Shakespeare: o bode racistório da vez

William Shakespeare, o dramaturgo que nos deu Hamlet, Otelo e o Destino de Miguel, agora está na berlinda, sendo acusado de ser um símbolo de supremacia branca. Sim, pois é. O Bardo que escreveu sobre a complexidade da condição humana, traições, amores proibidos e dilemas morais, agora é alvo do jovem maldito que exige uma “revisão inclusiva”, buscando “descolonizá-lo”.

O fato de Bill Shakespeare ter batido as meiotas em 1616, dez anos depois da primeira colônia permanente é secundário.

Bill Shake era um homem do século XVI, e, claro, viveu em uma época em que conceitos como igualdade racial e justiça social eram tão distantes quanto um smartphone em sua mesa de trabalho. Eu até arrisco dizer que ele jamais viu um negro na frente dele. Não que em suas obra não seja abordado questões raciais, como em “Otelo, o Príncipe Mouro”. Detalhe que morou não implica que ele fosse negro. Na verdade, ele nem é o vilão da história e sim o ciúme implantado pelo cigano Iago.

Em Titus Andronicus, Aaron é um personagem negro que desempenha o papel de vilão, o que não significa absolutamente nada porque em todas as outras tragédias, o vilão é branco. E daí? Bem, vamos convir que a ideia de “atualizar” Shakespeare para torná-lo mais inclusivo é, no mínimo, curiosa. Será que vamos reescrever “Romeu e Julieta” para incluir um final feliz porque tragédias são “opressivas”?

AH, NÃO, PÉRA! Romeu e Julieta é tido como uma história de um pedófilo porque Julieta tinha 13 anos; vocês sabem, a idade que se casava naquela época, porque a expectativa de vida era baixíssima graças à imensa taxa de mortalidade infantil. Poderíamos transformar Lady Macbeth em uma coach de autoajuda? Ou fazer dela a heroína, ao invés da louca que induz o marido a matar todo mundo. Ops, mulheres não podem ser vilãs!

Ironicamente, Shakespeare já era inclusivo para sua época. Ele escreveu sobre reis e plebeus, homens e mulheres fortes, e até mesmo personagens de diferentes etnias, algo raro no teatro elisabetano. Mas… se Shakespeare era racista, então, o que podemos dizer de outros autores clássicos? Vamos cancelar Homero por glorificar a guerra em “Ilíada”? Ou talvez Dante por sua visão medieval do inferno?

Por fim, a pergunta que fica é: estamos realmente promovendo inclusão ao reescrever o passado ou apenas criando uma versão higienizada da história que nos faz sentir melhor?

Porque em O Mercador de Veneza, o vilão é Shylock, um agiota judeu. Mas aí falar mal de judeu pode, não é mesmo? O herói vai ser um palestino, provavelmente. Como falei uma vez, apague o passado, destrua a história. Fica mais fácil te dominar.


Fonte: NY Post

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