Quando ser Rei não salva de morrer de forma ridícula

Ser rei parece o máximo no papel: castelos, coroas, poder absoluto. Mas a história tem um senso de humor macabro e adora nos lembrar que nem todo o ouro do mundo compra uma morte digna. Enquanto o cidadão comum geralmente parte desta vida de forma discreta, alguns monarcas conseguiram a proeza de transformar seus últimos momentos em episódios tão absurdos que fariam até os filmes do Leslie Nielsen parecerem documentários da BBC.

Aqui vai um listão de mortes ignominiosas, esquisitas e… ok, admito: hilárias.

210 A.E.C. – Qin Shi Huangdi e o elixir tóxico da imortalidade

O primeiro imperador da China unificou o país, padronizou moeda e escrita, e encomendou 8 mil soldados de terracota para protegê-lo na vida após a morte. Mas Qin Shi Huangdi tinha um plano melhor: simplesmente não morrer. Sua estratégia para a imortalidade? Mercúrio (o metal, e não o super-herói). Ele bebia vinho com mel e mercúrio, convencido de que o metal líquido era a chave da vida eterna. O imperador morreu envenenado por sua própria busca pela imortalidade, e até hoje a área ao redor do seu túmulo apresenta níveis tão tóxicos de mercúrio que efetivamente ele jamais foi aberto.

Dizem que rios do elemento cercam seu descanso final; o homem literalmente se banhou em veneno por toda a eternidade.


4 A.E.C. – Herodes, o Grande, e a gangrena genital

Herodes governou a Judeia antiga com mão de ferro, enquanto obedecia aos seus senhores nas colinas romanas. Por anos pensou-se que sua morte tinha sido algum problema renal, mas estudiosos revisaram os sintomas e chegaram a um diagnóstico mais específico e devastador: gangrena nos genitais. A condição pode ter várias origens, indo de infecção abdominal a gonorreia mal-tratada. Independente da causa, o resultado foi uma agonia prolongada e uma morte dolorosa numa das áreas mais sensíveis do corpo humano. Ninguém do pessoal de Davi está chorando por ele.


453 – Átila, o Huno, e a hemorragia nasal conjugal

Átila é o tipo de figura que aterrorizou a Europa inteira. Guerreiro brutal, conquistador implacável, flagelo de Deus. E como esse titã morre? Afogado no próprio sangue por uma hemorragia nasal na noite de núpcias. Depois de casar-se (de novo, né? O homem colecionava esposas), Átila decidiu celebrar bebendo até não aguentar. Na manhã seguinte, seus soldados arrombaram a tenda e encontraram a noiva nova aos prantos sobre um cadáver ensanguentado. Átila teve um sangramento nasal durante o sono, engasgou com o próprio sangue e morreu. O terror da Europa foi derrubado por um nariz que não cooperou.


1087 – Guilherme, o Conquistador, e o pommel assassino

Guilherme invadiu a Inglaterra em 1066, derrotou os anglo-saxões, fundou uma dinastia. Mas na velhice tinha engordado consideravelmente. Durante uma batalha, seu estômago protuberante colidiu com violência contra o pommel da sela (aquela saliência dura na frente, às vezes com reforço metálico). O impacto rompeu seus órgãos internos. Mas a humilhação póstuma estava apenas começando: seu corpo foi saqueado, deixado nu, incêndios atrasaram o funeral. Quando finalmente o enterraram, o cadáver tinha inchado tanto que não cabia no caixão. Os monges forçaram o corpo para dentro e seus intestinos explodiram, liberando um fedor que dispersou os enlutados.


1190 – Frederico I Barbarossa e o rio traidor

Frederico I foi Rei da Germânia, Rei da Itália e finalmente Imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Durante a Terceira Cruzada, liderando tropas alemãs até a Turquia para enfrentar Saladino, chegaram ao rio Goksu. Seus conselheiros recomendaram procurar uma ponte para atravessar as águas turbulentas, mas Frederico insistiu que podia cruzar a cavalo. Ansioso para provar que estava certo, foi o primeiro a mergulhar no rio – e seu cavalo não aguentou a correnteza. Usando armadura pesada, Frederico não conseguiu nadar. Homem e cavalo se afogaram juntos. O grande imperador nunca chegou ao campo de batalha. Falta de aviso não foi.


1387 – Carlos II de Navarra e o caso do rei flamejante

Carlos II estava doente, e seus médicos decidiram embebê-lo em lençóis encharcados de vinho destilado. Uma criada então o costurou dentro desses lençóis alcoolizados, transformando o rei num coquetel molotov ambulante. Quando uma chama acidental (da vela usada para queimar a linha de costura ou das brasas na cama para aquecê-lo) tocou o tecido, Carlos virou uma tocha humana instantânea. Impossível escapar, costurado em seu próprio sudário inflamável, o rei literalmente queimou até a morte. É o tipo de morte que faz você agradecer por antibióticos e médicos que não tentam te marinar vivo.


