Eu tenho uma gama imensa de acontecimentos guardados em minha memória. Uma delas é a respeito do concurso de redação que o colégio onde eu estudava propunha. Os alunos cada série de cada segmento tinham que entregar suas composições e esperar o resultado. Fui agraciado 2 vezes com o primeiro lugar. Só não ganhei o terceiro ano consecutivo, pois começaram a reclamar que eu sempre ganhava. Fui considerado hors concours, que no vocabulário de uma criança significa "você foi garfado, loser". Aquilo me deixou bem irritado, pois eu tinha deixado de ganhar o prêmio máximo: um livro.
Livros mudaram pouco em suas apresentações. Textos escritos, seja em que idioma for. Alguns imbecis acham que eles deveriam ter cores e desenhinho para colorir, mas do jeito que está, funciona perfeitamente bem. Entretanto, ficou-se a dúvida se a leitura por meios digitais suplantariam os livros, mas um estudo feito por pesquisadores alemães diz que não, isso não tem nada a ver.
Sabemos que o pessoal mais idosos tem uma certa aversão a aparelhos e tecnologias mais novos. Se bem que observando como a população média usa computadores, até eu fico com medo, mas não chego a pensar que vírus de computador infectará as pessoas, tornando-as burras. Isso é congênito. Nossos pais e avós estão acostumados com um mundo simples. Você liga a TV, senta no sofá e assiste ao programa. O máximo que se permitiam usar era o controle remoto (se você é casado, sabe que o verdadeiro Poder é fundamentado em quem domina a posse do controle remoto). Rádios: você liga e sintoniza a estação. Simples. Livros: abre e lê (ou rasga e faz fogueira).
Então, chegaram os computadores. Qual o processador? Dell, Acer, Apple ou Positivo? Prefere que venha com placa-de-vídeo? Com quantos gigabytes se faz uma jangada, um barco que veleje nesse informar? Tem onboard, offboard e international board? Windows? 8 é melhor que 7, né? Então Windows 98 é 90 vezes melhor que o 8. Não! Não! 2 mil! 2 mil! Pinguins, Macs, janelas, camundongos, ecrãs, som, iscáipe, EU SÓ QUERO VER A MINHA NOVELAAAA!!!!
Livros e revistas são muito mais simples. Eles estão lá, imutáveis. Cada vez que você os abre, eles nos desnudam seu conteúdo frente aos nossos olhos maravilhados. Eles são muito simples de se usar: basta abrir e… bem, usá-los. Muito fácil.
Ou não:
Hoje em dia, até as TV são smart, quando eu só quero que ela passe imagem em movimento. Agora passa foto e até toca música, acessa a Internet, tem aplicativo etc. Só não têm programação que preste. As pessoas não querem isso. Querem algo que você ligue e funciona. Lembra da Telefunken da sua avó? Pois, é. Ela se divertia muito assistindo-a, vendo o Direito de Nascer e o Vigilante Rodoviário. Isso além do fato de ela ver um documentário sobre o Big Bang, ou pelo menos captando a radiação cósmica de fundo, mas isto és secundário, já que nossos maraaaaaaaavilhosos canais pagos saem do ar na primeira chuva (Physics is a bitch!). E quando não saem, também não tem nada pra se ver. Enfim.
Os livros mudaram pouco, porque é difícil melhorar o que é quase perfeito. Até chegarem os leitores de livros eletrônicos, os chamados e-book readers ou, simplesmente, e-readers.
Convenhamos, ler na tela do PC é um saco. Eu demoro um tempo considerável lendo na tela em comparação se tiver que ler o mesmo texto em papel. É cansativo, a luminosidade externa atrapalha, tem que ficar rolando a tela etc. Isso sem falar que ninguém é maluco de levar o PC para lá e pra cá e mesmo o notebook é limitado e desengonçado. Até a Amazon apresentar o Kindle, o mais famoso dos e-readers, apesar do Kobo ser tão bom quanto (podem me presentear com qualquer um dos dois que eu ficarei satisfeito).
Eu não tenho um Kindle. Salvo meus livros e textos no iPad para leitura posterior. Principalmente se for no formato ePub, que emula muito melhor o efeito visual de páginas de um livro, não cansando os olhos, apesar que mandar qualquer coisa para dentro do iPad é um pé-no-saco. Um amigo te arruma um arquivo para você, daí tem que mandar pro Dropbox, para pegar no iBook. Um saco! Mas quando você vê, como eu mesmo notei, que eu ia pra faculdade com uma porrada de livros, tabelas, máquina de calcular, jaleco, caderno etc e poderia substituir quase tudo isso hoje com um tablet e um smartphone (ou mesmo um dumbphone) hoje. O mundo evolui. Meu pai usava régua de cálculo (eu tinha uma e sempre achei muito legal pela inteligência da coisa).
