Palavrões em outros idiomas que você nunca viu

Viagens de ônibus da casa pro trabalho e do trabalho pra casa são tediosas. A gente fica lá sentado (quando não fica em pé, rezando pra viagem terminar logo) e a mente vagueia. Alguns ficam no whatsapp, outros no facebook e alguns ficam dormindo mesmo, já que o trajeto é longo. Eu não fico no watzup nem no “feice”. De vez em quando, fico jogando, mas hoje estava com algum pensamento sem noção, como normalmente ficamos quando estamos entediados. Por algum motivo fiquei pensando em palavras.

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O que é sotaque?

Olá amiguinhos(as)!

A gente já viu muito sobre a fala e sua complexidade, mas ainda há muitas dúvidas sobre isso. E outro dia me deixaram encasquetada no twitter falando sobre sotaques. Então… Você sabe o que é sotaque?

Eu já disse que a primeira coisa que a gente aprende quando aprende a falar é a variante diatópica de lugar onde aprendemos a falar, ou seja, o dialeto. Isso inclui aprender as palavras e construções típicas dessa região, além da fonologia específica (por exemplo, se vai usar o "chiado" [o termo técnico é africada, em oposição às oclusivas, sem "chiado"] ao falar |tia|dia|). Mas o que mais faz diferença mesmo entre os dialetos e que mais "marca" a fala das pessoas é o sotaque.

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Sobre escrita e ortografia

Olá amiguinhos(as)!

Agora que nós já vimos que a língua é um fenômeno bem complexo, que apresenta variedades bem distintas e vários níveis de variação em diferentes graus, e não é muito bem definido cientificamente, podemos ver como isso complica na hora de padronizar o uso da língua.

Por que, afinal de contas, se ela é tão variável, como a gente consegue se entender de boa? E como a gente vai criar um sistema de escrita, que é infinitamente mais rígido e durável que a fala, de uma maneira que todo mundo entenda, mesmo que falem dialetos diferentes?

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O complexo fenômeno linguístico

Eu já disse nos textos anteriores que a língua é um fenômeno supercomplexo. Já disse que há, pelo menos, dois jeitos diferentes de se expressar linguisticamente – pela fala e pela escrita. Também já disse que há níveis de formalidade na fala e na escrita, salientando a questão da adequação. Vou falar mais sobre isso agora.

Na linguística, costumamos falar que a língua é um diassistema: um sistema de sistemas. Como assim, tia Bárbara? Eu explico. Cada "nível" linguístico de variação é um sistema em si, e todos juntos formam o fenômeno da linguagem.

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O que é gramática? (Segunda parte)

Continuando a nossa série de textos sobre estudos da linguagem, hoje vou falar um pouquinho sobre os estudos "tradicionais", ou seja, aqueles relacionados à primeira definição de gramática que eu dei no texto anterior (e se você não leu os textos anteriores, PARE AGORA! e só volte quando ler tudo. É importante seguir o raciocínio.)

Para falar dos estudos tradicionais, vou usar um texto do linguista britânico David Crystal, mais especificamente o segundo capítulo do livro A Linguística. Infelizmente não consegui uma versão digital do livro para linkar aqui (eu tenho um xerox desse texto que usei numa matéria na faculdade, traduzido para o português, aparentemente uma edição portuguesa.).

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O que é gramática? (Primeira parte)

Olá amiguinhos(as)!

Seguindo a nossa pequena série de introdução aos estudos linguísticos, agora que a gente já viu um pequeno panorama dos estudos da linguagem, o que é e como se define língua e o que é fala e escrita, está na hora de embrenhar ainda mais no espinheiro: o que é gramática? (Não é aquela da escola.)

Gramática vem do grego Γραμματικόσ [grammatikós], que significa aquele que sabe ler e escrever. Ou seja, o estudo da linguagem começou como um estudo da escrita, sobretudo da variedade escrita do grego antigo. Os primeiros gramáticos eram estudiosos que se debruçavam sobre a escrita do grego – e se preocupavam em "proteger" a língua das modernidades (é, Aldo Rebelo, não foi você o primeiro a ter a ideia de jerico de que a língua precisa de proteção). O Panini, que eu citei no meu primeiro artigo, também escreveu a gramática do sânscrito com o mesmo objetivo de preservar a língua (nesse caso por motivos religiosos).

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O que é língua?

Nos textos anteriores da nossa pequena série introdutória aos estudos da linguagem, eu saí pela tangente no que diz respeito à definição de língua. Eu disse que língua é o "objeto" de estudo da linguística (aspas porque a coisa é mais complicada que isso; como eu disse na Introdução, a gente recorta várias coisas diferentes dentro do supra-fenômeno língua e cada um desses pedacinhos é o objeto de estudo de uma corrente de estudo diferente) e eu também disse que língua deveria ser mais associado à fala e não à escrita.

Pois, agora, eu vou me embrenhar no espinheiro e falar sobre como é difícil pra caramba definir o que raios é língua.

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Qual a relação entre fala e escrita?

Você me pergunta, "tia Bárbara, por que todo mundo falou bobagem na polêmica do livro didático que falava sobre preconceito linguístico"? Eu respondo: porque nós somos impregnados pelo senso comum. E o grande problema do senso comum na linguística é: nós confundimos fala e escrita. E por que nós confundimos fala e escrita? Porque antigamente nós só podíamos estudar a escrita. Antes da invenção do gravador a gente não tinha como capturar e analisar língua falada, só língua escrita, e era assim que a gente fazia. E todas as gramáticas e estudos feitos até meados do século XX foram feitos em cima de língua escrita.

Mas a língua escrita é MUITO diferente da língua falada.

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Pequena Introdução à Linguística

O que é língua? O que é linguagem? O que é gramática?

Essas são algumas perguntas que a linguística se faz.

A linguística só foi se definir mesmo como ciência com a publicação (póstuma) do Curso de Linguística Geral, de Ferdinand de Saussure, em 1916. Não é que não se estudava a língua ou a linguagem até o início do século XX… Estudava-se e MUITO. Os gregos antigos e os hindus antigos já eram bastante curiosos sobre o fenômeno da linguagem. Uma das primeiras gramáticas conhecidas foi escrita por Dionísio Trácio. Gramática, em grego, significava basicamente saber ler e escrever. Antes de Dionísio, Panini já tinha escrito uma gramática do sânscrito.

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