Olá amiguinhos(as)!
Seguindo a nossa pequena série de introdução aos estudos linguísticos, agora que a gente já viu um pequeno panorama dos estudos da linguagem, o que é e como se define língua e o que é fala e escrita, está na hora de embrenhar ainda mais no espinheiro: o que é gramática? (Não é só aquela da escola.)
Gramática vem do grego Γραμματικόσ [grammatikós], que significa aquele que sabe ler e escrever. Ou seja, o estudo da linguagem começou como um estudo da escrita, sobretudo da variedade escrita do grego antigo. Os primeiros gramáticos eram estudiosos que se debruçavam sobre a escrita do grego – e se preocupavam em "proteger" a língua das modernidades (é, Aldo Rebelo, não foi você o primeiro a ter a ideia de jerico de que a língua precisa de proteção). O Panini, que eu citei no meu primeiro artigo, também escreveu a gramática do sânscrito com o mesmo objetivo de preservar a língua (nesse caso por motivos religiosos).
Então, como vimos, a origem da gramática é a origem dos estudos de língua escrita com o objetivo de preservar a língua, de preferência prescrevendo o que era considerado pelo autor um "bom uso" e condenando um "mau uso".
Mas esse não é o único jeito de definir gramática. Com a linguística moderna, estudos de língua falada, correntes de estudo como estruturalismo e gerativismo (vou explicar isso com calma no futuro) começaram a dar outro sentido à ideia de gramática, mais a ver com "regras de uso e estruturação" e menos com "arte de ler e escrever".
Basicamente, em linguística, nós temos três definições de gramática:
1) a famigerada gramática tradicional: é a gramática que remonta aos hindus e gregos, que prescreve o "bom uso" da língua e condena o "mau uso". É a que a gente aprende na escola, e tem a ver com a padronização da língua escrita.
2) a gramática internalizada: basicamente, é o conjunto de regras que te permite usar a língua. É essa gramática que entra em ação quando você fala ou escuta alguma coisa na língua; são as regras que você tem na sua cabeça. Há discussões sobre até onde essa gramática é aprendida, se a gente já nasce com alguma coisa dela inata, se a gente precisa aprender tudo – e isso vai ficar pra qualquer dia desses. Mas basicamente, qualquer coisa que você diz, para ser entendida, precisa seguir as regras da gramática internalizada.
3) a gramática descritiva: como eu disse no primeiro texto dessa série, a intenção dos linguistas é tentar descobrir o que as pessoas fazem com a língua. Isso muitas vezes resulta em gramáticas descritivas, que são basicamente uma tentativa dos linguistas de descrever a gramática internalizada dos falantes de uma língua.
Ou seja, quando a gente fala em "gramática", precisamos especificar de qual tipo estamos falando. ^^
Por enquanto é só. Na segunda parte pretendo incluir partes de um texto do David Crystal sobre os problemas das abordagens tradicionais nos estudos da linguagem e dizer que inovações a linguística trouxe. Por enquanto, fiquem atentos às diferenças, amiguinhos(as)!
Para saber mais, tem um livrinho bem bacana do Mário A. Perini chamado Princípios de Linguística Descritiva – Introdução ao Pensamento Gramatical, editora Parábola. Logo no começo ele tem um bom capítulo sobre o que é gramática que é bem legal. Recomendo.
Outro livrinho indicado é o Novo Manual de Sintaxe, do Mioto et al, editora Contexto. O primeiro capítulo dele é uma boa introdução sobre o que é linguística e gramática.
São livros bem introdutórios, usados nos primeiros períodos da faculdade de letras, e não devem ser complicados para iniciantes (sobretudo porque você já está tendo uma ideia da coisa lendo meus textículos, amiguinho(a) =D )
2 comentários em “O que é gramática? (Primeira parte)”