Apague o passado, destrua a história. Fica mais fácil te dominar

Está ainda rendendo o lance da estátua de Borba Gato que foi incendiada. A única coisa que eu tenho contra a estátua: é feia, mas está no padrão arquitetônico paulistano de construções feias. Ok, queimaram a estátua. O que isso mudou na vida das pessoas? Jogar uma bomba na avenida Presidente Vargas porque Getúlio era um ditador fascista vagabundo vai mudar algo? Eu acho que não.

Não que eu goste ou desgoste do Borba Gato. Sabendo História do jeito que eu sei, ele só foi mais um maníaco psicopata num mundo de maníacos psicopatas. O que “esquecem” de dizer é que as tribos indígenas que ele passou o cerol eram as tribos inimigas dos índios que eram aliados a ele e à coroa portuguesa.

Sim, pois é. Quando os portugas chegaram aqui, diversas tribos saíam na porrada entre si, promovendo genocídio, antropofagia, pacote completo. Enquanto os portugueses faziam amizade com uma tribo, os franceses faziam amizade com a OUTRA tribo. Ninguém era bonzinho e/ou inocente, a começar pelos próprios índios.

Na década de 1930-40, ninguém era bonzinho. A Europa era racista, antissemita, homofóbica e xenófoba. Não era apenas a Alemanha, apesar que a a Alemanha era mais escancarada, mas devemos lembrar que homossexualidade era crime na Inglaterra até a década de 1970. Isso faz dos nazistas alguém legal? Óbvio que não, pau no cu de nazistas. Mas campos de concentração já existiam na Rússia Czarista e no Japão. Jesse Owens, medalhista olímpico de 1936, tinha um sério defeito (pra época): era negro. Ainda assim, ele foi melhor tratado na Alemanha que nos EUA, onde ele tinha que entrar nos lugares onde ia ser apresentado pelos fundos. Alguns lugares sequer permitiam sua entrada, tendo medalha olímpica ou não.

Sim, todo mundo é filho da puta e a corrida para formar o Estado de Israel era um pretexto pra Europa mandar os judeus para outro canto, longe dali.

No ano passado, eu escrevi o artigo Mãe, esta estátua me ofendeu! e nem era sobre o Borba Gato, mas os efeitos são os mesmos: apagar o passado. Você não precisa amar o bandeirante, mas ele é, sim, uma figura histórica, e apagar a história nunca deu certo. Você aprende com os personagens, com suas manias, erros e acertos. Einstein batia na mulher, Stephen Hawking tinha amante e cagava pra esposa, Amelia Eckhart deu um pé na bunda do marido e fugiu com o amante. Foi voando pro oceano e nunca foi encontrada, Churchill era racista, assim como general Patton. Os negros que serviram na Segunda Guerra lutaram para sequer pôr as mãos em armas. Só que eles lutaram  contra nazistas e essa parte do perfil psicológico dos líderes aliados é deixada de lado, pois o mal definitivo eram nazistas. Eu entendo, mas é preciso ver que os heróis tem pés de barro.

Queimaram uma estátua e não se resolveu nada. Parabéns pelo trabalho inútil, que só serviu para amaciar o próprio ego. Afinal, o objetivo era só esse, mesmo. Agora, só falta queimarem livros.

10 comentários em “Apague o passado, destrua a história. Fica mais fácil te dominar

  1. Eu acho que o problema não é nem o Churchill ser racista, quase todo mundo na época era, mas sim ter deixado alguns milhões de indianos morrerem de fome, isso sim é imperdoável.
    Mas uma coisa é certa, os aliados eram tão filhos da puta quanto o Eixo. Stalin em termos de atrocidades só perdia pro Leopoldo II. EUA tinham segregação, a Klan reinava absoluta no Sul, linchamentos de negros eram rotina, chineses estavam literalmente proibidos de imigrar para lá e colocaram os nipo-americanos em campos de concentração (a mesma coisa que os ingleses fizeram com os boeres 30 anos antes e a China esta fazendo com os uigures hoje). Reino Unido e França? Bem, ambos eram potencias coloniais, e sabemos que nenhum colonizador até hoje tratou bem os colonizados.

