Homem acusado de estuprar crianças foi linchado. Ele era inocente

As pessoas acham lindas essas fanfics retardadas com crianças de 4 anos dando lições de moral por aí. Inventar histórias pode não dar em nada, mas pode acabar em tragédia. Você pensa que a mídia tem responsabilidade de não veicular qualquer coisa, mas não é verdade e um dos mais evidentes casos de como o jornaleirismo irresponsável pode acabar com a vida de alguém é o caso da Escola Base. Alguém tirou da cavidade retal que era um lupanar, um antro de devassidão, com uma legião de pedófilos que abusava sexualmente de criancinhas pequenas. Nenhuma prova, mas se o jornal falou é verdade. A vida dos diretores do colégio foi destruída, nunca mais se reergueram, apesar de ganharem ações judiciais. Ainda assim foi pouco pelo que eles passaram.

Ontem li uma notícia sobre um caminhoneiro que tinha sido acusado de sequestrar e violentar duas crianças. As testemunhas relataram que o pegaram no flagra. Mais pessoas se juntaram e meteram a porrada no sujeito que foi em estado grave para o hospital, acabando por falecer lá.

Exames indicaram que não houve violência sexual.

O Brasil, segundo o mito, segue as bases do Direito Romano, em sua máxima In dubio pro reo, cuja paráfrase seria “Antes absolver o culpado que condenar o inocente” ou ainda, “Todos são inocentes até prova em contrário”. Não no Brasil, principalmente se você não tiver dinheiro. Mas mesmo que esse caminhoneiro tivesse condições de pagar um bom advogado, a população assassina não deu tempo.

É de se perguntar “se a perícia indicou que não houve violência sexual, como é que as testemunhas viram isso acontecer?”. Não há resposta senão à luz de uma população tosca, imbecil, retardada, violenta e prestes a matar qualquer um que acharem que devam. Nas discussões sobre a liberação do porte de armas, eu sempre digo que se fizerem isso, os massacres tão comuns (um por ano já é demais!) nos EUA ocorreriam aqui por semana. Mencionam que na Suíça é assim, como se brasileiro fosse muito similar aos suíços. Curiosamente, ignoram quando eu falo que a polícia inglesa e do Japão não usam armas, salvo em ocasiões especiais. Obviamente, soltar um PM no Rio de Janeiro ou em qualquer grande cidade do Brasil, totalmente desarmado, é assinar o atestado de óbito dele.

Nós temos a ciência, essa tão odiada. De tão odiada é deixada de lado. VejamoS o caso dos Nardoni, “investigados”, acusados e condenados pelo assassinato da filha (no caso da mulher, enteada), Isabela Nardoni. Em nenhum ponto do processo a perícia veio com evidências conclusivas. Um juiz que tem um blog, que entende muito de Direito, mas tem o raciocínio de uma criança de 3 anos, cita Enrico Ferri, que afirmou ser a lógica “a rainha das provas”. Ele complementa que o exercício da lógica contou com um elemento fundamental: o exímio trabalho da perícia técnica paulista. A perícia que decretou que NÃO ERA CONCLUSIVO. Fez-se justiça, meritíssimo? Eu jamais gostaria de estar num julgamento em que o senhor estiver presidindo. Citando-lhe:

Por meio da análise de materiais genéticos, uso de reagentes químicos e estudos de cronometragem, os peritos costuraram provas que, de outra forma, não se conectariam diretamente e, assim, deram respostas a lacunas que poderiam se transformar em perguntas jamais respondidas.

Análise de material genético se resumiu “tinha sangue na camisa do pai. O sangue era da criança”. Conclusão: o pai matou a criança. Eu conheço casos de gente que presenciou atropelamento e fuga, levou o atropelado pro hospital e foi indiciado, na lógica desse juiz aí. Afinal: se o cara ajudou e tinha sangue na camisa dele, claro, ele que foi o perpetrador do atropelamento. POr que outro motivo ele estaria ajudando?

No caso dos Nardoni, o laudo feito nos EUA aponta que Isabella Nardoni não foi esganada por pai e madrasta. Os peritos divergiram sobre sangue em carro. Uma outra prova que alguns advogados não parecem saber interpretar textos (e eu espero que isso seja uma minoria), vem este artigo dizendo que a prova é a testemunha, já que a perícia ajudou na condenação. A perícia que afirmou ser inconclusivo. Será que só eu sei interpretar textos e deter um vocabulário que me deixa capaz de saber o que significa a palavra “inconclusivo”? Os Nardoni foram condenados apenas por causa do clamor popular, mais nada. Da mesma forma que a Justiça está dando ganhos de causa à Homeopatia 2.0 chamada “fosfoetanolamina”. Sem provas, mas vídeo no Facebook serve como prova, o que não é de surpreender num país ridículo que aceita cartas psicografadas como evidência.

Você pode até me xingar dizendo que eu estou defendendo os Nardoni. A questão não é essa. Quem matou Isabella? Por que? Como isso teria ocorrido. Nada disso importa quando fazemos a pergunta: “Temos provas?”. Porque, se condenamos alguém à revelia de haver provas ou não, podemos condenar qualquer um de qualquer coisa. Estaríamos no pior dos estados totalitários, o estado governado pela própria população, sem o intermédio de ninguém. Democracia nunca foi isso. O nome disso é Anarquia.

