Cientistas criam uma xerox de DNA

Craig Venter não o tipo que causa unanimidade. Alguns o veem como brilhantes. Outros, alguém que usa a Ciência em proveito próprio. Não sei qual dos dois tem razão, já que William Perkin foi o primeiro a criar os corantes sintéticos e pioneiro da indústria química, e não era amor à Ciência. Venter e sua equipe foram os primeiros a criarem um DNA sintético. Venter já tinha declarado que pretendia enviar um sequenciador de DNA para o Marte, afim de sequenciar qualquer coisa que estiver por lá.

O problema é fazer testes. Como pegar o que tem lá e sequenciar? A resposta está na aridez do deserto de Mojave.

O deserto de Mojave é um lugar vazio (ou não seria chamado "deserto"), quente, hostil, cheio de cobras e se tem algo que presta por lá é a cidade de Las Vegas, que é hostil e pode acabar com a  sua vida também.

É nesse lugar que Venter e seu pessoal anda fazendo testes. Ele espera desenvolver uma tecnologia mais aprimorada para detectar vida em Marte, e o deserto de Mojave é seu laboratório.

Sua técnica é meio como "xerocar" o DNA de um lugar e reconstruí-lo em outro. Uma espécie de clonagem à distância, criando um fac-símile do DNA que for encontrado, para poder estudá-lo aqui, na Terra. O nome do aparelhinho é Digital Biological Converter (Conversor Digital Biológico).

Sim, isso parece ficção científica. Talvez até seja, mas Kepler também previu a viagem à Lua, Arthur Clarke previu os satélites e a Internet, a Wikipédia já tinha sido prevista por Isaac Asimov e Júlio Verne já tinha descrito um submarino nuclear. O que soa ficção hoje pode ser realidade amanhã.

O sistema de Venter iria determinar a sequência das unidades de DNA no genoma de um organismo e transmitir essa informação pela Internet. No outro extremo, o genoma seria sintetizado e inserido no que equivale a uma célula em branco, mais ou menos como ele criou Synthia. O DNA inserido iria assumir o comando da célula e recriar uma cópia do organismo de origem .

Mas, pô, Marte? Tantos problemas para serem resolvidos aqui. E as criancinhas na África? E os sem-teto? E os beagles?

Pois é, e a caneta que você escreve em qualquer posição? E os computadores? E sistemas de navegação inercial? E isso e aquilo? Pensa comigo então: E se você tem a droga de um vírus na África, mandando um monte de capiau pra vala. O CDC, o Instituto Pasteur e a FIOCRUZ precisam pesquisar sobre ele. Milhões de cientistas no mundo todo tentando entender a bagaça que apareceu em alguma favela em Mogadíscio (desculpem o pleonasmo). Ao invés de expor pesquisadores a ambientes insalubres, o DNA daquela porquera pode ser "impressa" direto nos laboratórios, sem problemas de deslocamento, logística e insegurança, já que ir à Somália não é um passeio no quintal.

É por isso que a equipe de Venter estava revirando terra no Desertão do Mal, quando podiam ter feito uma fézinha numa máquina caça-níqueis (ok, eles devem ter dado um pulinho lá). A missão do pessoal era encontrar vida microbiana no deserto, determinar sua sequência e transmiti-lo para a sede da Synthetic Genomics, em San Diego.

As máquinas de sequenciamento estão cada vez mais rápidas, cada vez mais menores em tamanho. Um brinquedinho destes está para ir à Marte e em 2020 e todo nosso conhecimento vai com ela, com a gratificação de trazer-nos de volta mais conhecimento.

Há muito a ser feito, há mito a ser aprendido. Mas estamos no caminho certo.


Fonte: The Guardian

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