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    1. Mesmo o Brasil passava longe de ser aquela maravilha que se pinta. Democracia racial? Faz-me rir. Claro que não chegávamos ao nível de racismo institucionalizado dos EUA antes dos protestos por direitos civis lá nos anos 50 e 60 ou mesmo da África do Sul dos tempos do Apartheid, mas tínhamos racismo difuso na sociedade brasileira ainda assim.
      E sim, tivemos campos de concentração também aqui no país nos tempos do Estado Novo e o apoio de Vargas aos aliados foi acima de tudo por conveniência política. Não valia a pena pro governo local comprar briga com Yankees e Britânicos e tampouco dar espaço para que a turminha dos colonos que aportou por aqui (proveniente principalmente justo… da Itália, da Alemanha e do Japão por exemplo) causarem problemas pras oligarquias que bem ou mal ainda davam as cartas por aqui.
      Tanto que teve toda uma preparação (provavelmente com uso de fake news e operações de bandeira falsa) pra colocar o Brasil do lado dos aliados e de quebra ainda “neutralizar” o campo se tolhendo o espaço para uma eventual entrada dos argentinos no conflito, que poderia inclusive ter alongado a guerra.
      E sim, italiano, alemão e japonês foram proibidos na época da guerra e clubes de futebol que usavam o nome de Palestra Itália tiveram que mudar de nome, sendo os dois casos mais famosos o do Palestra Itália de Belo Horizonte, que passou a se denominar Cruzeiro e do Palestra Itália de São Paulo, que passou a se chamar Palmeiras.

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  2. Bom texto! Fora as figuras já mencionadas no texto, Churchill, Einstein e Hawking, outras exemplos impossíveis, pelo menos a meu ver, de passar pano pros erros, mas ao mesmo tempo ignorar seus acertos, são: Shockley, Von Braun, Fritz Haber, Edmund Morel e Gandhi

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  3. Quando vc estuda a história do Brasil, vê que nunca existiu unidade indígena. Eles metiam fogo 🔥 no mato e viviam em guerras constantes uns contra os outros. Como mencionado no texto, tribos se aliavam aos portugueses para terem apoio contra outras tribos aliadas dos franceses, holandeses, etc.
    Vai falar que índio era “coitadinho” na universidade pública. Vc é praticamente excluído socialmente e perde bolsas e vagas na pós, pois sempre tem um professor mongo-militante que te marca por certos posicionamentos. Ainda bem que percebi isso logo e só fico na minha.

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  4. Sou de SP e não gostava da estátua do Borba Gato. Também não desgostava. Na mais pura verdade eu não tava nem aí pra ela e a sua existência/destruição não mudou nada na minha vida. Se chegarmos à conclusão de que o Borba Felino não prestava e que sua memória tem de ser erradicada da cidade e quiçá do país, temos um problema: existe uma estação de metrô chamada Borba Gato! Existe também uma rua em SP que se chama Borba Gato e devem existir mais uma dúzia de coisas na cidade que se chamam Borba Gato. A solução: vamos queimar tudo! Vamos acabar com a estação de metrô (visto que o transporte público daqui já é “top” com as estações que tem, imagine com estação a menos!) e com a rua homônima ou simplesmente vamos gastar uma grana trocando o nome da estação, da rua, das placas, dos sites, e enfim, da P!@#* toda…
    O cara que tocou fogo na estátua realmente mudou o mundo.

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  5. Ótimo texto André, parabéns! Acompanho a muito tempo seu trabalho e parabéns mesmo! Tira uma dúvida. Tentei acessar um artigo bem antigo que você escreveu, mas ao clicar em “continuar lendo” ele não abre nada. O que acontece?

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