
A vida na Terra era difícil. Eles só não tinham o problema de comprar café e bandeja de ovos, mas de resto estava tudo péssimo. Há cerca de 41 mil anos, o planeta passou por uma espécie de “bug cósmico’: os polos magnéticos da Terra começaram a trocar de lugar, num evento conhecido como excursão de Laschamps. Não chegou a ser uma reversão completa, mas foi o suficiente para zoar com o campo magnético, que por sinal é a nossa principal proteção contra a radiação cósmica, a vinda do Galactus e a sua esposa descobrir que você ainda está de papo com a ex.
Durante o evento, a Terra ficou com um escudo magnético equivalente a cerca de 10% do que temos hoje. Resultado: partículas solares e cósmicas passaram a bombardear o planeta com força total, criando auroras boreais que podiam ser vistas até no norte da África, um espetáculo de luzes mortal. Quase fritando todo mundo. Então, num vislumbre do que seria mensagenzinha motivacional vinda pelo email, os H. sapiens passaram a usar filtro solar.
O dr. Agnit Mukhopadhyay é pesquisador do Departamento de Ciências Climáticas e Espaciais e Engenharia da Universidade de Michigan. Agnit, que ao que se sabe não faz dancinha em seu laboratório, estua as mudanças do clima da Terra e como isso impactou os seres vivos. Em sua pesquisa, Agnit sugere que os Homo sapiens tiveram uma vantagem crucial sobre seus primos neandertais: inovação cultural. Enquanto os neandertais continuavam mais presos às técnicas rudimentares, nossos ancestrais começaram a costurar roupas ajustadas ao corpo, usar cavernas como abrigo mais intensivo e — o detalhe mais curioso — passar protetor solar pré-histórico: ocre vermelho.
O ocre é um pigmento natural rico em ferro, usado há milênios para pinturas rupestres. Mas testes modernos indicam que ele também tem propriedades que bloqueiam os raios UV. Em algumas culturas tradicionais, como entre os Himba da Namíbia, ele ainda é usado como proteção solar. Ou seja, talvez nossos ancestrais não estivessem apenas se enfeitando: estavam se defendendo de um céu perigoso. Era na base “se funciona, funciona”.
Essa diferença de comportamento pode ter sido decisiva. Os Homo sapiens, ao adaptar roupas, abrigo e cosméticos protetores, resistiram melhor à radiação e seguiram sua jornada evolutiva. Os neandertais, por outro lado, desapareceram pouco tempo depois — e o timing coincide demais com esse pico de caos magnético.
A pesquisa também levanta uma pergunta que parece ficção científica, mas é bem real: e se isso acontecer de novo? Os polos magnéticos ainda vagam de vez em quando, e há quem diga que uma nova inversão pode estar a caminho nos próximos milhares de anos. Se isso acontecer, nossos satélites, redes de comunicação e até mesmo os sistemas de navegação seriam afetados. Um mundo dependente de tecnologia poderia sofrer bem mais do que aquele povo que só tinha peles de animais e um pouco de ocre.
A pesquisa do publicada no periódico Science Advances

Um comentário em “Quando o Sol quase fritou a Terra, mas o Homo sapiens lembrou do Pedro Bial”