A história do mineral que guiou os Vikings

Vikings são um dos povos que mais desperta curiosidade. Desde seus rituais sangrentos durante uma cerimônia fúnebre, segundo o mentiroso Heródoto (o qual pode ter relatado muitas coisas, mas também inventou um monte de besteiras, além de colocar deuses e divindades no meio de acontecimentos que ele sequer presenciou), até o proverbial – e igualmente fantasioso – capacete com chifres, os vikings sempre despertaram mais que a curiosidade, mas até mesmo sensos nacionalistas, chegando ao ponto de servirem de inspiração para Himler, que usou a Siegesrune dupla como símbolo da infame Schutzstaffel, conhecida e temida pela sua sigla: SS.

Como eles estavam já navegando por aí uns 900 anos antes de idiotas resolverem ter a "brilhante" ideia de exterminar a metade do mundo (e muito provavelmente escravizar a outra metade), os vikings não podem ser culpados disso e quase mil anos depois, ainda estamos tentando entender como aquele pessoal se aventurava no mar com um barco que não oferecia grande abrigo, além de suas técnicas de navegação.

Se você depende unicamente do seu colégio como fonte de cultura, muito dificilmente você saberá que os vikings eram exímios navegadores. Mesmo porque, vikings não são matéria de vestibular, assim como chineses, babilônios, persas, árabes etc. e seu professor não tem tempo de ensinar coisas mais importantes que as besteiras que Platão falava ou que Getúlio Vargas realmente escreveu aquela besteira de carta-testamento. Eu, confesso, também tenho que ensinar muita bobagem inútil por causa do maldito vestibular e do ENEM.

As runas eram a escrita e um dos principais símbolos para boa sorte dos vikings. Obviamente, não posso dizer  que eles também fossem muito legais, mas pelo menos não saíram matando indiscriminadamente, pois havia um certo método por trás disso e eles preferiam matar homens; as mulheres eram primeiro estupradas e depois vendidas como escravas (ou vice-versa). Para chegar até a América (BEM antes de Colombo, diga-se de passagem), eles tiveram que usar tecnologias desconhecidas em boa parte do mundo. Os chineses tinham inventado a bússola, os árabes estavam tomando em ritmo de expansão, a Europa estava no meio da Idade das Trevas, a ICAR estava lá, como quem não quer nada e a Palestina estava do jeito que sempre estivera até então.

Os vikings conheciam a bússola, mas ao que aprece não foi de uma fonte chinesa e há muitos debates sobre quem a inventou primeiro. Como os egípcios, gregos e romanos, os vikings também viajavam se orientando pelo Sol e as estrelas. Algumas tribos semíticas toscas lá pelas bandas do rio Jordão não estavam muito melhor que nos tempos da pré-história, só dando sorte porque já tinham chegado na parte de empregar agricultura (devidamente coordenada, gerenciada e administrada por islâmicos). Christians who?

Não há muito problema em navegar orientando-se pelas estrelas, mas há uma certa estrela que só sendo bem idiota de olhar diretamente para ela, como forma de pedir a Odin, o Deus Caolho, pra ficar cego também… e das duas vistas a curto prazo. Isso quando conseguimos olhar para ela…

Algumas lendas nórdicas fazem referências a uma certa "Pedra do Sol", usada pelos navegadores vikings e, segundo estas mesmas lendas, ela foi a responsável por ajudar os distintos nórdicos a chegarem à América. Sagas como a Sveinbjarnarsonar contam a história de aventureiros vikings que navegaram de Bergen, na costa da Noruega para a Islândia, continuando até a Groenlândia e o que eles chamavam de "Terra Nova", como era chamado o continente americano entre 700 e 1100 E.C.

Eles até poderiam ter usado uma bússola, mas tão perto do polo sul magnético (sim, SUL!) ela não seria de grande valia. Entretanto, a Estrela Polar estava – e ainda está – ali, apontando para o norte (sim, NORTE. Polo norte geográfico não é a mesma coisa que polo norte magnético); só que a Pollaris tem a péssima idiossincrasia de não aparecer de dia. Logo, temos o Sol, que traz alguns problemas para observar, ainda mais em termos de intensa luminosidade.