Hoje, vou pras minhas aulas com apenas o iPad e meu fichário de anotação (escrevi mais rápido em papel e organizo melhor do que usando uma styllus, mas um colega meu usa Galaxy Note e faz tudo direto nele). O livro didático que uso está em formato pdf (não que seja oficial, se me entendem) e me poupa tempo e minha coluna, já que nem sempre vou trabalhar de carro.
Aliás, por que não existe livro didático em ePub? E por que e-book é caro? Sim, porque não há os mesmos custos de sua produção e distribuição. Ah, Brasil e seu braso-capitalismo…
Meu pai não teria problemas em usar um tablet ou mesmo um simples e-readers. Aliás, os e-readers são até muito mais simples de usar, baratos. Mesmo no Brasil eles saem "baratos" (aspas, notem-nas) se levarmos em consideração o preço dos livros, mas isso só seria amortizado pela quantidade de livros que se leia. Ainda assim, o preço dos e-books ainda são caros, mas a facilidade de transportá-los compensa. Eu estou no metrô e posso continuar a ler um o livro que peguei de manhã ou mesmo um outro de piadas, por exemplo.
Dada sua simplicidade, e-readers são muito mais fáceis de serem usados pela população de mais idade, não só pela limitação de sua própria natureza (quer que ele acesse YouTube, veja animação em flash e tenha joguinhos, compre um tablet e não um e-reader), mas pela facilidade de leitura.
A drª Franziska Kretzschmar trabalha no Departamento de Inglês e Linguística da Universidade Johannes Gutenberg em Mainz, Alemanha. Ela estuda como é o comportamento e hábitos de leitura das pessoas e estudou como jovens entre 21 e 34 anos e idosos a partir de 60 anos liam frente a livros, páginas impressas, tablets e e-readers. Cada participante foi convidado a ler trechos de nove textos que variaram em dificuldade a partir de trechos de ficção e acadêmicos. Kretzschmar usou aparelhos para mapear os olhos e cronometrar o tempo de leitura, bem como analisou como o cérebro das pessoas estava processando as informações.
Entre os mais jovens, não houve diferença no tempo de leitura ou de atividade cerebral entre os três dispositivos, mas os participantes mais velhos passaram mais tempo e esforço ao ler a página impressa. Os melhores resultados vieram quando os participantes leram em tablet, o que exigiu um mínimo de atividade cerebral dos leitores mais velhos e lhes permitiu terminar uma página três a quatro segundos mais rápido.
Ohhhhh, que legal! 3 segundos. U-aaaaaaau!
Pode parecer pouco, mas para o cérebro é uma eternidade. Nossos processos neuroquímicos e elétricos dentro do córtex cerebral são medidos em milissegundos. Quando você lê, você reconhece as letras, une-as em palavras, usa regras de sintaxe, compreensão de texto (coisa que 80% das pessoas não sabe o que significa) e processa tudo isso dando uniformidade e montando todo significado de forma abrangente. É muita coisa sendo processada e, convenhamos, pessoas mais idosas não têm o mesmo desempenho que os mais jovens. Sendo assim, qualquer ganho em segundos é muito significativo. A pesquisa foi publicada na Plos One.
Os resultados sugerem que os idosos leem com mais facilidade quando se utiliza luz de fundo nos dispositivos eletrônicos, que proporcionam maior contraste entre o texto e o fundo, disseram os pesquisadores, num lampejo do óbvio. Por mais que você use uma daquelas lanterninhas de leitura, a página não fica iluminada por igual, dada a curvatura do livro. Colocar mais iluminação no ambiente pode não ser legal, ainda mais se você tem o hábito (ou precisa) de ler na cama. Fica difícil você dormir quando seu cônjuge deixou seu quarto mais iluminado que estádio de futebol.
Ainda há uma barreira a vencer. Porque um e-reader não é um livro, apesar de ser um livro quando carregado. As pessoas ainda não se acostumaram com isso, preferindo os livros de papel (eu também gosto, mas também gosto de praticidade). Qual será o futuro? Bem, antes andar com um pedaço de plástico era esquisito para quem enchia a carteira de dinheiro para poder ir às compras. Com os livros digitais acontecerá o mesmo. Só espero que não viremos um planeta de analfabetos quando nos dermos conta disso. Aí, será tarde demais.
Muito interessante o resultado! Seria interessante se o mesmo estudo fosse feito com pessoas fotossensíveis.
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O pessoal da sustentabilidade ao invés de perder tempo com o trio elétrico de urina e outras merdas(!), deveria estimular o uso de e-readers. Também fazer pressão nas editoras – capitalistas e golpistas :) – para que coloquem o preço dos ebooks consideravelmente mais baratos do que os livros comuns. Afinal ebooks não cortam árvores e , pelo visto neste artigo, a leitura parece ser até melhor nos referidos dispositivos.
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