Aí temos outro exemplo de como as pessoas são idiotas como este artigo imbecil, retardado e totalmente idiota que “relata” o que SUPOSTAMENTE teria acontecido numa unidade hospitalar, dentro de uma sala de parto. um (uma?) estudante de medicina que escreveu um “desabafo” depois de assistir a parto violento feito por professora: “Chorei de raiva e frustração no quarto dos internos”. Nome da estudante? Não tem. Nome do hospital? Não tem. Nome dos envolvidos? Não tem. Nome da paciente? Não tem. Denúncia no CRM? Não foi feito. E esta MERDA é publicada. E as pessoas, claro, acreditam. por que não acreditariam? OP problema mais uma vez de “testemunhas” que você nem sabe direito quais são, espalhando fanfics malucas, sem a menor responsabilidade.

Os moradores do município com o irônico nome de Paraíso do Norte, no Paraná, “disseram” que VIRAM o caminhoneiro levando as crianças até o veículo e o seguiram. Foram até o caminhão e se depararam com Juvenal Paulino de Souza, de 58 anos, abusando de uma das crianças. Se eles disseram, é verdade, como foi o caso dos detratores da Escola Base. Os homens invadiram o veículo e retiraram as crianças. Mais vizinhos chegaram e, revoltados, passaram a agredir o suspeito. Juvenal foi espancado e já desacordado foi levado para o hospital, no qual faleceu no dia seguinte, decorrente dos ferimentos. Depois do ocorrido, muitos lamentam “É, deviam ter chamado a polícia”. Isso dito por pessoas que estavam lá e poderiam ter chamado a polícia, mas não o fizeram. São tão culpados pela morte de Juvenal quanto os que o surraram. Agora, o delegado vai procurar (Ha! Ha!) quem fez isso e indiciar por homicídio doloso, pois se você mete a porrada em alguém desse jeito, é porque quer realmente matar.

O que realmente vai acontecer: Nada. Quem fez vai justificar até a morte que fez de boa intenção. Quem mentiu dizendo que “viu” a violência sexual sequer vai pensar mais nisso. Todos continuarão se achando pessoas boas, honestas e trabalhadoras. Os que forem na igreja, acharão que seu deus não viu nada demais, pois eles estavam fazendo uma coisa boa, pelo menos, em suas mentes.

Falsa memória é algo que realmente existe e a pessoa realmente seria capaz de jurar que aconteceu algo, mas que esse algo nunca de fato ocorreu. Ainda assim, mesmo que isso fosse uma desculpa, como desculpar uma ação de pura selvageria? E essas pessoas “boas” elegem seus governantes. Se com uma ridícula testemunha mentirosa deu nisso, imagine se levarmos em grande escala.

17 comentários em “Homem acusado de estuprar crianças foi linchado. Ele era inocente

  1. Muito interessante. Tem alguma relação com o tema meu TCC: “Colisão de direitos fundamentais: Liberdade de imprensa x direitos da personalidade”. Que abordava muito tais situações em que a pessoa era meramente suspeita, mas pelo simples fato de a mídia sensacionalista repercutir demais o acontecimento sem que tivessem provas concretas, acabavam ocorrendo tragédias como essa. No final à conclusão óbvia, de que os meios de imprensa devem responder por isso civil e criminalmente, mas infelizmente, nem todo dinheiro do mundo vai restaurar à dignidade, ou à vida dessas “vítimas”.

    Quem bateu em tese responde por lesão corporal com resultado morte. Porém, o promotor pode entender que o “animus” era de matar, e não lesionar, acusando de “homicídio doloso”.

    No caso das testemunhas que mentiram, em tese, devem ser indiciadas por Denunciação caluniosa. Precisaria de mais informações sobre a linha de tempo do caso.

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    1. Quem bateu em tese responde por lesão corporal com resultado morte.

      Discordo., Ninguém licha alguém achando que é apenas uma surra para dar um corretivo. É para matar, mesmo

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      1. Concordo neste caso em especial tenho certeza que queriam bater e tinham noção de aquilo poderia ou tinha grandes chances de matá-lo, e assumiram este risco, o que configuro o chamado “dolo eventual”. O complicado é provar tal tese, pois a diferença entre a tipificação de um crime e de outro é esse aspecto subjetivo, interno, dos linchadores (se queriam bater ou matar). Como você disse, “in dubio pro reo”, ou seja, a não ser que se consiga provas concretas, ou, mais provável, que a mídia pegue pesado, acho que serão indiciados por lesão corporal seguida de morte.

        Falo isso como advogado criminalista de relativa experiência.

        Outro fato de extrema importância é que, se forem indiciados por lesão corporal com resultado morte, serão julgados por um juiz, e, caso sejam indiciados por homicídio doloso, vão para julgamento no tribunal do júri, por seus pares, o que é sempre uma caixinha de surpresas…

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          1. Sim. Nosso sistema penal, tanto na legislação, quanto na realidade do judiciário, é muito falho e gerador de injustiças terríveis. Estudo todos os dias para ser um bom promotor algum dia, e quem saber tentar fazer prevalecer à justiça (pelo menos o meu ideal de justiça).

