As luas de Plutão ou Astronomia Shakespeareana

Plutão é como aquele primo que mora no subúrbio: é simpático, mas ninguém liga muito pra ele no dia-a-dia, e pouca gente só lembra que existe na hora de pagar de bom moço. Convenhamos, Plutão só ficou em voga depois que foi reclassificado como planeta-anão (veja aqui por que). A vaidade, meu pecado favorito, chegou ao cúmulo de Plutão ser considerado planeta por lei estadual do governo de Illinois, nos EUA.

Agora, com a descoberta de satélites naturais em Plutão, há uma série de decisões a serem tomadas, como dar nomes a eles, por exemplo.

Muitos nomes estão sendo sugeridos. Entre eles está "Mickey", por causa da referência óbvia ao personagem de Walt Disney, lembrando que o cão Pluto não teve seu nome traduzido para o português. A bem da verdade, o cão do Mickey foi criado no mesmo ano da descoberta do  planeta, como uma homenagem a Clyde Tombaugh, o descobridor de Plutão e cuja biografia completa pode ser lida na Wikipédia lusófona. Aliás, sempre achei interessante a total falta de cultura da direita religiosa dos EUA por nunca terem se apercebido que o nome do lindo cãozinho do Mickey diz respeito ao Senhor do Submundo, pois Plutão é o equivalente romano ao deus Hades, que muitos idiotas associariam a o Diabo, pensando que as profundezas do submundo seriam o Inferno (apesar de estarem quase certos, já que o submundo compreendia não só o Tártaro como o "Paraíso"). Assim, nunca entendi como nunca usaram isso para "provar" que Walt Disney era satanista.

O SETI organizou um concurso para as pessoas escolherem um nome para a lua de Plutão (EU SEI que Lua só existe uma, a nossa). Tentaram emplacar Mickey, mas este nome não atende a certas especificações, como ser relativo a uma entidade mitológica romana. Da mesma forma, não poderia ser "Jesus", pois, apesar de mitológico, não é romano também.

Então, entrou em cena William Shatner, o eterno sargento T. J. Hooker (o que leva os criadores de uma série batizar um policial de "Prostituta" é algo que escapa à minha compreensão). Seus fãs ajudaram a escolher o futuro nome do satélite de Plutão, e o nome escolhido foi: Vulcano, o poderoso deus do fogo e lava, ferreiro de Júpiter, seu pai, mais feio que a necessidade e roxo como a cara da Rihanna depois de uma noitada com o Chris Brown.

É muito óbvio o motivo de escolherem este nome para o satélite de Plutão, mas é meio fora de propósito por vários motivos. Gene Roddenberry escolheu este nome para o planeta de Spock dada as características do planeta-natal do orelhudo: quente pra cacete. Associar isso a um satélite de algo que nem planeta é mais, lá no campo de várzea do Sistema Solar, é meio esquisito por ser gelado, escuro e desolado. Em segundo lugar, é um satélite, nem mesmo é um planeta! Seria mais o caso de usar este nome para batizar ume exoplaneta, e isso é o que não falta. O mais lógico seria a segunda opção escolhida na votação: Cérbero, o cão tricabeçudo que guarda o submundo e impede que os mortos fujam de lá.

Mas a iniciativa é válida. Faz com que as pessoas se interessem mais por astronomia e participem mais de decisões, mesmo que pareçam ser inócuas, mas é legal participar de coisas assim. Mais divertido que votar em quem vai pro paredão no BBB. Pois Bog Brothger tem todo ano e ninguém es lembrará em quem votou no ano seguinte. Mas participar da escolha do nome de um satélite de um planeta é diferente, pois quando você pegar cartas astronômicas, softwares ou livros, verá o nome que você escolheu ali, mesmo que seus netos digam "meh". Ainda assim, você fez parte de algo, não apenas por causa de um nome. Pois se uma lua deixar de se chamar Vulcano, e sim Rômulus, não será menos lógico.

10 comentários em “As luas de Plutão ou Astronomia Shakespeareana

  1. Ô André!! Vc acabou de dar ideia errada pros caras :shock:

    Agora basta esperar a predição óbvia: Atualização dos sites ‘provando’ o satanismo da Disney em 3…2…1….

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  2. Essas votações nem sempre acabam bem.O que dizer do planeta anão Eris,que antes de se chamar assim, foi batizado com o nome de Xena,em homenagem a personagem de um seriado de TV.

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  3. Eu tenho aqui em casa um livreto que veio de brinde da Scientific American: “Mensageiro das Estrelas”, de Galileu Galilei.

    Comprei recentemente uma câmera com um zoom bizarro, apontei pra Lua e lembrei logo do livro, com Galileu descrevendo as crateras, suas observações sobre o que ele descobria ao longo das fases da lua, etc.

    Tirei algumas fotos interessantes, daí olhei em volta e avistei Júpiter. Resolvi apontar para o planeta, achando que ia ver mais um ponto sem graça e quase tive um troço quando vi quatro pontinhos em torno do planeta. As “estrelinhas” cuja observação Galileu descreve em seu livro.

    Nunca consegui uma foto boa do planeta (sempre um borrão de formato circular), mas a imagem das luas galileanas rendeu muita discussão astronômica lá no trabalho.

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    1. @Magno, O problema dessas maquinas é que com o zoom digital você tem uma perda da resolução proporcional ao aumento que você consegue.Para se ter uma boa imagem,deve-se usar maquinas com lentes cambiáveis(no caso,uma teleobjetiva),ou colocar a máquina sem lente na ocular de um telescopio,usando um adaptador.

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      1. @Ale, eu não utilizei zoom digital. A SX 50 (minha primeira câmera, fora o celular) tem um zoom ótico de 50 vezes. Pus ela em um tripé e consegui fazer as fotos da Lua e de Júpiter com boa resolução.

        No caso de Júpiter, faz-se necessário um enquadramento e um “zoom digital” na hora da edição, pois as luas tem poucos pixels de diâmetro.

        Não comprei uma profissional, com lentes cambiáveis, pois teria que comprar o corpo da câmera e mais algumas lentes. É um investimento de pelo menos uns 5 a 6 mil reais. A SX 50 atende às minhas necessidades.

        Para fazer mais essa brincadeira, de fotografar corpos celestes, eu teria que ter a câmera profissional, um telescópio robotizado (para acompanhar as estrelas), o adaptador da objetiva e o suporte para prender a câmera no bicho sem quebrar o adaptador.

        Inviável investir num equipamento desses (no Brasil), a menos que eu fosse Astrônomo.

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