Em 1967, um arqueólogo dinamarquês, Thorkild Ramskou, sugeriu que os vikings poderiam ter utilizado a polarização obtida com variações de calcitas, que nada mais são que minerais cristalizados de carbonato de cálcio (CaCO3), mais conhecidos como espatos da Islândia e em 2007 o dr. Gábor Horváth – do Laboratório de Óptica Ambiental, da Universidade Eötvös, na Suécia — publicou um artigo na PNAS onde descrevia como as "Pedras do Sol" podiam prover boa visibilidade ao polarizar a luz de maneira muito eficiente.  Juntamente com o espato da Islândia, é bem provável que usassem cordierita, um silicato de alumínio e magnésio – Mg2Al4Si5O18.

A calcita tem uma propriedade chamada birrefringência, isto é, luz que passa através dela e é dividida em dois caminhos, formando uma dupla imagem do outro lado. O brilho das duas imagens em relação ao outro depende da polarização da luz. Ao passar a luz através de calcita e mudando a orientação do cristal, obtem-se imagens duplas que podem ser superpostas, o que seria o equivalente a apontá-la para o sol em um determinado ângulo até que que se veja círculos concêntricos, isto é, perfeitamente alinhados, o que determina a posição do Sol.

Afinal, o que tem o dia nublado a ver com isso?

Tem tudo a ver. Se guiar pelo Sol quando você PODE ver o Sol é moleza e até meu hamster consegue fazer isso. Em dias nuvblados fica difícil por causa da difusão da luz. A luz sempre viaja em linha reta e não me venha bancar o espertinho citando um buraco negro. Com um buraco negro próximo à Terra, nem mesmo adamantium adiantaria. Assim, a luz que sai do Sol e se infiltra pelas nuvens sofre difusão, onde vários feixes tomam diferentes caminhos. A função de um polarizador é, exatamente, filtrar ondas de luz que não estejam perfeitamente alinhadas com este mesmo polarizador. Do esmo modo, os raios que se difundiram não são enxergados ao se olhar por um polarizador. Dessa forma, o Sol estando encoberto emana seus raios, a maior parte dele muda de direção, mas o que vai direto pro cristal deixa passar orienta o navegador, vindo em duplicata. O navegador alinha o cristal até obter dois feixes concêntricos e pronto! Lá está o Sol, mesmo sem ver o Sol diretamente.

Simples na teoria, mas será que isso realmente funcionava? O dr. Guy Ropars, um físico da Universidade de Rennes, na França, realizou um experimento com um pedaço de espato da Islândia, recentemente encontrado a bordo do Alderney, um navio britânico que afundou em 1592. Ropars e sua equipe atingiu uma das faces do mineral com um feixe laser, e mediram a polarização do feixe depois de atravessar o mineral. Girando o cristal, a equipe descobriu que só há um ponto sobre a pedra onde a polarização é máxima, o que permitia ver o sol em dias muito nublados.

O aparelho reconstruído é este da foto acima, onde a luz penetra pelo orifício superior e refletido por um espelho. Assim, o usuário pode girar o eixo, e o cursor orienta a direção a seguir. De acordo com a pesquisa, o aparelho funciona perfeitamente e há uma boa probabilidade de que tenha sido exatamente este o método usado pelos antigos vikings, ainda que o aparelho não seja exatamente este. A pesquisa foi publicada no periódico Proceedings of the Royal Society A.

2 comentários em “A história do mineral que guiou os Vikings

  1. Muito bom. Ainda bem que a ETE de Ribeirão Pires (onde eu estudo) ensina não só coisas que caem no vestibular, como também sobre os vikings, egípcios e outros povos. Precisamos conhecer muitas coisas, não só o que cai nos vestibulares.

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  2. Sempre me interessei por historias de outros povos. Os vikings possuíam uma cultura bem perculiar e o provável método de orientação deles me surpreendeu. Ainda não entendo o porquê de dar crédito para o Colombo por descobrir (aka colonizar) a América.

    PS: estou usando a imagem de Odin no avatar :)

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