            Vamos torcer para que o promotor enxergue o óbvio dolo eventual e faça denúncia por homicídio doloso, e, depois, que o júri faça justiça.

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          2. “Nosso sistema penal, tanto na legislação, quanto na realidade do judiciário, é muito falho e gerador de injustiças terríveis.”

            Cara, desculpe. Nossas leis não são ruins. Existe previsão para o homicídio doloso, para o culposo e para o decorrente de dolo eventual. Existem atenuantes e agravantes. Todos muito justos, por sinal.

            O que falta para o delegado identificar enquadrar os envolvidos (porque SEMPRE alguém filma com um celular) e empurrar um homicídio doloso ou pelo menos um dolo eventual no lombo de cada um?

            Porque a filmagem de celular serviu para a PRF grampear o cara que passou a 180 no posto de política debochando dos agentes?

            Falta vontade e falta competência. Nossos inquéritos são uma merda, tem delegado que enquadra assassino bêbado do trânsito em em homicídio culposo. Tem promotor despreparado que embarca, porque promotores e juízes no Brasil (e eu conheço MUITOS) vivem em realidades completamente distintas do resto da população.

            Veja o caso do Carli Filho (o bacaninha endinheirado que DECAPITOU um cara usando um Passat voador) lá no Paraná. O crime vai a júri, mas está prestes a prescrever. Fora que para ir até o júri foi um parto de elefante.

            E o filho do Eike? O coração do ciclista foi parar no banco de trás e o “perito” escolhido pela justiça ratificou que a velocidade da McLaren dirigida pelo rapaz era de 115kh/h.

            Não sei se você é do Rio, mas no trecho em que se deu o homicídio do pedreiro ciclista, até um uno passa a mais de 100, pois é uma reta ao fim de uma descida, precedida por uma curva bem aberta e sem radar.

            Então, como eu disse no comentário acima, nossa justiça é torta, julga pessoas pela carteira, pela religião (ou falta dela) e por orientação política (porque o Moro, lépido e fagueiro contra determinado grupo, engaveta há 3 anos uma denúncia contra Cássio Cunha Lima, de outro grupo político).

            E coloco mais cem em cima dos cem do André. Não vai dar em nada.

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  2. Muito semelhante á aquele caso da mulher que foi vítima de um boato no facebosta que dizia que ela fazia bruxaria com crianças e a coitada foi linchada até a morte por isso. É por causa desse tipo de coisa que eu acho que mentirosos deviam ser colocados numa berlinda.

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    1. Detalhe: ela estava com uma biblia na mao (aquelas de capa dura preta) e os idiotas acharam que era um livro de bruxarias.

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      1. O nome da moça era Fabiane e a página foi uma tal de Guarujá alerta.
        Publicaram a foto dela dizendo que era parecida com uma foragida acusada de raptar crianças.

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        1. Foi um sucessão de idiotices que terminou com a moça morta, duas filhas (uma adolescente e outra com um ano) que vão crescer sem a mãe, morta desse jeito (e não duvido que algum imbecil vá mostrar o video dessa atrocidade para elas no futuro) e um marido que perdeu a mulher.
          Uma família foi destruida e tudo por causa de uns likes no facebook.

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  3. Muito raro ver essa lucidez hoje na Internet. Todos andam com tochas virtuais nas mãos e garrafinhas de querosene na bolsa.

    Embora tenha inúmeros méritos, a Lava-Jato tem sido um festival de bizarrices jurídicas. Já teve gente presa porque foi confundida com irmã em imagem de CFTV de banco, gente que foi presa porque “Não fez nada, mas existe a expectativa de que cometa um crime” e alguns outros.

    E o caso do Bruno? Evidências mil. E provas? Houve assassinato, mas sem a elucidação do caso, como dar penas justas a Bruno, Bola e Macarrão?

    E o caso do Pimenta Neves, réu confesso que ficou mais de 10 anos livre até ser preso, muito a contragosto do judiciário?

    Muito se fala do Executivo e do Legislativo, duas pocilgas. Mas o que ocorre em nosso judiciário é de arrepiar o cabelo.

    Todo mundo enche a boca para falar que o Brasil “precisa de uma revolução popular”, esquecendo que isso SEMPRE dá merda e que a única que não deu errado de cara (a queridinha de todos, a Francesa), nos 5 anos subsequentes competiu cabeça-a-cabeça com a inquisição no quesito barbaridades.

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  4. Começa com neuróticos psicopatas, ganha as manchetes da imprensa irresponsável e sensacionalista, que propaga a “notícia” para outros neuróticos psicopatas…e está criada a sociedade em questão. A nossa.

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  5. É triste saber que as pessoas só desenvolvem ceticismo se tenderem para o lado da ciência, considerada pela massa algo absolutamente desinteressante.

    Infelizmente a dúvida não é inata, o que é compreensível, se levarmos a evolução em conta.

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