Moeda provada ser genuína nos ajuda a entender um pouco da História de Roma

O problema da História é que em muitos casos não sabemos a diferença entre ficção e realidade. Muitas histórias tidas como verídicas realmente não aconteceram, como egípcios terem escravos (nunca tiveram). Já outras histórias que muitos pensaram ser apenas fantasia, realmente aconteceram. Por exemplo, uma moeda encontrada trazia a efígie de um certo Sponsianus, alguém que teria, em tese, sido um usurpador durante o reinado de Filipe, o Árabe, naquela zona desgraçada chamada Crise do Terceiro Século.

Todo mundo tinha certeza que era uma moeda fajuta, mas pelo visto não é bem assim. O sujeito realmente existiu. Como saber? Graças à Ciência!

A moeda com o nome de Sponsianus e sua efígie foi encontrada em 1713, na Transilvânia, na Romênia. Durante o terceiro século EC, aquele local era um posto avançado distante do Império Romano, em que as tropas ficavam de sobre-aviso para o caso de serem remanejadas para as redondezas com rapidez.

Até meados do século XIX, esta moeda era tida como genuína, mas alguns especialistas em numismática começaram a achar que era uma fraude, produzida por algum falsificador da época, por causa de seu design bruto. Em 1863, Henry Cohen, o principal especialista em moedas da época na Bibliothèque Nationale de France, examinou a moeda e estabeleceu que não era uma falsificação modernas, mas antiga e mal-feita. Se o especialista bam-bam-bam falou, todo mundo concordou, pois é assim que funciona com a Academia. Sponsianus era apenas uma pegadinha do Césão.

O dr. Paul Pearson discordou. O dr. Pearson é pesquisador da University College London. Por sinal, tem Twitter. Só de olhar para a moeda, ele viu que alguma coisa de errada não estava certo, e ela não parecia ser uma falsificação. Quando Pearson viu fotografias da referida moeda enquanto pesquisava para um livro sobre a história do Império Romano, ele pôde distinguir arranhões em sua superfície, que – intuiu ele – só poderiam ter sido produzidos pelo manuseio de uma moeda em circulação.

Pearson entrou em contato com o Museu Hunterian da Universidade de Glasgow, onde a moeda havia sido mantida trancada em um armário junto com outras três do tesouro original, e perguntou se ele poderia trabalhar com os pesquisadores de lá. Ao examinar num microscopão responsa, os pesquisadores perceberam que realmente havia arranhões, e os padrões eram consistentes com eles sendo agitados em bolsas.

Como há coisas que só químicos podem prover, a moeda teve o seu material analisado por químicos (com eles a oração e a paz), cujo resultado mostrou que as moedas foram enterradas no solo por centenas de anos.

A pesquisa foi publicada na Plos One, que tem acesso aberto, pois paywall é sacanagem!

Tudo bem, ok, beleza. Quem diabos era esse Sponsianus? A rigor, não se sabe muito. Ele viveu na época chamada Crise do Terceiro Século. A Economia de Roma estava um caos, havia gente invadindo o Império ao norte, pelos germânicos, e a Leste, pelo Reino de Palmira, que tinha anexado até a Judeia. Não apenas isso, a Praga de Cipriano (um caso de peste bubônica, assim como a Peste Negra, bem mais tarde) estava ceifando milhares de vidas. Tudo estava um ritmo percussionista do afro-brasileiro com problemas comportamentais.

O que se acredita atualmente é que, no meio desta zona, Sponsianus, um comandante militar setorizado naquela região, se coroou Imperador da Dácia. Filipe, o Árabe ficou muito bolado com isso, e era mais uma crise a resolver.

Então, você tinha invasões de bárbaros, ataques de outro lado de um reino emergente, fanáticos religiosos de todas as vertentes, um monte de gente se autodenominando imperador, o Senado no meio de um barata-voa sem saber o que fazer, as finanças imperiais estavam minguando, uma pandemia varando geral, o império praticamente deixando de existir e uma guerra civil aparece lá nos cantões do Inferno.

Filipe, o Árabe, toma o poder de volta na mão grande e Sponsianus muito certamente não teve final feliz nesta celeuma. Até agora, a única testemunha desses eventos foram uma simples moeda que acharam ser falsa, mas agora já dá para se debruçar mais sobre ele e aprendermos um pouco mais do que aconteceu naquele período para lá de louco, que você sequer ouve falar nas aulas de história do colégio.

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