Senado aprova projeto de escravatura de bolsistas

Qualquer um que tenha dependido de bolsa vinda do Governo sabe a caca que é. Primeiro, conseguir a famigerada bolsa não é fácil nem é distribuído como bala em dia de Cosme e Damião (pergunte aos seus pais). Agora, um projeto espertão foi aprovado no Senado, ontem (11/11), que obriga os pobres coitados que vivem de mendicância governamental (se você não sabe o porque de “mendicância” procure saber quanto é uma bolsa de doutorado, para ter dedicação exclusiva, ou seja, sem mais nenhum emprego) a trabalharem para escolas públicas.

Hummmm, retribuir o Estado com serviços pelas benesses que recebeu… parece ser uma boa e justa ideia. Seria, se não fosse completamente imbecil!

O ridículo Projeto de Lei do Senado (PLS) 224/2012 obriga beneficiários de bolsas de estudos de programas da União foi ideia do Cristóvam Buarque, o mesmo que idealizou uma lei débil mental que obriga alunos da rede pública a assistir filmes nacionais e um Projeto de Emenda Constitucional (PEC) que visa incluir o direito à busca da felicidade na Constituição.

Pela lei, os escraviários bolsistas terão que colaborar com estabelecimentos públicos de educação básica, em que deverão “prestar serviços de divulgação, formação e informação científicas e educacionais em estabelecimentos públicos de educação básica”, com uma carga horária de, no mínimo, quatro horas semanais. Segundo  Cristovam, o objetivo da proposta é disseminar o interesse pelas ciências.

Então, deixe-me tentar entender. O bolsista, que tem que preparar sua pesquisa, escrever os relatórios, artigos, papers em geral, aturar maluquices dos orientadores e correr para dar conta de tudo AINDA terão que ir dar aula em colejão público, dar informações científicas e formar alunos? Eu não sei, mas isso seria até uma boa ideia. Não, não! É uma EXCELENTE ideia, Cristóvam…

SE NÃO EXISTISSEM PROFESSORES, ORA BOLAS!

Nosso querido senador Cristóvam Cândido, digo, Cristóvam Buarque acha que as criancinhas de colejão de educação básica estão doidas para informações científicas sobre Marte, Evolução Biológica, Química de Nanomateriais, Mecânica Quântica, Análise de Estruturas etc., certo? Sim, porque não faz o menor sentido um doutorando em Física ir lá mostrar que em um copo emborcado a água não entra por causa do ar preso no copo.

Querem melhorar o ensino, senhores senadores? Qualifiquem melhor os professores, decretem que pedagogas não possam mais lecionar Ciência, deixando isso a cargo de professores especialistas (aka, professor de verdade), pagando um salário decente a esses professores. Que tal, Cris? Não, né? Mais fácil achar que ficar nos laboratórios trabalhando não é trabalho nem produção científica. Produção científica é ficar falando sobre um trabalho que não está executando, né não, Cris?

No Brasil que odeia Ciência, ainda se vive em regime de Revolução Industrial, em que você quem que trabalhar 16h por dia, receber um salário ridículo e dar graças a Deus por ter um trabalho, mesmo que ninguém reconheça que você está trabalhando. Muito bem, senadores, muito bem.

Agora, esta babaquice vai pra Câmara dos Deputados, e o populismo hipócrita fará com que seja aprovado. Menos cientistas trabalhando, mais gente sendo xingada nos colégios. Mas que maravilha, valeuzão, Cris!


Fonte: Orthanc (Mordor é a Câmara dos Deputados)

12 comentários em “Senado aprova projeto de escravatura de bolsistas

  1. Fica escancarado como acham a pesquisa em si não é um retorno válido pra sociedade, mas o lerolero nas escolas é.

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  2. “Cabeça vazia, oficina do Capeta.” Não é esse o dito popular? Parece que o Deputado está com muito tempo livre para ter esse ideia ‘estranha’ (não tenho adjetivo melhor no momento). Não consigo sequer imaginar um doutorando pisando em sala de aula para fomentar ciência. Tive sorte de ter tido aula com uma bióloga e não pedagoga quando estava no ensino base. Aliás, olhando o ensino como está hoje, descobri que tive muita sorte mesmo. O Brasil é um barco furado mesmo. Que triste. :<

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  3. Então fazemos assim: vamos demitir pedagogos que dão aula de coisas que não são especialistas e contratemos professores de verdade. Exigir qualidade de ensino ao invés de manter professores apenas porque o MEC existe, arrumando mil e uma maneiras de aprovar os coitadinhos para mascarar a falência educacional de um país repleto de analfabetos e analfabetos funcionais

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  4. Cara, pior é que ainda defendo o Buarcão. Das possíveis lideranças, ele é a menos ruim. E mesmo com um estado mínimo com alguns defendem, ainda precisamos de uma cabeça no executivo.

    Esse projeto específico foi nada a ver com nada (cientista dando aula é uma tristeza na teoria e na prática), mas ele tem discursos mais relevantes dele em defesa da educação básica.

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