O pálido ponto azul revisitado

A espaçonave está muito longe de casa. Talvez fosse uma boa ideia, lá pelas bandas de Saturno, fazer ela dar uma última olhada para casa. A minha casa, a sua casa, a casa da espaçonave e de quem a projetou. Ninguém esperaria ver grandes detalhes, nem era este o objetivo. Era uma forma de reconhecer a grandiosidade de um humilde pálido pixel azul. Um pixel que conhecemos desde os tempos de Carl Sagan, quem escreveu a primeira versão das linhas que você leu até agora, neste texto.

O que você vê aqui é o pálido ponto azul fotografado pela sonda Voyager, em 14 de fevereiro de 1990:

Em termos de Ciência, 23 anos é uma eternidade. Em termos de desenvolvimento tecnológico, é um número de Avogadro de eternidades. Conseguimos tanto nestes 23 anos e ainda parece termos tanto para fazer, para construirmos… e não apenas com relação a máquinas e apetrechos, mas construirmos com relação a nós mesmos.

Não estamos mais presos à Terra para vermos tudo. Construímos máquinas diferentes, muitas vezes deslocadas num vazio interplanetário, mas nunca sozinhas. Essas máquinas fazem de nossas forças as suas e nós fazemos de suas forças, as nossas. Elas veem o Espaço através de olhos que lhes demos e nós vemos as maravilhas do Universo com os seus olhos. Homem e máquina são um só, e não poderia ser diferente com a sonda Cassini-Huygens, sobre a qual sempre falamos pelas terras de cá.

Quando os cientistas da NASA apertaram os botões, a sonda que orbita  o Senhor dos Anéis olhou para casa e bateu a foto de nós, todos nós, todos os quase 7 bilhões de seres humanos… e estamos ali, num único pixel:

Esta manchinha está borrada por mero efeito de óptica, com pontos "estourados".A bem da verdade, a foto real nem é essa. São várias fotos tiradas em diferentes comprimentos de onda, processadas e colorizadas pelos computadores da NASA, mas isso de nenhuma forma retira a beleza da foto e de sua significância.

Ampliando esta maravilha, vemos a Terra e a Lua:

Uma imagem tão borrada, mas de enorme significância. Claro, nem todo mundo dará valor a isso, preferindo as "maravilhas" que encontram por aí. Esta foto, para mim, mostra como chegamos tão longe, em todos os sentidos. É um instantâneo de nossas vidas, de como vivemos um presente incrível, mesmo quando eu tiro os olhos do computador e observo o mundo pela minha janela.

Não vivemos o futuro, outros fizeram isso, quando Kepler calculou e estabeleceu todas as suas leis, apenas olhando para cima, sem um telescópio sequer, usando a matemática que se aprende no colégio, mas não se aprendeu a usar eficientemente. Galileu viveu no futuro e nós hoje ainda lutando contra doenças da Idade Média, ainda perdendo vidas para mosquitos e micro-organismos nadando felizes em água parada.

Olhar para uma foto assim me inspira, me alegra e me aquece neste dia frio. Justifica cada centavo gasto na pesquisa espacial, enquanto visitas de chefes religiosos só servem para trazer caos numa cidade já caótica, derrubando centenas de árvores para, no final, o palco não ser usado por causa dos caprichos da Mãe Natureza…

A mesma Natureza que abriga o Senhor dos Céus, seus filhos e uma tímida máquina feita por pessoas que acharam que não basta saber o que se sabe. Sempre pode-se aprender mais um pouco. Pessoas a quem devemos agradecer por ter-nos propiciado as belíssimas fotos acima.


Fonte: A mãe da criança

2 comentários em “O pálido ponto azul revisitado

  1. Nessa foto é difícil dizer o que é mais impressionante… os anéis de Saturno ou a Terra. Incrível imaginar que naquele ponto distante estamos nós.

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