Li uma coisa que me fez lembrar de Percival Lowell. A NASA publicou uma pesquisa onde foram detectados traços de oxigênio numa das luas (mais corretamente, "satélite natural") de Saturno. De início, poderíamos pensar "Uhuuuuuuuuu, nóis pode arrespirar lá!" ou que, pelo menos, o satélite Dione seria capaz de abrigar alguma espécie de vida. Entretanto, as coisas não são tão simples, pois a quantidade de oxigênio não é tanta assim. Por que deveríamos nos importar, então?
Percival Lowell foi um cara e tanto. Apesar de não ter nenhum curso formal em Astronomia, Lowell e sua equipe foram os responsáveis na exploração de Netuno (que era chamado por ele de Planeta X, apesar de não tê-lo descoberto diretamente) e de Plutão. Mas a paixão de Lowell era ele: o Senhor da guerra. Cujas luas inspiram medo e pavor. O planeta-guerreiro: Marte.
Lowell era obcecado por Marte e ao ler o trabalho do astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli, Lowell viu os desenhos feitos pelo próprio Schiaparelli e notou linhas intrincadas, que Don Giovanni chamara de canali. Infelizmente, não tinha ninguém na equipe de Lowell que falasse italiano direito. Nem mesmo Lowell sabia. Assim, Lowell traduziu "canali" como "canais". Qual o problema? Nenhum se você apenas se pegar ao português (lembrando que português e italiano descendem do mesmo idioma: o latim). Em português, canais podem ser braços de rios naturais ou construídos pelo homem. No caso dos canais naturais, estes são chamados "paranás". Em inglês, este braço de rio é chamado "channels", mas Lowell traduziu como "cannals". "Cannals" são a versão construída, e por causa disso Lowell achou que havia vida inteligente em Marte.
Levando em consideração que meus vizinhos são incapazes de construir um canal, me resta a mesma conclusão óbvia que outros cientistas tiveram: Sem canal, sem vida inteligente.
É por isso que devemos ter cuidado com certas notícias. A porção de oxigênio ao nível do mar é de cerca de 25% da atmosfera. Com menos de 16%, nós, seres humanos, começamos a sufocar. No caso de Dione – o satélite de Saturno e não a filha de Urano e de Tálassa –, a porção de oxigênio está numa concentração semelhante à da atmosfera terrestre… a uma altitude de mais de 450 km (coloque quantas exclamações quiser).
Como toda deusa, Dione é fria e inclemente. Sua temperatura está em torno de –186 ºC, e espera tanto pela sua visita, como a Madona espera doar 500 mil dólares para você e um beijo na boca. Imagino que a essa altura estão imaginando árvores e seres pululando sobre a superfície de Dine. Antigamente, achavam que como Vênus tinha muitas nuvens, era devido a grande acúmulo de vapor d’água. Se tem vapor d’água, tem água e, por conseguinte, deveria haver animais lá, inclusive dinossauros. Vênus continua sendo o planeta mais temperamental do Sistema Solar, e Dione está lá em seu cantinho, insensível e fria.
Fica-se pensando porque perderíamos tempo vendo Dione e saber que lá tem alguma água, oxigênio e um frio enregelante. Mas isso pode trazer algumas respostas, pois até que pode haver vida lá. Conhecemos muito pouco sobre este fenômeno e não sabemos se a vida pode aparecer em ambientes mais inóspitos, embora nosso conhecimento atual diga que não.
Quando pesquisamos outros planetas e satélites, traçamos um paralelo com o nosso próprio mundo, o que nos faz entender como o mundo se tornou o que é, ou como ele não se tornou o que os outros são. Isso pode dar um novo modo de vermos tudo que está do lado de fora de nossas janelas, e antevermos o que pode acontecer daqui a alguns anos, mesmo levando em conta que de alguma forma poderemos interferir nisso… pelo bem ou pelo mal.
Fonte: National Geographic
