas. Essa proliferação de algas nocivas são comuns ao longo das costas dos continentes, e são reforçadas por nutrientes vitais, como o ferro, liberado durante a erosão e transportados por rios que correm para o oceano.
Se esse foi o caso de Cerro Ballena, há muita sustentação para a hipótese. Se uma onda de algas tóxicas veio em direção às baleias e os animais, estres acabaram sendo envenenados, ficado sem oxigênio e morrido quase abruptamente, deixando um rastro de matança e um festival de fósseis, prontos para serem investigados por detetives do século XXI.
Algumas pessoas ainda têm a tolice de achar que vivemos num mundo bonitinho, mas a verdade é que de uma hora pra outra, cada um de nós pode ser brutalmente exterminado; e eu não acho que isso seja motivo para desespero, e sim que devamos levar a vida com mais tranquilidade, aproveitando cada momento, ou apenas seremos mais um punhado de ossos velhos sendo analisados por cientistas do futuro (e eu espero que haja cientistas no futuro. Nem que sejam as baratas).
Fonte: The Verge
Sherlock Holmes conversando com o dr. Nicholas Pyenson, antes dele iniciar sua pesquisa. :mrgreen:
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Caro,
Tem hora que seu texto dá a impressão de que as baleias morreram asfixiadas pelas algas…
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E tenho culpa do seu analfabetismo funcional?
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Desde que Antonie van Leeuwenhoek olhou pela primeira vez a placa bacteriana de seus próprios dentes, em um microscópio caseiro, há mais de 300 anos e descobriu “pequenos animais minúsculos, que se mexem muito”, nós sabemos que somos cobertos por micro-organismos. Quando um grupinho deles resolve revoltar-se contra seu hospedeiro pode acontencer o mesmo que aconteceu com as ballenas do Chile. Que mundo perfeitinho, não?
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Vc tem noção que aquelas algas não eram parasitas das baleias, né?
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@André, sim, meu analfabetismo ainda não chegou a ser funcional. Eu concentrei-me nesta sua frase – “…mas a verdade é que de uma hora pra outra, cada um de nós pode ser brutalmente exterminado” – para colocar meu comentário. Uma divagação.
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Você tem noção que as bactérias que estão conosco não estão nos fazendo mal, né?
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@André, Claro que não estão mas em um eventual desequilibrio de sua microbiota pode ocorrer resultado absolutamente devastador, não acha?
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Também acho que devemos beber muita água para evitar desidratação, mas nada disso tem a ver com o artigo.
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@André, então que os microorganismos externos e internos estejam sempre a nosso favor. Amém.
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