1460 – Jaime II da Escócia e o canhão rebelde

Jaime II governou por 23 anos e era apaixonado por artilharia, importando canhões de Flandres e adorava vê-los em ação. Durante o cerco ao Castelo de Roxburgh, estava observando de perto quando um de seus próprios canhões explodiu em vez de disparar. Como descreveu o historiador escocês Robert Lindsay: “Seu fêmur foi cortado em dois por um pedaço do canhão mal-feito que explodiu ao disparar”. O rei caiu no chão e morreu rapidamente. Morto pela própria arma que tanto amava; uma ironia digna de tragédia grega.


1498 – Carlos VIII da França e a arquitetura assassina

Carlos VIII (também conhecido como Carlos, o Afável) teve um reinado de 15 anos bastante medíocre. Sua morte provavelmente é o aspecto mais memorável da sua passagem pela coroa. Ele não estava jogando tênis, apenas assistindo a uma partida em Amboise quando não percebeu uma porta baixa no caminho. Caminhou direto para ela e bateu a cabeça no lintel. Inicialmente se recuperou, mas entrou em coma após o jogo e morreu algumas horas depois. O rei da França foi literalmente nocauteado por uma porta.


1737 – Rainha Carolina de Ansbach e a explosão intestinal

Mãe do Frederick, então Príncipe de Gales, a Rainha Carolina sofria de gota severa e era carregada em cadeira de rodas decorada. Desenvolveu uma hérnia estrangulada após o nascimento do filho mais novo. Um dia a dor foi tão intensa que a deixou totalmente acamada – seu útero tinha se rompido e ela sangrava internamente. Em 20 de novembro de 1737, seus intestinos se abriram completamente. Sua morte foi imortalizada num epigrama infame atribuído a Alexander Pope:

Here lies, wrapt up in forty thousand towels;

the only proof that Caroline had bowels.

Aqui jaz, envolta em quarenta mil toalhas

A única prova de que Carolina tinha intestinos.

Morrer assim já é ruim; virar piada poética é pior ainda.


1751 – Frederick, Príncipe de Gales, e a bola de críquete fatal

Frederick era filho de George II e pai de George III. Ambos governaram o Reino Unido, mas Frederick nunca teve a chance porque morreu antes do pai, o que não incomodou minimamente George II e sua esposa, que desprezavam o rebento. Como não se envolvia em política, Frederick dedicava-se ao esporte, especialmente críquete. Em 1751, morreu aos 44 anos de um abscesso rompido causado por uma bola de críquete que o atingiu durante um jogo. Nem o pai chorou.


1898 – Imperatriz Elisabeth da Áustria e o anarquista oportunista

Elisabeth foi Imperatriz da Áustria e Rainha da Hungria por 44 anos até ser assassinada por Luigi Lucheni, um anarquista italiano que não tinha nada pessoal contra ela. Seu alvo original era o Príncipe Philippe, Duque de Orleans, mas Lucheni chegou tarde demais a Genebra e o perdeu. Então pegou um jornal, procurou o próximo alvo real disponível – Elisabeth – descobriu onde ela estava hospedada, esperou e a apunhalou no coração quando ela saiu do hotel. Depois se entregou, orgulhoso, pedindo execução pública. Negaram o pedido, então, ele se enforcou na cela. Betinha morreu por puro azar geográfico.


1920 – Alexandre I da Grécia versus dois macacos furiosos

Alexandre tinha 27 anos e estava destinado a expandir as fronteiras gregas após a Primeira Guerra. Decidiu passear com seu cachorro num parque privado onde funcionários do palácio mantinham macacos soltos. Um macaco de Barbária atacou o pastor alemão de Alexandre, e quando o rei tentou apartar a briga, outro macaco o mordeu. Alexandre limpou os ferimentos e disse que estava bem. Não estava. À noite a infecção já se espalhava. Médicos sugeriram amputar a perna, mas ninguém queria ser responsável caso desse errado, então, ficaram de braços cruzados. Vinte e três dias depois, Alexandre morreu em agonia. Um rei derrubado por dois macacos enquanto doutores debatiam responsabilidades.


A moral dessas histórias? Poder e riqueza não compram saídas elegantes. Enquanto reis comuns morriam em campos de batalha com alguma dignidade, esses aqui viraram anedotas históricas – lembranças eternas de que o destino tem um senso de humor perverso e não respeita coroas. Da próxima vez que você reclamar de um dia ruim, lembre-se: pelo menos você não foi costurado em lençóis alcoolizados ou morreu de hemorragia nasal na lua de mel. Às vezes, ser plebeu tem suas vantagens.

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