Uma das coisas mais maneiras que eu vi (e isso faz tempo) foi uma impressora matricial modificada para imprimir em Braille, juntamente com o DOSVOX, desenvolvido pelo pessoal do Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ. Perto do SIRI do iPhone 4S, isso pode soar um grande "Meh!", mas pensem no que se conseguiu com isso? Se tais pesquisas chegam à população, é outra história (enquanto esperamos o governo acabar com o maldito de um mosquito que transmite o vírus da dengue). Agora, outras pesquisas trazem capacidade de cegos interagirem mais e melhor com o mundo.
Enquanto cientistas usam tablets para ajudar na leitura em Braille, outros pesquisadores criam teclados virtuais que pode ser usado em qualquer smartphone, seja de plataforma iOS ou Android.
Pela Universidade de Stanford, o dr. Adrian Lew, professor assistente de engenharia mecânica, e Sohan Dharmaraja, doutorando em Matemática Computacional buscavam um sistema que traduzisse os sinais em Braille em texto falado. Algo muito útil quando você está com as mãos ocupadas (ou mesmo não tem as mãos). Assim, eles procuraram desenvolver um aplicativo de reconhecimento de caracteres, que iria usar a câmera em um dispositivo móvel, podendo ser um smartphone ou um tablet. A câmera captaria os sinais e o aplicativo renderizaria (Jesus, que palavra!) de forma que fosse feita a conversão dos caracteres e o sistema vocal transformaria as palavras reconhecidas por sons falados. Como nas melhores pesquisas, o grupo atirou no que viu e acertou no que não viu, o que normalmente é o que acontece e o pessoal que estudou o Viagra não me deixa mentir.
Cada vez que avançavam nas pesquisas, os cientistas esbarravam em uma série de problemas técnicos ou operacionais. Ok, você colocaria a folha na frente do aparelho, pronto para fazer a tradução. Muito legal, mas tem um pequeno problema: se a pessoa é cega, como vai orientar o papel direito? Como leitor, o sistema estaria fadado ao fracasso, mas daí veio um estalo: E se invertesse? E se a invés de um leitor, ele fosse um escritor?
Quando eu estava na faculdade, tinha uma colega na aula de Bioquímica que fazia Fisioterapia e só tinha 20% de visão e escrevia em Braille, com o auxílio daquele reglete de bolso. Muito complicado de escrever fórmulas. Ela me disse que já fora alfabetizada naquele sistema e não via problema nenhum em escrever. Eu tentei e falhei miseravelmente (e estava com os olhos abertos). Apesar de escrever bem rápido, ela tinha que entender o que o professor falava e as fórmulas colocadas na lousa. Muito difícil e demorado.
No sistema criado por Lew e Dharmaraja, usa-se um dispositivo multitoque que interpreta os sinais e é usado para ler E escrever em Braille. Eles testaram com coisas complexas, como equações matemáticas, reações de fotossíntese etc. Na página do Facebook, vocês podem ver um vídeo onde Dharmaraja explica o funcionamento.
Enquanto isso, o dr. Joshua Miele — cientista associado do Instituto de Pesquisa dos Olhos Smith-Kettlewell, onde trabalha no Centro de Pesquisa de Engenharia de Reabilitação — pensou: por que não ter um teclado virtual e usar os movimentos das mãos da pessoa para fazer o smartphone funcionar como se estivem tocando nele, com um sistema vocal falando em tempo real o que está acontecendo? Bem, vejam o vídeo abaixo (com legendas em inglês. Sorry):
No vídeo, o dr. Miele (não, não é o humorista) demonstra o WearaBraille, um teclado Braille virtual sem fio, apresentado na 26ª Conferência Anual de Tecnologia e Pessoas com Deficiência. Ele é dispositivo de entrada para um smartphone com sistema operacional iOS ou Android. Windows Phone 7 e Symbian ficaram de fora. Com um leitor de tela VoiceOver as pessoas podem usar seus apetrechos tranquilamente, ainda que a fala daquele bicho seja um pouco irritante. Fico no aguardo de um modelo com a voz da Íris Lettieri.
Vi um monte de idiotas criticando as pessoas que lamentavam a morte de Steve Jobs, alegando que ainda há criancinhas morrendo na África. Jobs e outros que procuram desenvolver tecnologia são responsáveis por estarmos dando condições de vida melhor às pessoas deficientes. Eles deram o ponta pé inicial apresentando novos aparelhos, enquanto outros cientistas dão novas utilizações para eles, como os que criaram um sistema para transformar um celular num microscópio de campo para ajudar as próprias criancinhas na África. Quem criticou a quantidade de pessoas que externaram seu lamento não doou 10 centavos para nenhuma criancinha; seja na África ou aquela que vende bala no sinal. E se você é daqueles que defende tanto a tecnologia só porque não pode ficar sem acessar Orkut ou Facebook, pouca coisa se pode dizer de você. Outras pessoas estão trabalhando sério ao invés de se preocupar com nulidades.
Parabéns a todos os pesquisadores envolvidos.

Fantástico!
Muitas vezes, certos dispositivos são abandonados ainda na fase de projeto/teste, devido a diversos problemas de praticidade, adaptação, etc.
A grande “Jogada de Mestre” é isso aí, mudar o tipo de abordagem, usando o “velho truque” de “Opa… isso aqui, não tá servindo pra tal função, masss… e se fosse usado pra outra coisa ou de outra forma?”.
A genialidade tá nisso aí.
Quanto ao lance dos papinho de “Ah… mas pra que gastar dinheiro fazendo pesquisa, se tem um monte de gente passando fome”, é coisa de gente burra mesmo, se todos tivessem essa atitude, não existiria roda, agricultura, escrita…
Parabéns pelo site, sempre visito, e gosto muito das matérias postadas aqui.
Um abraço, e que “A Força esteja com você”!!! (hehehehe)
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O som pode ser irritante, mas é que cegos conseguem discernir sons numa velocidade assustadora, um tempo atras eu escutei um podcast do jovem nerd onde eles entrevistavam um cego sobre cães guia, e ele demonstrou como ele usava o iphone, a velocidade que ele punha o leitor era assustadora e ele ainda disse que tinha diminuído para demonstrar, http://castroller.com/Podcasts/JovemNerd2/2268545-Nerdcast%20256%20-%20Cegos,%20nerds%20e%20loucos , para vocês terem uma ideia o barulho maluco do começo do vídeo são palavras lidas para um cego. Então mestre André só tava irritante porque estava devagar, na velocidade normal ia parecer linguagem de maquina. Quanto a pesquisa, fantastica, teria usos inclusive fora do contexto de necessidades especiais, eu ia curtir um teclado desse embutido numa luva para digitar ou jogar sem tirar as maos do encosto da cadeira. Admiro também a força de vontade do cientista, pois se ciência já algo complexo de ser feito com todos os sentidos imagine com uma deficiencia visual. Enquanto isso, orkuteiros, crentes e outras espécies do estilo tem todo o equipamento em perfeitas condições e não usam.
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Então mestre André só tava irritante porque estava devagar
Explique a um cão que um apito ultrassônico não é irritante para vc.
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@André, justo, kkkkkkkk.
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