Estamos procurando planetas iguais aos nossos. Não é nada demais, quando nossos tatatatatatatatatataravós foram procurar algo além da África e alguns milênios depois estavam chegando na Ilha de Vera Cruz. Encontrar Marte é legal, mas assim como um Europeu procurando terras novas em pleno séc. XVI, estamos mais interessados em encontrar lugares semelhantes aos que nós já vivemos, para o caso de nos mudarmos pra lá. Um norueguês da Idade Moderna gostaria de sair de casa e ir para muitos lugares, mas duvido muito que gostaria de morar em Dasht-e Lut, Mesma coisa com exoplanetas. Tentamos sempre procurar um que seja bem parecido com a Terra.
O problema é que não basta ser parecido com a Terra, tem que ter coisas bem similares, como é o caso da Cancri 55e. O que tem neste exoplaneta? Pouca coisa, além de ser 8 vezes o tamanho da Terra. Agora, astrônomos analisando imagens obtidas pelo telescópio espacial Hubble, descobriram algo muito legal: atmosfera. E se tem atmosfera, sabem o que isso significa?
Na verdade, significa apenas que tem atmosfera. Qualquer coisa além disso e vamos cair naquela maluquice de quando não conseguiam ver nada em Vênus e acabaram especulando que tinha petróleo e dinossauros.
Como tem um tamanho bem maior que a Terra, o Cancri 55e é uma superterra (astrofísicos não contam com o agente da Polícia Federal que cria aqueles nomes maneiros para as operações), e as imagens mostram que sua atmosfera é muito legal, mas se você for pra lá, ficará uns 4 minutos falando esquisito, dada a alta quantidade de hidrogênio e hélio, depois você morre sufocado porque não tem oxigênio.
O planetão – outrora chamado de "planeta de diamante" pois tinha grande quantidade de carbono em seu núcleo – tem uma temperaturazinha legal na superfície de cerca de 2.000 ºC, segundo estimativas. Praticamente um Rio de Janeiro durante o verão. Ele (o planeta e não o Rio) está no sistema de Cancri 55, na constelação de Câncer, a cerca de 40 anos-luz daqui.
Tudo muito bem, tá tranquilo, tá favorável, mas uma perguntinha: como diabos sabem que tem hidrogênio e hélio lá? Simples: espectrofotometria. A análise das linhas espectrais determinou a composição dessa atmosfera, o que seria carne de vaca, mas não da forma que foi feito.
Angelos Tsiaras é doutorando no Departamento de Física e Astronomia da University College London, na Inglaterra. Ele teve a ideia de usar o Wide Field Camera 3 (WFC3) do Hubble. Este sisteminha óptico já foi usado para sondar a atmosfera de duas super-Terras, mas sem determinar características espectrais delas. As observações feitas foram processadas pelo WFC3, que depois jogadas nos computadores, que são um tiquinho melhores que o meu e, diz a lenda, conseguem rodar Crysis com tudo no máximo.
Obviamente, você ficou interessado na metodologia, feitiço e bruxaria tecnológica empregadas para conseguir isso, certo? Então que tal ler o artigo publicado no Astrophysical Journal, cujo *.pdf está disponível digrátis?
Isso melhorou sua vida em alguma coisa? Não, mas você vai reclamar até da equação de Báskhara, alegando que não usa pra nada. Bem, ninguém lhe usa para algo útil de qualquer forma também. Isso é uma tecnica nova, com aparelhos novos. Daqui a pouco, poderão estar até em nossos celulares. Foi assim com o GPS.
Não, não vamos nos mudar pra lá tão cedo, mas a ciência tem dessas coisas. Se você achou que ela iria tirar a graça das poesias, pense de novo: o que mais a ciência faz é dar mais temas para serem romantizados.
Se fosse no
GizmodoG1, choveriam comentários tipo (completem as lacunas):“Com tanta(s) _______ (Gente? Criancinhas? Lêmures?) passando fome no(a) _______ (África? Sertão? SPFW?), e os _________ (Cientistas? Políticos? Illuminatis?) gastando milhões de _________ (Dólares? Rúpias? Septims?) com algo tão inútil quanto __________ (Ciência? Exploração Espacial? Chapéus?)”
Em tempo, ótimo post e excelente notícia astronômica. Especialmente pelo fato do Hubble ser um telescópio com quase 30 anos de utilização, e ainda nos presentear com algumas “surpresas”. :)
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Tem uma atmosfera que não consegue suportar fogo.
Pena, seria legal achar oxigênio e metano na atmosfera dele.
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Segundo pesquisas o telescópio Hubble consegue enxergar no máximo até 13,2 bilhões de anos-luz.Agora imaginem o quanto conseguiremos enxergar do Universo através do Telescópio Gigante de Magalhães,que poderá ver 10 vezes mais do que o Hubble.
As maravilhas do Universo ainda estão para ser descobertas,pois só descobrimos uma gota do oceano vasto que é o Cosmos.
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Mais ou menos. O Magellan vai ser 10x mais “potente” que o Hubble, mas não poderá enxergar além do universo observável, que hoje é estimado em 93 bilhões de anos-luz de diâmetro (46 bi a partir do observador, no caso, a Terra). Até o momento o Hubble conseguiu ver objetos entre 10 e 15 bilhões de anos-luz de distância. :)
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Mas tem o James Webb, que está previsto para ser lançado em 2018.
http://deviante.com.br/noticias/ciencia/nasa-espelho-hubble-telescopio-james-webb/
Vida longa e próspera.
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Tá, mesmo se tivesse oxigênio (tô falando de 70% N2 e 21% O2) e uma temperatura agradável (um pouco mais frio que os 2000ºC carioca), como fazemos com as “8x maior que a terra”? queria ver alguém tentar ficar de pé num lugar desses.
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